Quando Agnes foi finalmente dormir, os dois rapazes ficaram sozinhos conversando e então decidiram ir para o quintal. Apesar da pouca proximidade com Maddox, o escritor já o considerava um bom amigo, mas mesmo assim, queria saber mais sobre ele, e essas pequenas conversas eram muito boas. Bebiam cerveja e sentavam-se nas cadeiras perto à piscina. Elliot contava como foi o seu encontro, mas sem dar muito detalhes, pois Natasha provavelmente o mataria caso ela o fizesse.
- Então pode se dizer que você está apaixonado? - Maddox riu.
- O jeito que eu olho para ela... O jeito que a gente se conecta... É bom sentir isso, sabe? Ainda mais...
- Ainda mais...?
- Sabe... Eu estive com Karoline por um bom tempo. No início me senti muito sortudo de tê-la ao meu lado, pois afinal... Quem não gostaria de ter uma linda mulher como ela ao seu lado, não é mesmo? Mas conforme o tempo foi passando, eu comecei a me sentir pressionado a agradá-la, e pouco a pouco percebi que já não era eu mesmo. Os jantares caros, a vida que eu e ela levava, era como se eu estivesse tentando me adaptar à ela, sendo que... Não era realmente necessário sabe? Se ela gostasse de mim de verdade, não se importaria com isso. E então eu fiz um teste. Os jantares cessaram, e as brigas começaram. Quando tivemos nossa briga final, percebi que me esforcei para nada e que a única pessoa que eu tinha que agradar era a mim mesmo, e não ela. Sei que não vai entender isso, Maddox... Você que dispensou todas as suas namoradas até hoje, não é? Queria ter te conhecido antes e quem sabe você poderia ter me dado algumas dicas. - Deu uma risada forçada e continuou. - E não é como se eu gostasse dela ainda, entende? Mas ver que a pessoa que me destruiu por completo está bem me deixa... Mal, porque por mais que eu não queira admitir, no fundo, eu queria ter a destruído por completo no momento em que me machucou. Se sentir usado é a pior sensação do mundo, você se sente um objeto e não há nada que você possa fazer a respeito, é como um fantasma que você carrega e se pune por ter sido tão estúpido. Enfim... Não sei porque estou te dizendo isso, como eu já disse, você é novo demais para entender isso.
- Elliot...
- O que?
- Não sei se você já percebeu, mas eu... Eu não sou como os outros. - Tentou falar de uma forma que o outro o entendesse.
- Julgando pelo seu relacionamento com Agnes, acho que eu já entendi isso, muito obrigado. - Deu uma risada e tomou um gole de sua cerveja.
- Não... Eu digo sério mesmo. Sexualmente falando. Não sou como você. Eu gosto de meninos e meninas, Elliot.
O escritor parou de beber e o encarou sério. Não sabia se aquilo era uma brincadeira do mais novo, e se fosse, certamente não estava a entendendo. Talvez aquilo finalmente acabaria com todas as suas dúvidas, mas por que falar aquilo agora? O que aquilo tinha a ver com o assunto se fosse algo sério?
- Você está me olhando confuso, certo... Precisarei explicar direito isso. Há alguns anos atrás, me apaixonei. Éramos colegas de colégio, e sempre andávamos juntos. Pouco a pouco fui me apaixonando por ele, sem ao menos saber sua sexualidade. Um dia fui em sua casa e ele começou com um papo estranho e quando vi, estávamos nos beijando, tirando nossas roupas e quando vi, tinha transado com ele. Eu me entreguei para ele, como nunca havia feito antes com um rapaz. Isso se passou por uma semana, exceto que eu apenas o chupava e o masturbava, além de sair com ele e lhe comprar coisas caríssimas, mas um dia, do nada, quando fui falar com ele no colégio como sempre fiz, o encontrei em seu circulo de amigos me encarando e rindo. Quando perguntei o porquê, ele disse que eu era um estúpido por acreditar que ele sentia qualquer coisa por mim, e que "bichinhas" como eu mereciam ficar em seu devido lugar, que era longe dele. E então seus amigos pediram permissão para me bater e ele simplesmente fez uma expressão indiferente, que eu nunca vou esquecer e deu as costas para mim. Seus amigos me bateram até o sol se pôr. E então sim, eu lhe entendo, Elliot. Cada sentença sua, eu lhe entendo.
- Maddox, eu... Eu não fazia ideia.
- Naquele dia, cheguei em casa chorando, com sangue e hematomas por todo o meu corpo. Agnes quase desmaiou de tão nervosa que ficou, mas não havia nada que ela poderia fazer. E essa é também uma das razões por eu e ela sermos tão ligados. Agnes não me julga em nada, ao contrário de todos que descobriram sobre isso e pararam de falar comigo imediatamente. Como você deve imaginar, isso foi antes de nos mudarmos para cá.
- E... E o que o seu pai disse?
- Não era como se ele estivesse surpreso. - Riu para Elliot e continuou. - Ele sempre me perguntava a respeito, mas quando me via com meninas voltava a se acalmar. Quando eu expliquei o que sentia para ele, entendeu melhor do que eu esperava. Disse que assim era bom que eu tinha mais escolhas e que quando eu me cansasse do meu namorado, era só ficar com a minha namorada. Tive que explicar para ele também as diferenças entre poligamia e monogamia. Bom... Se isso vai fazer você me ver diferente, peço sinceramente que vá embora.
- Maddox... Por que eu faria isso? Você me acolheu em uma época que eu vivia rodeado de cigarros, sozinho em um quarto escuro, e pensando como seria fácil ligar a água da banheira e me deixar afundar lá. Você me acolheu de braços abertos sem ao menos me conhecer direito. Você está sempre tentando enxergar o melhor das pessoas mesmo já tendo passado por alguns maus bocados na sua vida. E além do mais... Sexualidade sempre foi um assunto que nunca foi um tabu para mim. Só espero que quando você ache uma namorada, ou namorado, ele te trate bem, caso contrário, ele ou ela terá que se ver comigo.
- Obrigado, Elliot. - O escritor piscou e deu um gole em sua cerveja. - Tenho que agradecer por ter Agnes e você em minha vida, digo isso de coração.
- Eu digo o mesmo de vocês também. Você acha que ela vai me perdoar?
- Ela vai ter que se acostumar. Você e Natasha estão indo firmes mesmo não é?
- Sim.
- Então... Vocês fizeram mesmo dentro da cabine?
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Animal Instinct
Romance(PLÁGIO É CRIME) Elliot Campano é um homem quase chegando aos seus trinta anos, divorciado e que única ocupação é escrever colunas pessimistas para um jornal. No entanto, ele vê isso tudo mudar quando dois irmãos chamados Agnes e Maddox, de 17 e 19...