🖤 XIII 🖤

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ABADDON

Lia os documentos à minha frente, com as mãos apoiadas em uma mesa de carvalho. Estava cansado, tinha passado a manhã tratando da papelada que aprendi a fazer desde os treze anos. Era parte das minhas qualificações, o único filho da família Clerc, a família política mais importante de Plentyon. Soltei um suspiro e decidi sair do escritório. Ao passar pelo corredor, vi a servente que havia me criado na ausência de meus pais, que até então continuavam ausentes.

- Boa tarde, Beltrán.

- Boa tarde, mãe. - Costumava chamá-la assim, ela era como uma mãe para mim. A senhora Alice ficou irritada.

- Por favor, rapaz. Não me chame assim, isso pode causar problemas. Sou apenas uma servente. - Ela disse, doce e preocupada, coloquei minha mão em seu ombro e sorri.

- Você é minha mãe, e ponto final.... Me deixe te contar um segredo. - Me aproximei dela com um olhar de cúmplice, me inclinando perto de seu ouvido. - Te amo.

Só conseguia rir quando ela estalou a língua, revirou os olhos e olhou para mim com ternura. Ela já me conhecia, sabia para onde eu estava indo e por quê. Foi por isso que sorriu.

- Cuidado para não ser visto, menino travesso.

Acenei com a cabeça e peguei minha capa escura, saindo pela porta dos fundos. Acostumado com o facto de meus pais estarem sempre em reuniões. Haviam deixado uma servente para cuidar de mim, a mesma com quem havia criado uma relação de afeto maternal e cumplicidade. Durante anos, ela me permitia fugir para o campo para ler livros, escapando do mundo da política, que sempre achei chato e desnecessário.

Estava sentado na grama verde, lendo meu livro favorito. Eu mal poderia imaginar que o conheceria naquela tarde ensolarada. Ouvi um choro e olhei para cima para ver quem estava chegando. Então, meus olhos avistaram um manto atrás de uma árvore na primeira fila da floresta.

Me aproximei lentamente, com o som cada vez mais próximo, até que estava a apenas alguns passos da árvore.

- Olá. -  chamei, e a pessoa atrás da árvore reagiu se escondendo mais para dentro. - Não vou te machucar, ok?

- Vá embora. - A voz saiu chorosa, era de um rapaz. - Me deixe em paz.

Minha cuidadora sempre dizia que eu era teimoso e resistia às ordens. E ela estava certa, porque o que fiz foi ignorar o pedido do rapaz e me agachar ao lado dele. Sua capa era esverdeada e tinha um capuz, que ele não usava na cabeça. Seu rosto estava abaixado, com a cabeça apoiada nos joelhos, e tudo o que podia ver eram seus cabelos castanhos lisos. Para confortá-lo, coloquei minha mão em seu cabelo, o que o fez levantar a cabeça com ansiedade e olhar diretamente para mim.

Ele era extremamente bonito. Tinha pele um pouco rosada, sardas e olhos azuis lacrimejantes; seus lábios estavam entreabertos de surpresa e eu estava hipnotizado por seu rosto antes que ele pudesse falar.

- Eu disse para você ir embora. - exclamou ele com raiva.

- E eu não obedeci.

- Quem você pensa que é? - respondeu, com os olhos fixos em mim.

- Alguém que quer ajudá-lo, por que está chorando?

- Não é da sua conta. - Abri a boca para retrucar, mas parei quando ouvi o som de um galho se quebrando. O desespero do rapaz era evidente e ele se agarrou a mim, com os dedos apertando minhas costas. Sua voz estava trêmula e baixa - Por favor, me proteja.

Não sabia o que estava acontecendo, mas seu pedido foi suficiente para me fazer entender que ele estava ameaçado. Agarrei seu rosto e o levantei, o fazendo olhar para mim.

- Do que tem medo? - perguntei, e seus olhos se encheram de lágrimas.

- Ele está vindo atrás de mim, quer me machucar. Por favor, não deixe que me pegue. - Implorou, se agarrando a mim com mais força. Mal tive tempo de virar o rosto para o outro lado quando vi uma sombra cair sobre nós. Um homem estava parado ali, olhando com raiva para o rapaz, até que olhou para mim e mudou sua expressão.

- Olá. - Sorriu.

- Quem é você? - perguntei secamente, e ele reajustou sua postura.

- Me chamo Austin e vim procurar meu irmão. - Ele disse, claramente mentindo, pois não havia nenhuma semelhança entre eles. Sua pele era mais clara e seus olhos eram mais escuros, eles não tinham características comuns e ele estava claramente em uma posição ameaçadora. - Foi assustado por um animal e fugiu, é um garoto muito assustado. Obrigado por confortá-lo, vou cuidar disso a partir de agora.

- Não. - disse friamente e me levantei, o rapaz ficou atrás de mim. - Você não vai levá-lo a lugar nenhum.

- Não sei o que ele te disse, mas...

- Calado, não me interessa como você vai justificar. Vá embora e nunca mais chegue perto dele. - Disse, e a postura de Austin mudou completamente e ele não escondeu mais sua agressividade.

- Você tem uma última chance. - Respondeu, com a voz mais séria. - Me entregue o garoto.

- Você terá que passar por mim primeiro. - Argumentei, enquanto empurrava as mãos do rapaz para longe e fazia sinal para que ele corresse. Não era meu estilo lutar, nunca me considerei um homem violento, e me assustei com a precisão do meu soco no meio do seu rosto.

Ele me revidou com mais força e eu consegui acertar mais dois socos, um na barriga e outro no ombro, antes de nos separarem.






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