God save the Queen.

2.6K 254 27
                                    

Quando você vê alguém com a aparência de Agnes, você só pode esperar que sua personalidade seja igualmente doce, certo? Errado. Quando acordei me deparei com duas ligações perdidas de um número que eu não reconheci, resolvi ligar para o tal número e descobrir quem é que estava me acordando às 8 da manhã, provavelmente para nada. E foi aí que eu descobri que de doce aquela menina não tinha absolutamente nada.

- Oi? - Uma voz feminina atendeu o telefone e eu estranhei.

- Me ligaram desse número. De quem é esse telefone?

- Não acredito que o meu irmão fez isso. Maddox! - Ouvi ela berrando do outro lado da linha e tive que afastar o celular por alguns segundos. - Não fale mais com o meu irmão. Está bem?

- ... Por que?

- Só não fale. Você é velho, e isso é estranho. - E então ela simplesmente desligou na minha cara, sem mais explicações.

Mas em parte, eu concordo com ela. Eu tenho quase trinta anos e eles devem ter o que? Vinte anos? No máximo. Isso é errado e definitivamente eu seria preso se me vissem andando com duas pessoas da idade deles na rua. Se bem que eu não estou fazendo nada de errado. Consciência limpa, Elliot. Você consegue. Você não está fazendo nada de errado, cara.

Dois dias se passaram e eu evitei ligações de Maddox. Não queria me envolver com eles e por mais que ele tentasse, não entraria nessa confusão. Eu estava cheio de problemas no meu trabalho e apenas isso bastava.

Eu trabalho em um jornal, caso eu não tenha mencionado antes. Não é exatamente o emprego dos meus sonhos mas já dá pra pagar as contas e isso é o suficiente. Eu achei que finalmente tinha me livrado de todos os problemas existentes, mas foi aí que eu o encontrei pessoalmente, e não pude escapar.

- Por que você tem ignorado as minhas ligações? - Duas velhinhas que passavam por perto me encararam da forma mais estranha o possível.

- Eu... Vem aqui. - O puxei pelo braço até um canto e tentei me explicar. - Olha, eu não acho que "isso" vai dar muito certo. Eu não devo fazer amizade com alguém da sua idade, eu tenho idade pra ser teu tio.

- Foi a minha irmã, não foi? Ela que obrigou você a parar de falar comigo, né? Sabia!

Elliot Campano causando discórdia entre irmãos, perfeito.

- Saia comigo, vamos beber um pouco. Só para ficarmos quites.

- Mas você não me fez nada.

- Mas a minha irmã sim. Por favor, me deixe te pagar uma bebida. - Ele pegou no meu braço e aí sim que as pessoas começaram a olhar realmente torto para nós dois e fui obrigado a aceitar o convite.

- Certo, certo! Só... Me solte, as pessoas podem pensar algo errado de nós dois aqui na rua.

- Ah... Foi mal. - Ele bagunçou os cabelos. - 21h?

- Pode ser. - Disse meio seco.

E então ele sorriu, indo embora para a sua casa e eu para a minha. Aparentemente, eu tinha um encontro com um rapaz mais novo que eu. Meus dias tem ficado cada vez mais estranhos.

Eu tentei não me arrumar muito. Essa merda não era um encontro, não para mim. Coloquei uma calça jeans preta, uma jaqueta de couro e uma camisa dos sex pistols. Modéstia parte, eu estava bonito.

Nove horas em ponto eu estava em frente à casa dos dois. Quando ele saiu, não estava tão diferente de mim, usando uma camisa qualquer, tenis all star, porém a única diferença era que ele estava usando uma bermuda jeans e uma jaqueta jeans, com o simbolo do anarquismo nas costas.

- Anarquismo? - Eu disse num tom de deboche.

- Hm, sim. Era da época que eu era mais novo, mas nunca joguei fora.

- Isso explica. - Sorri para ele e continuamos andando.

Maddox é um garoto legal, tem dezenove anos.

Dez a menos que eu.

Isso continua sendo bem estranho.

Fomos para um bar de esquina, um daqueles que você se recusa a acreditar que está indo, mas vai mesmo assim e ficamos conversando sobre a vida dele até de madrugada. Só paramos de falar quando o telefone dele tocou e era Agnes ligando.

- Com licença. - Ele se levantou e foi atender. - Preciso ir.

- Te levo em casa.

Quando chegamos até sua casa, a garota estava em frente da porta, com os braços cruzados, vestindo uma camisola. A sua expressão facial chegava a ser hilária de tão raivosa. Realmente não entendo o problema dela comigo. Aliás, será que é comigo ou com todos que se aproximam de seu irmão?

- Maddox, entra. Agora.

- Mandona pra porra. - Ele me encarou e acenou com as mãos. - A gente se fala depois, cara?

Assenti com a cabeça e então ele entrou para dentro de casa.

Eu precisava entender aquela garota. Urgente.

Animal InstinctOnde histórias criam vida. Descubra agora