XXI - Confidências

4 1 0
                                    

A associação de Éden à Corte dos Assassinos foi apontada como uma loucura feita em um momento de fraqueza. Petras incendiada, a ameaça de Theriakin rondando sobre a cabeça de todos os líderes e uma órfã testemunha sob seu teto. A insatisfação do Conselho dos Mestres era clara: Ghris não era lugar para mulheres. Quando Éden descobriu o motivo, quase devolveu seu jantar sobre a mesa do escritório de Griffyn.

Em um piscar de olhos, Éden não os servia mais. Restava a ela o enforcamento na frente de toda Ghris se Griffyn não estivesse lá novamente. Ele foi a calmaria que se instalou em seu ser após o realocamento de Aren para sua terra natal. Mas a história voltou a se repetir. Nessa versão, Griffyn a abandonava e quem estava lá para evitar sua morte prematura era a mais improvável das pessoas.

Kain tinha razão e Éden odiou pensar que poderia se tornar um hábito. Membros da realeza estrangeira não se hospedavam em Ghris e mercenários não eram vendidos a eles. Alore não a queria. Ela era inimiga de Theriakin tanto quanto o reino poderia ser dela. Fosse qual fosse o acordo que Johan havia feito com Archer, outra coisa havia influenciado Kain a querê-la.

As pessoas encapuzadas em seus sonhos continuavam chamando por ela e pela primeira vez, Éden os ouviu sussurrando a luz do dia. Uma calma gelada se infiltrando em seu coração, substituindo todas as outras emoções por algo mais sombrio, mais resoluto. Encolhendo os ombros, ela estremeceu involuntariamente.

— Está com frio? — perguntou Kenneth ao se aproximar. Uma maçã em cada mão e um sorriso no rosto. Ele ocupou o lugar vago ao lado dela, mordeu uma das frutas e lhe ofereceu a outra. Éden aceitou, retribuindo o sorriso que não chegou aos seus olhos. Passou a maçã de uma mão para outra repetidas vezes, olhando para a casca vermelha brilhante e ruminando seus pensamentos.

Depois de dar as costas a Kain e sair do refeitório, Éden esperou por um ataque surpresa dos guardas e que correntes fossem postas em seus pulsos. No entanto, ela continuou seu caminho sem nem ser encarada. Passou as duas horas seguintes caminhando ao redor do palácio, sondando os muros que o protegia, as defesas que possuíam e os recursos que usariam para abatê-la pois ela estava ferrada. Seus planos incluíam escaladas no meio da noite, saltos entre torres e corridas a toda velocidade para fora Theriakin. Isso não ia acontecer.

Os muros foram construídos com pedra lisa e não possuíam rachaduras grandes o bastante para apoiar os pés e mãos para uma subida eficiente. Além dos muros, seiscentos metros de jardins separaram os postos de vigia e portões das torres do palácio. Um salto e ela conseguiria no máximo atingir os canteiros de rosas abaixo de suas janelas. A troca de guardas do meio dia tinha durado trinta segundos. Mesmo que ela tivesse todos os outros fatores a seu favor, correr até os muros, escalá-los e chegar ao outro lado era impossível.

Éden suspirou, o calor incomum arrastando-se em suas veias, as vozes chamando por ela. Ela tinha que sair dali. Não interessava como, apenas tinha que se afastar.

— Lin me contou o que houve no refeitório. Não se preocupe com Lars, ele ladra mais do que morde — disse Kenneth.

— Aconteceria uma hora ou outra. — Ela girou a maçã novamente. — Devo estar entrando na lista negra de alguém nesse exato momento.

— Se esse alguém for corajoso o bastante para escrever seu nome em uma e arriscar que a Mercenária de Ghris entre em seus aposentos durante a noite e corte suas gargantas — contou Kenneth em tom dramático, digno de uma peça de teatro. Ou um conto de terror para as crianças.

Éden soltou uma risada amarga. Era o que todos contavam sobre a Corte das Águias. Um ântro de espiões, mentirosos e assassinos sanguinários. O que Kain os acusou de ser e tudo o que ela nunca conseguiu se tornar.

Solstícios de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora