🖤 VI 🖤

78 26 81
                                    

✧*✧*✧*✧*✧*✧*✧*✧*✧*✧*✧*✧*✧*✧*✧*✧*✧*✧*✧*✧*✧*✧*✧*✧*✧*✧*✧*✧*✧*✧*✧*✧*

GABRIEL


Meus olhos se abriram em plenitude, e Sat tinha as mãos sobre mim, sacudindo-me e chamando até que eu recuperasse a consciência.

— Gabriel, acorde! — exclamou, e levei alguns momentos para me acostumar à nova realidade. Não estava mais no quarto com Aba; encontrava-me deitado na grama macia, sentindo as pequenas folhas entre meus dedos. Não conhecia aquele jardim, e não tinha ideia de onde ele se situava.

— O que estamos fazendo aqui? — perguntei, sonolento. Minha voz soava pesada e arrastada.

— Está mais do que evidente que ele é o rei dos preguiçosos; passa a vida a dormir — exclamou Bel, irritado.

— Acalme-se, Bel — interveio Aba, com toda a sua elegância. — Sabe como são difíceis os primeiros dias de transformação; é exaustivo.

— Em meus dias de transformação, não dormia tanto; estava mais acordado do que o normal — afirmou ele, orgulhoso, sua comparação parecia fazer sentido em sua mente.

— Mas você estava totalmente atordoado. Precisa que eu lhe relembre a maneira como seu pai o criou? — respondeu Aba. Bel soltou um grunhido.

— Não fale sobre meu pai — retrucou ele, posicionando-se para um ataque, enquanto Aba se endireitava, tenso.

— Já chega, vocês dois — interveio Sat, olhando diretamente para eles. — Comportem-se minimamente; não veem que ele está acordando?

Captei o modo como se moviam, sem muita precisão. Na verdade, eu estava um pouco mais consciente agora, e meu impulso levou-me a deslizar minha mão sobre a de Sat.

— Peça a eles que falem baixo... minha cabeça dói... — implorei, sentindo como se tivesse levado uma pancada no meio do crânio.

— Oh, pobre princesa, deseja que eu lhe faça uma massagem? — zombou o mais irritado, revirando os olhos.

— Belial, é melhor calar-se, ou teremos de resolver isso de outra maneira — ameaçou Aba, em um tom autoritário.

— Não há solução... — sussurrou Sat, alto o suficiente para que eu pudesse ouvir. Com algum esforço, sentei-me, encontrando conforto na grama verde e macia.

— Eles são sempre assim? — perguntei, levando a mão livre à testa. Minha temperatura estava elevada.

— Sim, eles são sempre assim — revelou Sat, como se estivesse cansado da situação. Bel e Aba começaram a discutir em um tom mais baixo; Sat bufou e sorriu para mim. — Dormiu bem?

— De verdade, já dormi o suficiente — respondi, sorrindo de volta. — Não compreendo por que não consigo controlar isso; quando dou conta, já adormeci.

— É normal; apenas se passaram três dias. Seu corpo está mudando, e isso exige muita força e energia — disse Sat, erguendo o olhar. — Mas isso mudará agora; o tempo de descanso acabou. Vamos ajudá-lo a descobrir seu poder.

Aproveitei a oportunidade para olhar ao redor. Cometi um erro: não estávamos em um jardim de verdade.

Havia árvores, dispostas em uma sequência, não muito próximas umas das outras. Olhei para trás e lá estava a enorme mansão que eu havia explorado antes; nunca a tinha visto de fora. Era imensa, de cor escura, com paredes cinzas e um telhado de telhas pretas. Tinha uma aparência fabulosa e sombria, mas, ainda assim, era muito requintada. Perguntei-me quem poderia ser seu verdadeiro proprietário e o que lhe teria acontecido.

Voltei minha atenção para o local onde estávamos. Agora podia reconhecer que aquele era o início de uma floresta, uma parte verde e saudável que nada tinha a ver com o restante. Por alguma razão, já tinha a intuição de que, atrás daquela camada de árvores, apenas existia escuridão.

— Pronto? — A voz de Sat soou curiosa.

— Como vamos descobrir? — questionei, e ele apontou para um par de garrafas sobre dois troncos cortados.

— Experimentando — alegou, como se se referisse à coisa mais simples do mundo. — Rapazes, em posição.

Bel e Aba se entreolharam, encerraram a discussão e se separaram. Aba parou à direita dos troncos e Bel à esquerda, ambos em alerta, prontos para reagir. Sat permaneceu ao meu lado e colocou a mão em meu ombro.

— Quero que você observe mais de perto essas garrafas. Acostume-se com a imagem delas — começou ele, e me esforcei para dedicar toda a minha atenção às garrafas de vidro que estavam ali. — Agora, feche os olhos e imagine-as bem; sua atenção deve estar toda voltada para elas.

Fechei os olhos, sem conseguir imaginá-las, por mais que me esforçasse. Apertei os olhos com mais força; precisava me concentrar, mesmo que não compreendesse o que deveria fazer.

— Para facilitar, pode estender o braço — instruiu Sat, sua voz agora vinda de trás de mim.

— Como o Aba? — indaguei, e ele riu levemente.

— Sim, como Aba.

Levantei o braço na tentativa de imitar a postura que o vira fazer. Concentrar-me na imagem das garrafas era meu foco principal, e o silêncio que se seguiu ajudou minha mente a se fixar nessa única tarefa. O que aconteceria? Estaria fazendo a coisa certa? Poderia perder o controle? Sim, era provável. Mas era para isso que eles estavam lá: para não me permitir descontrolar...

Acho que... comecei a sentir uma vibração percorrendo todo o meu corpo, como uma única corrente de energia. É isso... Isso... A vibração chegou até a ponta dos meus dedos; podia sentir as faíscas.








🖤

Em Direção Às Trevas [Em Revisão]Onde histórias criam vida. Descubra agora