Quandos as luzes se apagam.

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Elliot's POV.

Eu ainda estava impressionado com o quanto os dois se isolavam do mundo exterior. Era como se eles tivessem seu próprio mundo e não ligassem para o resto, era fascinante, e me lembro da primeira vez que ouvi a voz de Agnes, a irmã, lembro de sua voz ecoar na minha cabeça pelo resto do dia, como uma daquelas músicas que você escuta no radio, mas sente vergonha de ter decorado toda a letra. Você sabe muito bem do que eu estou falando.

- Maddox, me devolva isto agora! - Ela esticava seus braços tentando alcançar o pequeno diário que havia nas mãos do garoto, porém sem sucesso.

- O que eu ganho com isso?

- Dane-se, eu cretino! - Ela bufou e foi embora, deixando o garoto rindo sozinho ali em pé, em frente da casa dos dois.

Me chamo Elliot Campano, tenho 29 anos e nenhum rumo na vida. Que belo protagonista, não é mesmo? Já faz meses e meses que tento fazer que meu livro seja publicado e nada. Talvez eu esteja destinado ao fracasso mesmo. Talvez eu deva voltar para a fábrica do meu pai. Mas essa não é a questão... Vocês devem estar querendo que eu conte toda a minha história com os dois irmãos, não é mesmo? Não é uma história feliz, bom... não totalmente. Ainda sim vocês querem que eu a conte? Está bem.

Me aproximei primeiro do irmão. Lembro de uma vez que estava saindo de casa e fui abordado por ele, me perguntando de lugares bons para ir de noite. Confesso que fiquei surpreso, afinal, quem pediria conselhos para um velho como eu? Mas o respondi de qualquer forma, indicando alguns lugares que eu ia quando estava para baixo. E ele me fez prometer que o levaria nesses lugares no próximo final de semana, mas não botei fé. Eu achei que no dia seguinte ele já esqueceria, mas isso não aconteceu. Ele me cobrou e pediu para que eu o levasse para o clube.

Apesar do nome sugestivo, "Hell" é um dos melhores clubes aqui da região e de inferno não tem nada. E como havia sido combinado, às oito horas da noite eu estava em frente à casa dele, tocando a campainha e esperando que ele já estivesse pronto. E foi nesse dia que eu conheci a irmã. Ou melhor, conversei com ela.

- Por que você tem de ir? Fique em casa! - Ela esperneava enquanto segurava o irmão pela manga do casaco.

- Hm... Cara, você pode aguentar alguns minutinhos até eu resolver isto? Não demoro.

E eu fiquei ali, do lado de fora, com a porta aberta. Maddox arrastou a irmã, cujo nome eu ainda não havia descoberto até as escadas e disse algo em um tom raivoso, isso era claro pela sua expressão facial.

- Pronto, já podemos ir. - E ele então me arrastou pelo braço, ainda bravo com a irmã, que gritava seu nome do lado de dentro da casa.

Sair com alguém mais novo do que eu já era uma cena estranha, e o fato da irmã ser uma completa lunática (ou ao menos aparentar) só me deixava mais receoso em sair com aquele moleque.

De qualquer forma, acabei saindo. Fomos para o Hell, e por uma noite esqueci de todos os meus problemas. Mas mal sabia eu que a partir daquele dia, estava ganhando novos. Deixei o moleque em casa, a irmã estava dormindo no sofá, provavelmente esperando ele voltar. Cheguei até a ser convidado a dormir na casa dos dois, mas achei melhor não, vai que ela me acordasse com uma faca em meu pescoço?

- Então a gente se fala depois? Peguei teu celular, qualquer coisa, eu te ligo, então?

- É, pode ser. - Eu disse da forma mais sem graça o possível. Será que esse guri não percebia o quão estranho isso soava?

- A gente se fala depois então... Boa noite! - E então ele fechou a porta, e eu acendi um cigarro, já voltando para casa.

É, festejando com adolescentes.

Você já teve dias melhores, Elliot Campano.


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