No momento em que o viu, sabia que havia errado. Seu irmão virou a cabeça para observá-lo, e parou por alguns instantes. Ele por sua vez, o homem, só tinha olhos para ela. Quase se aproximou e levantou seu queixo e disse para o homem parar de babar pelo amor de Deus. Ela sabia exatamente o que era aquele olhar, e não gostava nada daquilo. Era o mesmo olhar que causava nos homens desde que começara a se desenvolver. Era um olhar que nunca havia achado lisonjeiro ou sequer engraçado, era somente repulsivo em sua mente.
Por anos, quis esconder seu corpo dos tais olhares, mas com o passar dos anos, notou que não havia muito que pudesse fazer para evitá-los. E decidiu então não se esconder mais. Mas voltando para o tal homem... Quantos anos ele deveria ter? Será que ele morava com a esposa e filhos? Ele já parecia ter por volta de seus trinta anos, ou certamente não estava em um de seus melhores dias. Estava com uma xícara de café em sua mão e havia saído de casa para buscar o jornal na entrada, mas acabou parando ali e encarando ela e seu irmão como um bobo. Puxou Maddox para dentro no mesmo instante em que começou a ficar realmente irritada com toda aquela situação.
Essa foi a primeira vez que viu Elliot.
Antes disso, houve outros. Houve vários outros. Mas nenhum que despertassem realmente sua atenção, isso nunca havia acontecido com alguém, exceto Maddox. Começaremos com o primeiro, um garoto de sua escola. Ela havia completado treze anos e havia o conhecido em uma das festas de seu irmão em casa. Quando ela avisou que iria subir as escadas e dormir, ele perguntou o porquê e insistiu que ela ficasse. "Que chato, será que ele não se toca?" Ela se perguntou mentalmente enquanto ele tentava ter uma conversa estendida com ela. E foi aí que ela o deixou falando sozinho.
Ninguém era interessante o bastante, inteligente o bastante, legal o bastante. Todos desistiam rápido demais, todos iam embora rápido demais. Quando eles iriam aprender? Observava todas as suas colegas de classe recebendo cartas de namorados e presentinhos, e se perguntava quando aquilo iria acontecer com ela. Mas ao mesmo tempo, se perguntava se aquilo realmente valia a pena. A mesma tecla sempre era acertada depois de um tempo. Seu pai biológico. Tic toc, "Não vai demorar muito para os seus namorados te abandonarem, garotas" Ela pensava, enquanto um sorriso se formava em seu rosto. Um machucado que nunca se sarou completamente.
Se achava esperta demais para se apaixonar romanticamente por alguém. Sua relação com Maddox era diferente. Uma dependência, quase similar ao tipo de dependência que viciados em bebida ou algum tipo de droga tem. Tinha a certeza de que seu meio-irmão nunca a decepcionaria, ou que a trairia e machucaria, então era certo poder contar com ele em tudo que precisasse. Mas mesmo assim, no momento em que ele tentou a primeira vez ter algo além do que beijos com ela, Agnes simplesmente... recusou.
Não que Maddox não fosse digno. Talvez depois de todos esses anos ao seu lado, ele fosse o único rapaz no planeta digno de ter algo com ela, mas mesmo assim... Não o via dessa forma. Foi a primeira vez que viu o irmão se frustrando, e com isso, se frustrou consigo mesma. Por que não conseguia ser que nem as outras meninas e se jogar nos braços de qualquer um que lhe desse o mínimo de atenção e carinho? Ela não... Ela não conseguia.
O viu novamente. Não queria que seu irmão saísse com ele. E se ele se aproximasse? E se ele fosse interessante? Não queria isso. Torcia para que ele desistisse e furasse com Maddox para nunca mais vê-lo novamente, mas isso não aconteceu. Eles saíram aquele dia e ela ficou a noite inteira esperando que seu irmão voltasse, e nenhum sinal dele. Na manhã seguinte, só pode ouvir histórias de como Elliot era engraçado e desajeitado, mesmo meio esquisito.
"Vou perder Maddox."
Seu irmão ligou para o escritor no dia seguinte, animado com tudo que estava acontecendo, havia tempos que não fazia uma conexão tão rapidamente. Depois de várias tentativas, viu Maddox desligar o telefone e ir tomar banho. Quando finalmente pensou que seus problemas haviam acabado, o telefone fixo começou a tocar. Deixou-o tocar por várias vezes, não se renderia tão fácil, não deixaria-o tomar Maddox de si. Não deixaria-o tirar a única coisa que era certa na sua vida.
- Oi? - Decidiu que seu plano a partir daquele momento seria afastá-lo, e sabia exatamente como fazer isso.
Tentou ao máximo ser grossa com ele, mas será que funcionaria? Ao mesmo tempo que queria afastá-lo, estava curiosa com o homem. Odiava isso, mas se Maddox havia dito que ele poderia ser alguém legal, ela talvez poderia dá-lo uma chance também e... Vários pensamentos percorriam a sua cabeça e não sabia mais o que fazer àquele ponto. Em toda chance que tinha, era grossa com ele, "Elliot não pode ficar aqui, não pode".
Quando ele os chamou para sair a primeira vez, não soube o que pensar. Sentiu-se como se fosse na primeira vez que sua mãe lhe apresentou para o pai de Maddox. Ele a levou para uma sorveteria, e depois para outros diversos lugares, comprando-lhe tudo que ela queria, era só apontar que ele dava para menina o que ela desejasse. Mas não seria tão fácil assim, nunca se importou com dinheiro, só queria que ele não abandonasse sua mãe, e estaria feliz.
"Comprar-me com dinheiro ou coisas não vai fazer eu gostar de você", pensava enquanto o homem ria com Maddox entrando em um dos brinquedos. Mas ele não era tão ruim... Ele não era. Mas precisava passar no teste. Com o passar do tempo, teria que mostrar que merecia percorrer os pensamentos confusos dela. Caso contrário, ela sairia deles na mesma rapidez que entrou.
Faria um teste quase decisivo. Será que ele aguentaria dormir junto à ela e não tocá-la. Será que seria forte o bastante? Via o desejo em seus olhos, e sabia exatamente qual era aquele sentimento que Elliot possuía, não por senti-lo, mas por já tê-lo visto tantas vezes nos olhos de outros em sua frente. Após uma saída com Maddox e ele, o chamou para cima, e o convidou para se deitar na cama junto a ela, vestindo somente roupas íntimas.
"Será que você consegue, velho?", pensou.
E ele conseguiu. Somente a abraçou a noite inteira. Não tentou nada, nada. Nunca se sentira tão rejeitada e intrigada como naquele momento. Fingiu dormir a noite, mas só conseguia pensar no que havia feito de errado. Não era bonita o suficiente? Não era sexual o suficiente? O que estava de errado? E então vários outros testes foram feitos, várias provocações, várias chances dele provar que queria algo com ela.
"Vamos Elliot, eu permito você me tocar, venha"
Mas sempre havia algo nos olhos do escritor. Algo como se falasse que ele sentisse que não pudesse. Por que ele resistia tanto? Qual é! Era só tentar algo, para que ela pudesse rejeitá-lo e enfim acabar com aquilo! "Venha, Elliot! Sei que assim que conseguir o que quiser, irá embora!" Mas ele era diferente. Ele se controlava ao máximo para não fazer algo que se arrependeria depois. Ele não era como a maioria dos rapazes e homens que já haviam se interessado por Agnes antes.
Ela estava... sentindo algo.
E agora, vendo a única coisa que uma vez lhe pertencia, e era a única coisa que lhe era certa, seu irmão Maddox, e a primeira pessoa que lhe despertou desejo sexual juntos, só lhe trazia medo. As coisas estavam saindo do controle e não sabia o que fazer. Antes, nunca olhava para as pessoas com segundas intenções, e hoje... Já havia pensado em Maddox... Elliot... Até mesmo Arden. Nem sabia de onde o pensamento de seu melhor amigo Arden fodendo-a veio, só sabia que havia trancado a porta aquele dia e se acolhido embaixo de um cobertor, quente... Quente como o corpo de qualquer um dos três parecia ser. O que estava acontecendo com ela? Desde quando esse tipo de pensamento era algo recorrente em sua mente?
No dia seguinte, mal conseguia encarar Arden sem lembrar das imagens que percorreram sua cabeça no dia anterior. Ele falava com ela, mas nem sequer conseguia escutar as palavras que saíam de sua boca, Agnes só conseguia se perguntar o que aconteceria se tomasse algum tipo de atitude aquela hora. Será que ele a rejeitaria? Provavelmente não... ele já havia expressado seu desejo com relação à ela anteriormente, então... Mas ainda sim, era fácil demais. Ela não queria isso.
Ou queria?
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Animal Instinct
Любовные романы(PLÁGIO É CRIME) Elliot Campano é um homem quase chegando aos seus trinta anos, divorciado e que única ocupação é escrever colunas pessimistas para um jornal. No entanto, ele vê isso tudo mudar quando dois irmãos chamados Agnes e Maddox, de 17 e 19...