🖤 XV 🖤

39 14 6
                                    


✧*✧*✧*✧*✧*✧*✧*✧*✧*✧*✧*✧*✧*✧*✧*✧*✧*✧*✧*✧*✧*✧*✧*✧*✧*✧*✧*✧*✧*✧*✧*✧*

SATANAEL


Suas expressões estavam serenas, mas reconheci o brilho inconfundível em seus olhos. Eles estavam confusos e assustados; não sabiam se havia um novo herdeiro do Supremo. Essa confirmação me deixou ainda mais inquieto. Se os mensageiros do Supremo não sabiam dessa notícia, então seria o início de um enorme caos.

- Não é considerável que tenha sido apenas um sonho? - perguntou Akikel, e neguei com a cabeça.

- Abaddon não tem muito acesso ao inconsciente, mas foi capaz de identificar suas características. Sem contar que o estado em que Gabriel estava no sonho era o mesmo em que o encontramos. - Afirmei, parecendo mais sério.

- Não nos disseram nada. - Akikel admitiu, com certo receio. - O que devemos fazer?

- Na minha opinião, deveriam voltar ao Supremo e questionar essa possibilidade. Se tudo não for esclarecido em dois dias, os outros e eu iremos em reunião à capital.

- Tomar decisões sem o consentimento do Supremo pode ter consequências graves. - Adverte Akibel, levantando uma sobrancelha.

- Criar um novo herdeiro sem avisar os outros demônios também tem consequências importantes.

   O silêncio foi a única resposta dos dois irmãos por alguns instantes; pretendia continuar enquanto eles não dissessem nada. Enquanto isso, Akikel abriu a boca, mas foi Akibel quem falou.

- Vamos procurar informações, se nada for dito, você e seus companheiros vão para o local de costume.

- Isso é tudo, tenham uma boa viagem.

   Deixei a entrada assim que os irmãos decolaram, se afastando e desaparecendo no horizonte. Precisava de pensar em como resolver a situação, Gabriel não estava preparado para esse encontro e ele não tinha culpa do que havia acontecido. Abaddon também não estava bem, assim como no ano passado, na mesma altura, ele estava tendo lembranças vívidas de sua vida antes da transformação.

Podia ver isso em seus olhos, distantes e pensativos, antes que dissesse a ele para ir descansar. Eu sabia que as lembranças do trágico fim de seu amor o estavam abalando, e era extremamente perigoso não ter sua mente protegida na presença dos irmãos.

   Não tive muito contato com Belial e Gabriel depois disso, mas pude sentir a faísca entre eles e sabia que Belial estava fazendo um bom trabalho ao cuidar de Gabriel. Em vez disso, fui ao quarto de Abaddon, onde ele estava deitado na cama com o tronco nu. Entrei devagar, tentando não fazer muito barulho e me sentei na beira da cama.

- Aba. - Chamei, com a mão apoiada em sua perna. - Como está?

- Toda vez que fecho os olhos, vejo seu rosto sorrindo no meio das flores e então estamos no quarto e eu o mato. - Ele disse, sem abrir os olhos, com uma voz fraca.

- Sinto m...

- Sente muito? Sim, eu já ouvi isso.

- E vou repetir isso quantas vezes forem necessárias, porque não gosto que meu amigo esteja assim. - Afirmei e o puxei até poder abraçá-lo. Instantaneamente, as mãos de Aba se fecharam ao meu redor e suas lágrimas quentes molharam meu ombro.

- Eu o amo, Sat.

- Eu sei que sim, Ab. Sei que você o ama e sei que não queria machucá-lo.

- Eu matei o homem que amava, acha que o que eu não queria é importante agora? - Ele levantou o rosto e olhou para mim com os olhos cheios de lágrimas. - Me diz Sat, por favor. Me diz para onde vão os demônios mortos. Como posso vê-lo novamente? Como posso pedir seu perdão?

- Sinto muito, Ab, não posso. - Afirmei, com o coração pesado.

- Então.... Pelo menos use seu dom! Fale com ele por mim, diga a ele que sinto muito, que o quero de volta, que sinto muito....

- Ab. - Coloquei a palma da minha mão em seu rosto. - Acalme-se.

- Como posso me acalmar? - Ele ficou furioso e se levantou. - Eu o quero de volta! EU O QUERO DE VOLTA!

  Frustrado, os objetos começaram a flutuar e a bater na parede e no chão. Corri para agarrá-lo, usando a força de meus braços para impedi-lo de se mover. Aba ainda estava se debatendo, balançando de um lado para o outro e soluçando incessantemente.

- Sinto muito, Ab. - Lamentei, colocando meus dois dedos em sua nuca. - Prometo te dar bons sonhos.

- NÃO! NÃO... - Ele tentou se debater, seu corpo amoleceu em meus braços até que me ajoelhei no chão com sua cabeça em meu colo. Acariciei seus cabelos repetidas vezes, meu coração se apertava toda vez que o via assim e, para que ele não se torturasse mais, o enviei para um sono tranquilo.

Nunca gostei de ter o dom do contato com a morte e os mortos, não me relacionava com os falecidos. Só conseguia fazer uso razoável de uma faceta do meu dom, enviando alguém para uma morte temporária, ou seja, o sono.

Em Direção Às Trevas [Em Revisão]Onde histórias criam vida. Descubra agora