XV - Maus Presságios

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Eden seguiu Kain por várias áreas do castelo até os sinos das torres anunciarem o horário do almoço. Não demorou muito para serem encontrados no jardim por um dos guardas de Griffyn. Quase sem fôlego, provavelmente por procurá-los por todos os cantos do castelo, ele comunicou o início da última reunião que o príncipe deveria comparecer antes que retornasse a suas terras.

Levada de volta a ala dos soldados, as quatro paredes do quarto de Eden se tornaram sua cela particular enquanto o castelo era palco de encontros entre os reinos de Alore e Alemar. Proibida de colocar um pé do lado de fora, ela permaneceu sentada sobre o colchão macio, olhando a parede à sua frente quase que obcecadamente. A claridade entrando pelas janelas moveu as sombras pelo espaço centímetro por centímetro. O rangido da porta se abrindo a puxou de seus devaneios. Logo ela reconheceu a figura que entrava pela segunda vez sem ser convidada.

— Por acaso suas mãos estão quebradas? Parece ser difícil para você bater. — ela semicerrou os olhos para o guarda. Seu nome escapava de sua memória, e, francamente, ela não se importava em tentar lembrar dele.

— Acho que a senhorita ainda não foi informada dos meus deveres. — Levando as mãos às costas, ele ergueu o queixo e inflou o peito. — Estou encarregado de escoltá-la.

Eden torceu o canto dos lábios.

— Deixe-me adivinhar. Griffyn?

— General Deviers — corrigiu ele com um tom amargo, sem desviar os olhos da comoção de passos e corpos que iam e vinham pelos corredores.

Exceto por suas origens, Griffyn a conhecia como ninguém. Se ele tivesse suspeitas de que ela seria de alguma forma perigosa para Kain, não hesitaria em atar seus pulsos até que estivesse inteiramente sob a responsabilidade do príncipe de Theriakin.

— Apenas por curiosidade, o que Griffyn acha que eu faria? — perguntou ela com um sorriso irônico. — Seduziria o príncipe até aqui e o jogaria pela varanda?

— Não seria nenhuma surpresa se tentasse — debochou o guarda antes de se voltar para ela, observando-a como se encara um inseto insignificante preso em uma jarra. — Afinal, ameaçar esquartejar pessoas parece ser um hobby seu.

— Ócios do ofício — ela sorriu e ponderou por um momento se deveria continuar a provocação. Grande parte daqueles na Corte sabiam de suas limitações, mas ninguém poderia dizer que Eden era incapaz de se defender ou causar dor em alguém. Ela ainda não sabia até que ponto poderia chegar antes de acreditar que tinha ido longe demais, mas não estava disposta a passar da teoria para prática e se dependesse de sua mente para dar ela o alvará, nunca estária.

A comoção se aquietou poucos minutos depois. Por fim, o guarda se moveu de seu posto.

— A propósito, meu nome é Emill.

...

Eden foi levada de volta à sala do trono, mas dessa vez como parte do reino de Alemar. Entre os membros reunidos ali, três rostos lhe eram familiares. Haill, Eimos e Hawk a encaravam constantemente sem disfarçar a surpresa e a desconfiança que agora era justificada, mas o quanto lhes foi dito sobre sua situação, ela não sabia. Não que fizesse diferença, pois logo estaria quilômetros longe de todos eles.

Por duas longas horas de discussões políticas, Eden permaneceu em um canto do salão sob vigilância, constantemente instruída pelos homens de Kain a manter-se em silêncio. Arrepios percorriam sua espinha, desde a nuca até a base da coluna. A mesma sensação estranha que enlaçou seu coração e embrulhou seu estômago no dia em que um desconhecido surgiu na taverna de Gwyn. Passando um olhar pelo ambiente, esperava encontrá-lo em algun canto escuro, mas tudo estava como deveria estar.

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