As luzes me cegam (E me fazem enxergar).

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"Esse é o registro de número... Em qual número estamos mesmo? Acredito que tenha até mesmo perdido a conta desde a vez em que relatei estar com Maddox. As coisas andam... Turbulentas, por assim dizer. Não, não. Não é por parte dos irmãos, não necessariamente. Minha relação com Maddox está boa, e a tempestade na minha relação com Agnes pareceu melhorar, mas há um grande problema nos cercando desde a última vez que falei com vocês. Luda. Luther Schnetzer e provavelmente o garoto mais mimado, problemático e insano que conheci. Preciso me explicar, pois não o mencionei muitas vezes aqui, até mesmo por achar que ele não passaria de um adolescente mimado comum, mas eu estava terrivelmente enganado.

Faz aproximadamente três dias que seus amigos me espancaram em sua festa. Um por um, chutes, socos, cuspes... Finalmente pude entender enfim como Maddox se sentiu em sua vida, finalmente pude compreender que não seria tudo flores e que nem todos aceitariam o meu novo status social. A intolerância é algo doentio, e que para mim, honestamente... Não faz o menor sentido. Confesso que nunca havia parado para pensar nos possíveis problemas que uma pessoa de orientação sexual considerada "diferente" pelos outros passava, pois eu nunca liguei para isso, e nunca tampouco imaginei que eu estaria redescobrindo esse meu lado, depois de anos negando qualquer possibilidade de me envolver com um homem. Estava errado.

Não é a parte física que dói mais. É ser tratado como um animal de circo, sendo punido por não fazer o que os outros querem. Se esse pensamento soou confuso, irei explicar. Pegue o exemplo do elefante. Eles tem sua própria natureza, que não se adéqua ao circo. Ele não nasceu para realizar truques bonitinhos e andar em círculos, fazendo dancinhas. Mas mesmo assim, um treinador com um chicote vem e tenta domá-lo, até que ele faça exatamente o que esse domador acha que ele deve fazer, o propósito que ele acha que é o correto para o pobre elefante. Relacionando isso às pessoas é o mesmo que a violência contra as minorias, se você parar para pensar. Conservadores inconformados com o que não lhes parecem corretos, tentam "domar" ao máximo a situação em questão.

Tentaram me domar igual ao elefante.

Esta noite, Agnes pediu que eu e Maddox saíssemos com ela para um clube próximo daqui. Nunca fui nesse, e honestamente, não sei se estou animado. Se luda descobrir de alguma forma que saí com os dois novamente, não sei o que aquele moleque insano pode fazer comigo. Não sei se isso tudo é apenas uma brincadeira extrema e doentia, mas de qualquer forma, prefiro não arriscar muito. Preciso entender aquele garoto, antes que ele machuque mais alguém."

- Elliot! Você já está pronto? Eu disse que iríamos sair daqui às 21h! - Agnes gritava do andar de baixo da casa, chamando pelo homem.

- Estou quase pronto! - O escritor mal havia saído do banho ainda, mas se arrumava tão rápido que aquela mentirinha não faria nenhum mal.

Elliot estava se relacionando menos com Maddox desde que apanhou. Sentia medo que além de Agnes sentisse algo, pois como Luda havia dito, e aquilo não saía de sua cabeça, algo estava acontecendo na cabeça da menina que o escritor ainda não havia conseguido decifrar completamente. Nunca havia sido uma garota de dezessete anos, então como poderia? Mas se ele soubesse o quão simples era, talvez suas escolhas tivessem sido bem diferentes. Colocou uma camisa social branca e jeans. Uma combinação estranhíssima, porém o senso de moda do homem nunca foi o dos melhores, e desconcentrado como estava ultimamente, isso só havia piorado. Estava se importando menos em como aparentava, pois em sua cabeça, isso ajudaria os irmãos a esquecê-lo de vez. Uma ideia tola, pois não dependia somente disso.

Aquilo não saía da sua cabeça. A possibilidade da garota estar apaixonada por ele era complexa demais, mesmo para alguém capaz de ligar facilmente um ponto A a B como Elliot. A verdade mesmo é que ele não queria lidar com isso, já tinha problemas demais achando que não tinha chances com a garota pelo fato de ser praticamente impossível ficarem juntos, dar algum motivo para isso não ser completamente verdade o assustava de uma forma gigante. Não queria pensar nisso, ela tinha só dezessete, era ilegal. Não importava o quão inteligente, o quão bonita, o quão... Se pegou pensando novamente em Agnes e repreendeu seus pensamentos, precisava esquecer aquilo, "Deixe-a se relacionar com alguém de sua idade", pensou consigo mesmo.

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