XI - Limites Incomuns

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Os dias seguintes correram apressados. O sol brilhava mais forte, porém não havia calor suficiente para aquecer a pele de Eden. Eden sentia-se doente. Uma sensação constante de ser devorada de dentro para fora tomava conta de si no momentos mais inoportunos. Não comia direito desde a conversa com Griffyn e duvidava que pudesse manter qualquer coisa sólida no estômago por muito tempo.

"Theriakin."

Eden quase cuspiu o nome sobre o prato no jantar da noite anterior, impedida pelo olhar de Griffyn, observando-a exageradamente, ainda que ambos estivessem em lados opostos do refeitório das tropas. E como se não bastasse, o conflito na taverna de Gwyn trouxe suas consequências.

— O que? — Sentada no gramado do jardim principal, Eden jogou o corpo para trás, apoiando seu peso nas mãos. — Eles começaram e eu que sou expulsa?

— O que fez atraiu vários Antares para as proximidades do Beco de Ambrase — Can fez o mesmo, apoiando-se sobre os antebraços e olhando para o céu azul. — Gwyn está furiosa. Você sabe que muitos dos clientes dela eram fugitivos da guarda.

— Não foi minha intenção prejudicá-la — disse ela, arrancando folha por folha do gramado abaixo de saus pernas e jogando-as para o lado. Pensava nas poucas opções de fugas ocasionais, restando-lhe a torre de observação abandonada, nos confins do castelo e os estábulos.

— Agora o estrago já está feito — suspirou Can sem se mover de sua posição. — Antares não são diretamente comandados por meu pai, mas mesmo ocupado com as demandas do exército, as notícias dessa briga logo chegarão aos ouvidos dele. Ele não pode fazer muito, mas esteja preparada. Então espere a poeira assentar e poderá se desculpar com Gwyn.

Eden concordou com um grunhido insatisfeito.

Logo Griffyn se fez ausente e com ele, seu filho. Convocado para uma viagem de última hora em prol de seus estudos, Can deixou apenas um bilhete sobre a cama de Eden, prometendo retornar a tempo do Festival de Verão. Dessa forma, Eden se viu dormindo até tarde, almoçando sozinha, treinando até depois da lua atingir o pico no céu sem nuvens e indo para a cama de estômago vazio. O silêncio da noite envolveu seu quarto, interrompido somente pelo farfalhar das folhas do lado de fora de sua janela e pelos murmúrios distantes do castelo.

O Festival de Verão se aproximava, mas sua preparação solitária a incomodava. Eden continuava a ser alvo dos constantes olhares acusatórios de Finn, o que não a surpreendia dado seu envolvimento nos boatos que circulavam sobre ela. Os cortes no braço do soldado em treinamento e o hematoma no canto da boca eram evidências físicas que corroboravam com o que Gwyn já suspeitava. Quando confrontado, Finn não negou sua participação.

Passava das duas da manhã e o castelo transformou-se em um cemitério de portas fechadas e quartos vazios. O silêncio era tão denso que ela jurou ter escutado os passos de uma aranha que subia pela parede na entrada do campo de treinamento. Eden se dedicava a um jogo solitário, evitando as rachaduras no chão de pedra dos largos corredores qaundo vozes ecoaram pelas paredes. Os sussurros tornaram-se mais claros à medida que se aproximaram. Abandonando a brincadeira infantil, Eden correu para as sombras dos pilares e pressionou as costas contra as pedras frias, aguçando os ouvidos.

— Admita que foi por isso que a trouxe aqui — disse a primeira voz, rouca e fraca como a de um idoso.

— Você não sabe do que está falando. — Eden reconheceu a segunda voz como sendo a de Griffyn.

— Sabe o que acontecerá se a questão não for resolvida.

— São poucos os que sabem e enquanto continuar assim estaremos seguros. Isso não está aberto à negociações — enunciou Griffyn com impaciência.

Solstícios de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora