🖤 XVI 🖤

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GABRIEL

Belial me guiou até um cômodo que nunca havia estado antes, parecia um escritório. Haviam pedaços de pergaminho com frases e ideias escritas pregados na parede, todo o local tirando aquele pequeno espaço aonde se encontravam os pergaminhos era rodeado por uma enorme estante cheia de livros.

Passei os olhos pelo ambiente, e quando parava para pensar, apenas conseguia imaginar uma pessoa com os dotes literários e de organização presentes naquele escritório. Aba.

- Boa noite. - Entrou Sat, com uma postura mais áspera que o normal.

- Sat? - Indagou Bel, que tinha tomado posição um pouco mais atrás de mim, remexendo sua taça com vinho. - Acreditava que seria Aba a explicar essas mesmices da mente.

- No momento, Abaddon não se encontra em condições de desempenhar essa tarefa. - Respondeu, tanto eu quanto Bel conseguimos sentir o quão distante estava Sat. Algo ruim tinha acontecido, e eu começava a me preocupar com o bem-estar de Aba.

- Ele está bem? Aconteceu alguma coisa? - Perguntei, olhando diretamente para Sat, ele soltou um suspiro.

- Ele ficará bem. - Disse, simplesmente. - Agora vamos ao que interessa.

Com essas últimas palavras entendi que era um sinal para me sentar, Bel imitou meu gesto e consegui reconhecer algum interesse de aprender em seus olhos. Ri para mim mesmo, ele ficava uma gracinha com aquele olhar curioso. Enquanto isso, Sat desenhava uma espécie de iceberg, fez a água envolta e o dividiu em quatro partes.


- Imaginamos que esse iceberg é a mente, na qual está dividida em quatro partes. A primeira parte, que está fora da água, é o consciente. O consciente se resume a tudo aquilo que vemos, sentimos e que está presente ao nosso redor. Como raciocínios, percepções e pensamentos. - Iniciou, e por alguns instantes achei que Sat tinha o talento ideal para ser um professor.

- Essa é a parte do cérebro que o Aba tem acesso?

- Exatamente, seu poder vem do consciente, o que possibilita que ele mova objetos e pessoas, que vê e sente.

- Qual a parte do meio? - Questionou Bel, e sorri de lado.

- A parte do meio que está iniciando contato com a água e que não está imersa, é o pré-consciente. Onde se armazenam algumas lembranças e recordações. As mais importantes, eu diria. As outras, que não contribuem tanto vão parar ao subconsciente.

- Então meu poder vem do pré-consciente? - Indaguei, Sat abanou a cabeça.

- Não, mas pode funcionar também nessa parte do cérebro. Com treinamento claro, neste preciso momento, seu poder vem do subconsciente e do inconsciente. - Afirmou, e apontou para as duas partes mais fundas do iceberg submerso na água. - No subconsciente se encontram os traumas e medos. Já no inconsciente estão os sonhos, os desejos, os impulsos sexuais reprimidos...

- QUE?! - Bel se exaltou, acabei dando um pequeno salto com seu berro.

- O que foi? - Olhei preocupado, Bel parecia ter visto um fantasma.

- Gabriel, o que você viu dentro da minha cabeça?

- Eu já te disse. - Respirei fundo. - Você quando criança.

- Nada mais? - Insistiu.

- Com o que está preocupado? Tem algo assim tão ruim na sua mente que você não quer que eu veja?

- Se acalme, Belial. - Sat interviu, meu olhar se direcionou a ele. - Gabriel está focado nos sonhos, traumas e medos. Ele ainda não tem desenvolvimento suficiente para ter acesso aos impulsos sexuais.

- Ah. - Bel soltou, parecia mais um grunhido do que algo realmente falado. Ri levemente. - O que foi?

- Estava preocupado que eu tivesse visto seus fetiches? - Perguntei rindo, mas logo percebi que Bel estava bravo.

- Não se meta na minha cabeça, nunca mais.

- Não foi de propósito, eu simplesmente dormi e entrei num sonho seu. - Aleguei, estava começando a me sentir como se ele me acusasse de algum crime. - Ainda não sei como controlar isso, então provavelmente vai voltar a acontecer eu entrar na sua cabeça sem querer.

- Não se atreva... - Rosnou de maneira ameaçadora, com os olhos fulminantes. Levantei num impulso, ele imitou.

- Qual o seu problema? Ouviu o que eu acabei de dizer? - Lancei, furioso. Não tinha paciência para sua atitude.

- Não volte a entrar na minha mente.

- Não volte a rosnar para mim.

- Ou o que? - Respondeu, com os dentes entre cerrados.

- Ou eu volto a entrar na sua mente, e exploro cada cantinho proibido. - Afirmei, poucos instantes depois a taça de vidro se partiu. Belial a havia partido com toda a força de sua mão.

- Belial. - A voz de Sat soou novamente, dessa vez mais rígida. - Vá para seu quarto.

Mantive a coluna reta até que ele se virou e bateu a porta. Sat não parecia muito alterado com o que havia presenciado.

- Você está b...

- Como controlo meu poder? - Interrompi, antes que ele pudesse me fazer uma pergunta da qual não teria resposta.

- Com o tempo e prática. Sua primeira tarefa é pensar em alguém antes de dormir. Quando seu corpo desligar, sua mente estará conectada com a dessa pessoa e terá acesso ao sonho atual. - Explicou Sat, sorri malandramente.

- Mais alguma coisa?

- Por agora, não. É tudo.

- Tudo bem, obrigado Sat. - Me adiantei até à porta. - Melhoras ao Aba.

Parti correndo pelos corredores, não sabia explicar o porquê, mas tinha um desejo intenso de ir até Belial e confronta-lo. Queria saber, queria entender. Não demorei muito para achar sua silhueta caminhando pelo corredor.

Me adiantei até ele e tinha como plano agarrá-lo por trás e tomar uma posição ameaçadora, algo que seu reflexo não permitiu, e quando dei por mim estava encostado contra a parede com sua mão rodeando meu pescoço.

- O que você quer? - Ele rosnou, estava totalmente alterado.

- Quero que me conte o que tem medo que eu descubra. - Disse, sem perder a postura. Naquele momento, não tinha medo da fúria de Belial.

- Só porque tem o dom da mente, não pense que pode fazer e saber o que quiser das pessoas.

- Não quero saber nada sobre ninguém, não me interessa. Apenas quero saber sobre você.

- Por que eu? - Ele perguntou, e me veio um momento de pausa em toda a fúria e revolta que nos envolvia. Porque ele? Porque eu estava tão determinado a saber mais sobre Belial? Porque tinha aquele desejo fulminante que subia ardente pela garganta? Não tinha certeza da resposta, e meu corpo levou o melhor de mim. Me inclinei para olhar fixamente para ele, que agora me encarava com uma mistura de raiva e confusão. Não pude me conter, não pude resistir. E o beijei.

Em Direção Às Trevas [Em Revisão]Onde histórias criam vida. Descubra agora