🖤 VII 🖤

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GABRIEL


Fiquei ali por mais algum tempo, aguardando que algo acontecesse. Para minha infelicidade e a dos outros, as faíscas que sentira simplesmente desapareceram. Abri os olhos em desespero, percebendo que todos os olhares estavam voltados para mim. Não precisei dizer nada; meu suspiro derrotado fez com que eles percebessem que não havia funcionado.

— Tudo bem — pronunciou Sat, sorrindo consolador ao meu lado. — Foi sua primeira vez; não esperávamos que fosse um sucesso desde o início.

— Eu... — Bel tentou dizer algo, mas a expressão no rosto de Aba o silenciou. Esperava que ele dissesse algo como "Fui um sucesso".

Fiquei desanimado. Continuamos tentando várias vezes, mas nenhuma delas funcionou, e até pensei que as tentativas seguintes não chegariam tão perto de funcionar quanto a primeira.

Na segunda, pensei que não conseguira me concentrar, muito menos ver as garrafas com clareza. Com o passar do tempo, Aba e Bel relaxaram a postura inconscientemente, deixando de acreditar que algo aconteceria. Bufei várias vezes até que meu cansaço se tornou evidente, e senti uma gota de suor escorrer pela lateral de meu rosto.

— Tudo bem, Gabriel; vamos descansar um pouco. Coma algo, já está ficando tarde — disse Sat, esforçando-se para manter um sorriso no rosto. A postura de Aba já estava mais relaxada, e ele tentava parecer descontraído, como se não estivesse cansado de permanecer ali, aguardando. Bel, com sua descarada sinceridade, já estava sentado no chão, encostado em uma árvore, como se tirasse um cochilo.

— Foi assim com você também? — perguntei, e Sat olhou para mim com certa preocupação.

— Er... — ele prolongou a fala, como se buscasse a melhor maneira de dizê-lo. — Eu acertei na primeira vez. Mas...

— E você, Aba? Foi de primeira vez também? — insisti, sem prestar atenção ao final das palavras de Sat. Ele endireitou-se e fez um gesto que buscava parecer mais delicado.

— Consegui na segunda vez — respondeu, em um tom delicado e fluido. Começava a me sentir frustrado comigo mesmo. — Não se sinta...

— Bel! — chamei, em um tom mais alto do que o habitual.

— Mmm... — ele respondeu sem muita convicção, deixando evidente que eu acabara de destruir a tranquilidade de seu descanso.

— Quantas vezes tentou antes de conseguir?

— Uma — alegou. Cheguei à conclusão de que todos eram mais rápidos do que eu.

— Ótimo, todos fizeram isso melhor do que eu. Em qual tentativa estou? Quinze? — exclamei, tomado pela fúria.

— Vinte e sete, na verdade — respondeu Bel, sem se dar ao trabalho de abrir os olhos.

— Belial! — reclamou Sat.

— Era uma pergunta retórica? — ele fingiu inocência. — Peço perdão.

— Gabriel... Podemos tentar novamente mais tarde... — Sat tentou me confortar, mas eu estava tão irritado que não o ouvi.

— Não. Já vi que isso não funcionará; não farei o papel de tolo — lancei, dando as costas para eles. — Talvez seja melhor eu ir descansar, já que sou o rei dos preguiçosos. É o melhor que posso fazer.

Depois de desabafar minha frustração, dirigi-me em direção à mansão. Antes de me afastar muito, ouvi Aba dar um tapa em Bel, que se queixava: "O que eu fiz?"

Não sabia o caminho de volta, embora fosse óbvio que caminhava em direção à imponente mansão à vista. Caminhei irritado, sem prestar atenção ao meu redor ou mesmo onde pisava. Sentia-me humilhado; será que isso era um sinal de que era mais fraco do que os outros? Ou talvez não fosse um demônio, mas ainda um humano? Ou talvez...

De repente, o apoio sob meus pés desapareceu, e caí de forma épica em um grande buraco. Meu rosto chocou-se contra o fundo, que estava coberto de lama, e amaldiçoei-me por não ter visto uma cratera tão vasta. Felizmente, não sofrera ferimentos graves, mas arranhei as palmas das mãos ao tentar amparar meu corpo durante a queda. Estava de joelhos, no fundo do buraco, coberto de lama.

— MALDIÇÃO! — gritei para mim mesmo, consumido pela desilusão. Sentia lágrimas brotarem em meus olhos; essa situação me afetava mais do que imaginava. Tentei escapar por conta própria, agarrando-me às raízes que estavam fixas nas laterais terrosas. Pelo menos, foi o que pensei, até que agarrei uma que se partiu em minha mão, fazendo-me cair novamente no solo imundo. Normalmente, qualquer outra pessoa teria clamado por ajuda, mas eu estava em um estado de teste das minhas habilidades. Em outras palavras, nenhuma. A parte afiada de uma das raízes cortou minha palma, e sentei-me novamente no fundo do buraco, encolhido e em dor.

— Precisa de ajuda? — uma voz ecoou do lado de fora. Bufei; poderia ter sido qualquer um, por que ele?

— Não, Belial. Não preciso de nada vindo de ti — respondi, com orgulho. Nesse momento, ele agachou-se perto da fenda para me ver melhor.

— Tem certeza? — insistiu, e tive ímpeto suficiente para olhar para ele. Eu o fulminava com o olhar.

— Não... — comecei, mas fui interrompido por suas risadas. — O que?!

— Já viu seu rosto? — ele perguntou, soltando uma gargalhada. Não sorri; pelo contrário, fiquei ainda mais bravo.

— FORA, BELIAL! FORA! FORA! — ordenei, minha paciência se esgotara. Ele parou de rir. — Vou sair por conta própria.

— Sim, sim. Dá para ver — afirmou. — Tem certeza de que não quer que eu te tire daí?

Fiquei em silêncio; já havia chegado à conclusão de que não iria obedecer. Estabilizei-me, esperando que ele fosse embora. O silêncio reinou por alguns momentos, até que percebi sua presença ao meu lado.

— Mas que merd... — soltei, assustado. Ele agarrou-me sem aviso e usou seu dom para nos tirar de lá. Em outras palavras, teletransportou-nos para fora do buraco. Embora estivesse impressionado, não queria ceder ao meu orgulho.

— Ponha-me no chão.

— Não é uma boa ideia — ele disse, puxando-me com mais força para seus braços. — Seu tornozelo direito está inchado; penso que se trata de uma entorse.

Meus olhos dirigiram-se ao tornozelo, que não parecia nada bom. Ainda assim, insisti.

— Ponha-me no chão; consigo andar!

— Não — ele simplesmente negou, agarrando-me novamente. Com medo de cair, coloquei meus braços em volta de seu pescoço. — Fique quieto; logo estaremos em casa.









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Em Direção Às Trevas [Em Revisão]Onde histórias criam vida. Descubra agora