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GABRIEL
Mais uma tarde se passou sem êxito, e, desta vez, Bel não riu como prometera; apenas me fitava. Tinha certeza de que ele contava minhas tentativas, todas infrutíferas. Sabia que eles lograram êxito na primeira ou segunda tentativa; eu estava muito distante de alcançar tal proeza.
— Não se preocupe, Gabriel... — começou Aba, com cautela. — Da próxima vez...
— Da próxima vez, conseguirei? — adivinhei, meu tom soando mais irritado do que planejava.
— Sei que deve ser frustrante — continuou Sat, ainda mais cauteloso que o primeiro. — Mas um dia chegará lá.
— Talvez eu não seja um demônio; talvez a transformação tenha falhado. — Afirmei, e Bel riu escandalosamente.
— A transformação nunca falha, especialmente quando sou eu o responsável por ela. — Ele levantou uma sobrancelha. — Duvida das minhas habilidades?
— Não creio que isso seja possível, já que você é o ser mais perfeito de toda o mundo conhecido. — respondi, sarcasticamente. Ele sorriu.
— E também do desconhecido. — Ele conseguiu articular antes que Sat, que agora estava ao seu lado, lhe desferisse um tapa na nuca. — Ai, isso doeu.
— Era para doer. — respondeu o mais sério. — Vamos deixar isso para outro dia. Devemos retornar para dentro; os irmãos chegarão a qualquer momento, portanto, estejam prontos.
— Já? — perguntei, impressionado. Não fazia nem vinte e quatro horas que haviam sido convocados.
— Sim, são muito rápidos. Não há tráfego nos ares. — resmungou Bel.
— Nos ares? Demônios... Nos ares?
— Ah, não. — Aba riu. — Não são estes ares; os irmãos são metamorfos, costumam viajar na forma de corvos.
— Oh... — exclamei, sem muita convicção.
Adentramos a mansão gótica, onde fui instruído a seguir Aba, que se ofereceu a me ajudar a vestir-me adequadamente para encontrar os irmãos Abduxuel. Perguntava-me se realmente existia uma forma apropriada de se vestir para encontrar dois irmãos demônios com nomes estranhos que se transformavam em corvos.
— Isso é para você. — afirmou Aba, exibindo um terno laranja.
— Isso é... para mim? — perguntei hesitante, sem conseguir imaginar-me usando aquilo. Era um terno estranho, com uma manga mais curta que a outra, parecendo deformado e malfeito.
— Não gosta?
— É estranho... Não aprecio muito. — confessei. Aba levantou a mão e outro terno saiu do guarda-roupa, caindo em suas mãos. Desta vez, era cinza, possuía um ar elegante e parecia confortável.
— É perfeito. — Sorriu. — É confortável e durável, e suas mangas são fáceis de enrolar se precisares usar seu poder.
— O poder que ainda não possuo? — enfatizei, quase como uma lâmina cruel.
— Um dia terá, não se preocupe. — Ele tranquilizou, juntando as mãos atrás do corpo e sorrindo. Estiquei a coluna, fitando seus olhos e lembrando-me novamente de quão belo ele era. Não tive muitos momentos com Aba após as boas-vindas e o tour interrompido; um arrepio percorreu minha espinha ao recordar o que Sat me dissera. Um nó se formava em minha garganta.
— Aba... — iniciei, e ele voltou-se para mim, preocupado. — Gostaria de te perguntar algo.
— Claro, avança. — Sentei-me na cama atrás de nós, e ele imitou o movimento.
— Você... devorou um demônio? — As palavras saíram fracas, mas sua expressão sombria confirmou que ele ouvira.
— Gabriel. — Ele soltou um leve suspiro. — Cometi um grande erro que não deveria ter cometido. Era jovem e não sabia como me controlar. Foi um acidente.
— Então... é realmente possível que um demônio devore outro demônio? — perguntei, esforçando-me para não parecer desconfortável com a confirmação de seu ato.
— Sim, é possível, mas... não é comum, pois os humanos são mais saborosos; os demônios, não. — Ele explicou. — Quando me transformei, estava acompanhado de um jovem. Minha transformação foi mais rápida que a dele, e minha fome incontrolável me levou a cometer tal erro... Não o devorei propriamente, o que fiz foi abrir seu peito, e Satanael chegou para o resgatar. Ele o levou, e, em seguida, trouxe a notícia de sua morte.
— Eram amigos? — questionei, arrastando as palavras, imaginar aquela cena drástica me causava náusea.
— Éramos amantes.
Meus olhos se arregalaram; não esperava tal resposta. Olhei para Aba com mais atenção; sua expressão era de dor. Imaginei que já seria terrível ter devorado alguém, mas sendo seu amante... A pergunta surgiu em minha mente.
— Seu amor é por homens? — indaguei, soando completamente tolo.
— Isso é um problema? — indagou ele, de maneira gentil.
— Não, não. — Apressei-me em negar, percebendo minha má escolha de palavras. — Acho que todo ser tem o direito de amar quem desejar; não vejo nada de errado nisso.
— E você?
— Eu? — repeti, sem perceber a pergunta.
— Gosta de mulheres? — perguntou, com expressão neutra.
— É... Não posso afirmar, pois não recordo de ter tido romance algum. — Respondi honestamente, e Aba sorriu.
— Ainda é muito jovem; não se precipite.
Sorri, com a impressão de que poderia superar isso. Aba parecia ser um homem de bem; cometera erros e se arrependia deles. Deduzi que ele também percebera que estávamos superando o problema, e sorriu de volta.
— Vista-se, deve estar na hora. — disse ele. — Eu também irei me aprontar.
— Certo, até mais tarde. — respondi, e Aba saiu com um último aceno, fechando a porta.
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Em Direção Às Trevas [Em Revisão]
FantasiaA vida nos leva na direção que ela deseja, ainda que tenhamos a escolha para decidir qual caminho seguir. Devemos seguir nosso coração mesmo que ele nos leve para o mal caminho? Ou talvez o mal seja algo relativo? Gabriel é um homem do povo, jove...