Prólogo

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Por séculos as constelações contemplaram a ascensão da humanidade. Testemunharam povos errantes ao explorar as planícies de Alegor, conquistar as montanhas de Ijhaha e reivindicar as trilhas arenosas de Deserta. Reis e reinos ergueram-se e desmoronaram no mundo antigo enquanto eras de trevas cediam espaço a povos, culturas e tradições.

Porém, ao longo das décadas, teias de intriga se formaram entre os reinos. Guerras e disputas varreram os continentes. A humanidade se perdia em sua ignorância, com sangue inocente manchando seus pés e mãos. Em resposta, uma intervenção se fez necessária.

Como uma chuva de fogo e luz as Auroras desceram dos céus, trazendo conhecimento, poder e propósito aos homens e mulheres dignos de tal missão. Assim surgiram os primeiros Regentes. Seus descendentes, chamados de filhos e filhas da luz herdariam o mesmo destino: tecer os fios do futuro, trazer ordem, equilíbrio e paz às gerações seguintes.

Essa era a história que Aristheu contava a Éden nas noites tempestuosas, quando as estrelas não podiam ser vistas. Seu pai sussurrava cada palavra com tamanha delicadeza que Éden as imaginava frágeis como vidro, prestes a quebrar se pronunciadas em voz alta.

E assim se fez.

Enquanto a herança dos salvadores do mundo era esquecida, reuniões políticas se desenrolavam diante dos tronos e as crises se propagavam como uma praga insaciável além das fortalezas e muralhas. Não havia ordem entre as nações, não existia equilíbrio entre os céus e a terra e a paz entre os reinos passou a ser apenas uma ilusão. Uma verdade ocultada sob os adereços dourados e sedas carmesim que adornavam portos, ruas e residências durante as festividades. Uma artimanha para desviar os olhares indesejados do povo, suas críticas e rebeliões. Negar esses fatos cobraria seu preço, mais alto do que qualquer um poderia estar disposto a suportar. Contudo, alguém o faria.

De uma forma ou de outra.

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