🖤 XIX 🖤

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GABRIEL


Estávamos na parte "saudável" da floresta, as folhas das árvores e a grama eram verdes, emanavam a sensação de vida. Algumas flores e borboletas que pairavam pelo ar e ainda pequenas pedras e gravetos se encontravam no chão. A cada passo adentrávamos mais pela floresta e o contraste começava a aparecer.

As folhas das árvores começavam a escurecer, se tornando negras e mais consistentes. A grama estava em um azul esverdeado morto, murchas e as pedras com rachaduras e esburacadas. Já não avistava borboletas ou qualquer sinal de um outro animal, um medo começou a impulsionar as batidas de meu coração e minha mão foi em busca de apoio no braço de Bel.

- Está tudo bem. - Tentou me tranquilizar. - Nada vai te acontecer, os humanos são quem devem temer essa floresta.

- Como tem certeza que já sou um demônio? Posso continuar sendo um pouco humano. - Exclamei, estava mais agitado do que imaginei que estaria.

- Você já teve acesso ao seu poder, isso prova que percorre mais sangue demoníaco do que humano em suas veias. - Ele ajeitou seu braço, até que sua mão foi parar segurando a minha. - De qualquer forma, está cercado por três demônios, nosso cheiro espanta qualquer predador que habita aqui.

- Tudo bem... - Assenti, ainda com alguma preocupação que certamente era a minha parte humana que sentia. - Falta muito?

- Estamos quase lá.

Caminhamos mais algum tempo, passei a analisar Aba e Sat que estavam alguns passos à nossa frente. Aba estava se recompondo e Sat caminhava acompanhando seu passo, fiquei em dúvida de qual seria a relação deles. Provavelmente chutaria que eram bons amigos, quem sabe melhores amigos. Mas não pude deixar de sentir que poderia haver uma faísca de romance entre eles.... Que? O que eu estava pensando? Só porque aconteceu entre mim e Belial não significava que eles eram gays, né? Apesar de que...Aba já me tinha revelado ser gay.... Voltei à realidade com um choque repentino. Eu e Belial estávamos vivendo um romance? Éramos...Namorados? Meus olhos seguiram até a lateral, encontrando seu rosto concentrado analisando as árvores que se encontravam ao nosso redor. Um embrulho tomou conta de meu estômago antes que fosse interrompido.

- Chegamos. - Afirmou Sat, e olhei para frente. No meio de tantas árvores agora se encontrava uma espécie de lago. Sua água era escura como se apenas houvesse trevas ali. Junto ao lago tinha uma cascata, de onde descia a água negra sobre os musgos grudados numa grande rocha. Engoli em seco, poderia ter certeza que ali dentro morava algum monstro.

- Onde está a capital? - Perguntei, Belial riu.

- Não estaria à vista para qualquer azarado encontrar. - Afirmou, colocando a mão pousada em meu ombro. - É preciso entrar dentro do lago e afundar, a capital está do outro lado.

- .... Do outro lado de quê?

- Ele está se referindo ao submundo, a outra face do mundo conhecido. - Completou Aba, fiquei aliviado de ouvir sua voz. - Apenas seres demoníacos conseguem atravessar para a capital.

- Não pense muito nisso, não é tão complicado quanto parece. Basta entrar na água, fechar os olhos e se deixar afundar. - Sat acrescentou, enquanto caminhava em direção ao lago. Queria parecer tranquilo, mas por dentro estava apavorado, Belial sentiu minha inquietação e me puxou o braço. Aba e Sat foram os primeiros a entrar, colocando suas pernas dentro do lago e avançando até que a água chegasse a suas cinturas. Fecharam os olhos e algo os puxou com força para baixo, soltei um grito.

- Não quero, não quero. Belial, não. Eu não vou entrar nessa coisa...

- Calma, fica calmo. - Ele tentava manter seu tom de voz pacífico, nunca o tinha visto falar daquela maneira. - Está tudo bem, eles estão bem e nós vamos ficar bem.

- Aquilo.... Sugou eles?! - Exclamei, ele abafou uma risada.

- Olha para mim. - Disse, e pousou sua mão em minha bochecha erguendo meu rosto. Olhei no fundo de seus olhos, que transmitiam paixão e calmaria. - Eu não vou deixar nada te acontecer, está bem? Você vai se agarrar a mim e eu não vou te soltar, quando abrir os olhos já estaremos do outro lado.

- Promete?

- Prometo. - A palavra saiu mais profunda, sentia que estava entrando em um transe com Belial. Estava apaixonado? Porque me sentia daquela forma? Não sabia, mas confiava nele e segurei sua mão. Colocamos os pés na água juntos, estava fria, e era viscosa. Conforme fomos caminhando mais para dentro, passei a agarrar o braço de Belial até estar envolvendo sua cintura num abraço. Ele devolveu o abraço mais forte ainda e estivemos parados no meio do lado, agarrados um ao outro enquanto eu tremia de medo. Comecei a sentir algo se enroscar em minhas pernas. O pânico tentou tomar conta de mim enquanto Belial me agarrava. - Prenda a respiração.

- Eu quero sair daqui! Eu não consigo! Tem algo nas minhas pernas! BELIAL! - Não conseguia me acalmar, queria sair correndo de dentro daquele lago sombrio e gosmento. Meu corpo estava acelerado, e me agarrava cada vez mais forte. Belial abaixou o rosto e grudou os lábios aos meus, nesse movimento repentino prendi a respiração e fechei os olhos. Minhas mãos se fecharam em punho na camisa de Belial quando afundamos completamente na água e fomos puxados cada vez para mais fundo.

Sabia que se abrisse os olhos não veria nada mais que escuridão, tinha a impressão que o lago não era assim tão fundo, mas continuávamos a ser puxados para baixo. A água estava gélida e sentia todo meu corpo arrepiar. Apertava Belial com tanta força que sabia que minhas mãos ficariam dormentes. Mais e mais fundo...Ele envolveu com mais precisão seus braços a mim, grudando meu peito ao seu. Tentei ignorar todo aquele misto de sensações que me deixavam em alerta total, e foquei em sentir os batimentos de seu coração.

Em Direção Às Trevas [Em Revisão]Onde histórias criam vida. Descubra agora