XXVI

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GABRIEL


Por mais incrível que pareça, cheguei a conclusão certa mais rápido do que pensava. Me questionava qual seria o motivo de todos os demônios do concelho terem um pouco de seus segues guardados, e cheguei a uma conclusão que resumiria tudo a minha volta. Poder. Poder era a chave de tudo, caso algum deles morresse de maneira não planejada seu poder não seria perdido e poderia ser passado para outros. Bem, o tiro havia saído pela culatra, porque no momento estávamos todos cercados com um inimigo desconhecido que possuía os poderes de cada um naquele castelo e um deles era um traidor. 

Reparei em minha postura, estava com as costas restas e o olhar erguido, não tremia, não chorava, não estava.... Assustado. Estava mais confiante e seguro do que nunca, havia algo mudado em mim quando entrei naquele lago?

- Eu sugiro que cada um de nós permaneça em um lugar do castelo, evitaremos maior estrago assim. - Afirmou Sat, em uma calma inacreditável.

- É melhor que ninguém fique sozinho, estejam em pares. Se virem algo, utilizem o chamado demoníaco. - Respondeu o Supremo, autoritário. Não fazia ideia do que estava falando, mas tinha a certeza que Belial me explicaria mais tarde.

Todos fomos divididos e eu não poderia calhar com melhor escolha, Bel. Não que a escolha tenha sido muito voluntária, ele estava tão irritado que ameaçaria o poder maior de morte se não estivesse ao meu lado. Estávamos no mesmo salão aonde havia o trono repleto de espinhos, onde tudo tinha começado.

 Ao passar pelos corredores vimos as ruínas, partes da parede haviam despencado, móveis estavam no chão e a passagem não passava de pó e ruínas. Enquanto meus olhos passavam para as janelas, analisando a escuridão não natural que refletia delas senti uma mão tocar na minha.

- Gabriel.

- Sim, Belial? - Indaguei, em reflexo. Até encontrar seus olhos preocupados. - O que foi?

- O que está acontecendo com você? - Perguntou, e ao início estive confuso. - Aonde está o seu calor? A sua energia? A maneira como fala, como anda.... Está cada vez menos...

- Humano? - Completei, e as peças começavam a encaixar. - Eu sou um demônio, Bel. Não se esqueça disso.

- Eu sei que é, eu te transformei. - Respondeu, mais ágil do que o costume. - Apenas... Não perca sua humanidade, ela está na sua alma, não no seu corpo.

A mão quente de Belial pousou em meu rosto e ele depositou um selinho em meus lábios. Podia sentir como sua respiração estava mais agitada, os sentimentos se refletiam em reações. Estiquei minhas mãos em seu peito, o afastando de maneira suave.

- Belial... Confesse seus sentimentos por mim. - Exigi, mais sério do que alguma vez tinha sido. Essa seriedade o deixou surpreso.

- Gabriel... Quer mesmo saber o que meu coração diz? - Perguntou, e tinha uma pontada de medo em seu olhar. O brilho que ele me despertava me causou mais curiosidade, não sabia quase nada sobre Belial. Tinha visto ele quando criança, que não tinha as melhores condições. Vi sua mãe, teria ele tido um pai? O que a vida tinha feito para que tivesse tanto receio que tentava ocultar com uma máscara de orgulho?

Abri a boca para falar, tinha muitas questões muitos detalhes desconhecidos. Não consegui concluir essa intenção, meu corpo começou a tremer compulsivamente e tinha a certeza que meus olhos estavam brancos porque não estava vendo a realidade. Era um chamado, o inimigo estava conectado comigo outra vez.

O silencio era ensurdecedor, preenchido pelo escuro e pelo frio. Aos poucos, comecei a ouvir respirações um misto de sopros agitados e profundos. As chamas que provinham de velas iluminavam fracamente e revelavam um círculo de pessoas. Todas da mesma altura, na mesma posição e com mantos negros que cobriam de seus pés até a cabeça. Estavam com as mãos cobertas de sangue e imitiam sons, palavras, frases.... Uma linguagem desconhecida. Uma linguagem.... Demoníaca. Cantigas e prezes, algumas mãos batiam no chão outras estavam estendidas para cima. Meu campo de visão foi parar no meio do círculo, onde um símbolo estava desenhado e o corpo de um rapaz estava deitado. Aquele rapaz, o rapaz que tinha os olhos vermelhos, que me atacou.... Aquele que estava nos aprisionando no castelo em busca de vingança.

- Hillyx, hsorti. Icdh mmi aorh. – As palavras foram pronunciadas, por uma voz conhecida. Meus olhos conseguiram alcançar o rosto de Lilith, que não era apenas um. Todos os integrantes que realizavam o ritual, todos eram Lilith.

Voltei a minha consciência, com Belial parado a minha frente me segurando pelos braços. Em algum momento, mais quatro haviam se juntado entre eles estavam Aba e Sat.

- Ga..

- Hillyx, hsorti. Icdh mmi aorh. – Repeti, pronunciando as palavras que havia ouvido. Não sabia o significado e era o único, dado que todos arregalaram os olhos. – Estão fazendo um ritual, acredito que estejam aumentando o poder do inimigo. Os integrantes do ritual, eram muitos, mas...São todos Lilith.

- Lilith é a traidora. – Alegou Sat, de uma maneira tao sombria que não reconhecia sua voz. – Tem o poder de multiplicação dos Abduxuel.

- Poder de multiplicação? – Indaguei. – Não são gemeos?

- É mais complicado do que parece. – Afirmou Belial, e eu sabia que isso seria assunto para outra hora.

Abaddon saiu disparado para fora do salão, parecia saber aonde ia, mas eu não tinha a certeza. Num impulso, fomos todos atrás; Belial cobriu minha cabeça com as mãos quando todos os materiais sólidos existentes no corredor começaram a ser arremessados de um lado para o outro. Sat nos ultrapassou, correndo com toda a intensidade e mais alguma do que eu esperava que viesse dele.

- ABA! – Gritou, um berro que ecoou pelo corredor cheio de destroços. Não reconheci a voz de Sat no imediato, tinha algo estranho em toda aquela confusão.

Pretendia correr e alcançar toda aquela bagunça, meu coração batia acelerado e o ritmo das corridas me fazia sentir que em breve algo iria acontecer. Belial me agarrou, me tapando por completo e nos jogando ao chão. Meio segundo depois houve uma explosão, chamas saíam pela porta do próximo cômodo.

Em Direção Às Trevas [Em Revisão]Onde histórias criam vida. Descubra agora