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GABRIEL


Sentia meu corpo mais leve, tão leve que pensei perder o equilíbrio após ter tanto peso retirado de meus ombros. Enxugava meu corpo depois de um banho merecido, realmente não tinha noção de quanto tempo havia passado desde o inicio de tudo aquilo. Enrolei a toalha envolta de minha cintura e sai para o quarto, Belial estava ajeitando seu cabelo enquanto via seu reflexo no espelho. Fiquei encantado, seu corpo estava encaixado em um manto preto um pouco mais formal do que o costume, a postura reta e o olhar concentrado em admirar sua própria pessoa. Tão vaidoso. Em silêncio me aproximei dele, abraçando seu braço e deitando minha cabeça em seu ombro. Havia algo de extrema satisfação em ver nosso reflexo no espelho, ele usou seu dedo indicar para levantar meu rosto e depositar um selinho em meus lábios.

- Você está lindo, Bel. – Elogiei, esperando que ele me respondesse com um "eu sou lindo, meu amor".

- E você está seminu. – Sorriu, mordendo os lábios em seguida. – Algo me diz que você quer perder o enterro.

Em um salto me afastei dele, meu coração se acelerava sempre que ele fazia aquela cara como se eu fosse algo comestível. O som da risada de Bel era sempre delicioso de se ouvir, não importava quantas vezes ou qual era sua intenção quando o ouvia. Ele estendeu a mão de uma maneira que o fazia parecer delicado, e no mesmo instante minhas roupas apareceram.

- Não sabia que você fazia isso. – Admiti, surpreso. Aparentemente eu não era o único que tinha descoberto mais faces do meu dom.

- Nem eu, descobri faz alguns minutos quando você entrou para o banho e eu desejei que você não tivesse a toalha. – Sorriu travesso, meus olhos se arregalaram. – Fiquei muito agradecido por ter a chance de te levar a toalha e admirar esse seu corpo desprovido de roupa.

- EU SABIA QUE NÃO TINHA ESQUECIDO A TOALHA!

Estávamos em um jardim, que ficava localizado na parte de trás do castelo sombrio. Apesar disso, o jardim não era assim tão sombrio. Não tinha cores tão vívidas como era de se admirar em um jardim, mas era cinzento numa mistura de dor e paz. Todos estávamos alinhados em círculo, envolta das três lápides. Conseguia ouvir choros baixos vindo das irmãs e a seriedade vinda dos restantes. Meus olhos analisaram o diferencial das escrituras das lápides, estavam escritas em língua demoníaca. Belial percebeu minha confusão na maneira que eu espremia os olhos, como se isso fosse me ajudar a traduzir o que estava escrito.

- "Adramelech, que a chama de seu coração nunca se apague"; "Sorgen, a miragem mais bela foi aquela que seu sorriso trouxe"; "Supremo, a proteção de um pai não é capaz de apagar seus pecados, mas é capaz de dá-lo uma imagem de honra." – Traduziu, em sussurro. – Eu peço a Abaddon para te emprestar o livro sobre nosso idioma.

A cerimonia decorreu um pouco diferente do que eu estava à espera, Hécate e Treromon foram até a frente dos túmulos dizer palavras queridas sobre a vida daqueles que já não estavam entre nós. Todos depositamos flores mortas, ressecadas; no caso de Thogmon, era apenas um caule sem flor alguma. Demos as mãos uns aos outros e me senti completamente perdido quando em sintonia começaram a recitar palavras desconhecidas. Imaginei que seria uma falta de respeito ter os olhos abertos naquela hora pelo o que tomei a decisão de fecha-los, senti que Belial apertava ligeiramente meus dedos e acenava com a cabeça que não era preciso fechar os olhos. Senti uma onde de vergonha queimar em meu rosto, completamente sem graça. Ele sorriu com aquele mesmo olhar de admiração e ternura que predominava sempre que me olhava, ainda assim, não perdeu o foco e continuou recitando as palavras. Por fim, todos se alinharam em fila, precisei pedir auxílio.

- O que estamos fazendo? – Indaguei, tentando ser o mais silencioso possível. Falhei miseravelmente.

- Quando o chefe morre, ele escolhe o próximo. Essa decisão é revelada quando todos os integrantes tocam sua lápide e um deles ficará com a marca demoníaca na palma da mão. – Explicou Thogmon, nunca tinha reparado que sua voz era tão suave e doce. Me questionava qual era sua verdadeira idade.

- Eu tenho que ir por a mão também? – Perguntei, um pouco sem jeito. Ele sorriu, sua expressão era simpática.

- Não não. – Os risos ligeiros me lembraram uma criança. – São apenas os membros do concelho.

Andei alguns passos para trás, indo de encontro ao meu grupo inicial. Lá estávamos nós mais afastados dos que faziam parte do concelho, Bel estava sempre ao meu lado e conseguia ver Aba e Sat mais ao lado. Observei atentamente cada um dos membros posicionar as mãos na lápide, esperava algo como um brilho mágico, uma pequena explosão ou um som diferente do costume. Nada do que eu esperava aconteceu, e pelas suas feições para eles não tinha sido diferente. Quando percebi a preocupação em seus olhos entendi o que tinha acontecido, nenhum dos membros do concelho tinha a marca. Ninguém? O Supremo não tinha escolhido ninguém? O que isso significava?

- Não se desesperem. – Alertou Mugmothad, com os punhos fechados ao lado do corpo.

- Como não? Ninguém tem a marca. – Respondeu Thogmon, um pouco agitado.

- Normalmente, o Supremo escolhe alguém do concelho para subir ao trono... - Alegou, e delicadamente olhou para o nosso grupo separado dos restantes. – Normalmente.

- Está dizendo que... - Iniciou Succubus, com a voz vacilante.

- Um de nós é o escolhido. – Afirmou Aba, com um tom de voz sério e direto.

Comecei a entreolhar cada um de nós, tinha a certeza que não poderia ser. Mal o conhecia, ele não poderia simplesmente me escolher.

"Você tem mais potencial do que imaginei, novato."

As palavras ecoaram em minha mente e um embrulho se iniciou em meu estômago, não...isso não era nada. Fui em busca de razões para que os outros fossem o escolhido, comecei por Aba. Ele era extremamente inteligente e tinha algum controle das emoções, era culto e...Não poderia ser ele, andava fragilizado com algum assunto que eu não tinha conhecimento. Não tinha cabeça para mais nada, andava mal e cabisbaixo. Distraído. E quanto a Belial? Impossível, no primeiro estresse ele meteria porrada em toda a gente e explodia a cidade. Ele não era de certeza...Sat? Ele também era culto e inteligente, ainda que...Não mostrasse interesse particular por nada nem por ninguém. Ai cacete.... Eu era o escolhido??

- Ghost. – Succubus me chamou, meus olhos estavam arregalados. – Ponha sua mão na lápide.

- E-eu? – Gaguejei, sentia que minha mão estava trêmula. Belial avançou para mais perto de mim, segurando meu braço com firmeza e me guiando junto a ele até a lápide. Tive algum cuidado ao me aproximar da lápide, não queria de maneira alguma estragar ou fazer algo indevido que criasse um clima ruim. Meus olhos seguiram para o rosto de Belial e em seguida para a lápide.

- Faremos isso juntos, apenas estique a palma de sua mão na pedra. – Instruiu, sentia que todos os olhos estavam sobre nós. Inspirei fundo e posicionei minha mão encima da pedra fria quando vi que Belial fazia o mesmo. Podia ver minha mão tremendo sobre a superfície plana, aquele nervosismo estava me revirando o estômago. Retirei a mão quando Belial o fez, virando a palma para cima com receio. Um suspiro me escapou.

- Não sou eu. – Respirei aliviado, não havia nada de diferente em mim. Segui o olhar até a palma de Belial.

- Também não sou eu. – Sua afirmação fez com que todos os olhares fossem parar nos últimos que restavam. Segui o fluxo, observando atentamente Aba e Sat que permaneciam calados e com a postura reta. Um deles é o próximo a sentar no trono. 

Em Direção Às Trevas [Em Revisão]Onde histórias criam vida. Descubra agora