XXI

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GABRIEL


Continuamos avançando pelas ruas movimentadas, cada centímetro daquele local estava repleto de uma energia única e contagiante. Definitivamente, não pensava que demônios fossem assim. Estávamos cada vez mais adentro da vila, já tinha perdido a conta do número de pessoas e o comércio estava em toda parte.

- Conseguiram? - Perguntou Bel, olhei para frente quando avistei com quem ele falava. Aba e Sat estavam vindo em nossa direção, em uma distância relativamente próxima para ouvirem a questão do terceiro.

- Sim, e trouxemos uma para Gabriel. - Afirmou Sat, tirando um frasco de dentro do bolso de seu manto. Reparei no líquido roxo após perceber a feição neutra de Aba, seja lá o que tivesse ali dentro, tinha acalmado os demônios do mais fragilizado.

- O que é isso? - Indaguei, tentando recordar qual era a explicação que Bel havia dado.

- Dentro desse frasco tem uma mistura que tornará sua mente blindada durante algum tempo, desta forma poderá falar com os irmãos sem qualquer prejuízo ou invasão mental. - Explicou Sat, e meus olhos seguiram para Bel. - Não se preocupe, eu e Belial aprendemos a blindar a mente de forma natural.

- Aba não aprendeu? - Me arrependi de perguntar, soou extremamente ofensivo.

- Lá por ser eu o que tem maior desenvolvimento intelectual de nós quatro, não significa que tenha a maior resistência mental. – Desabafou Aba de cabeça baixa. Lentamente erguendo-a. - Iremos aprender juntos a resistir ao poder invasivo dos gêmeos. - Afirmou, sorrindo de maneira amigável, devolvi o sorriso.

Conforme nossos pés avançavam pela vila o ar ia ficando mais sombrio, o vento assobiava e me causava arrepios. Tinha sido aconselhado a olhar para baixo enquanto andava, a rua estava cheia de buracos e pedras salientes. Quando ergui a cabeça, um som de surpresa me escapou, e meus olhos se arregalaram ao ver o enorme, sombrio, elegante e horripilante castelo. Uma torre central se erguia no meio de tantas colunas, feitas de rochas com bandeiras e faixas negras. Os acabamentos eram detalhados, com símbolos desconhecidos e que brilhavam num tom de roxo vibrante. Brilhavam como magia, algo que parecia tão belo e ao mesmo tempo misterioso. Me questionei aonde estaria o Supremo no meio daquela vastidão, quantos mais estariam com ele? Seria assim tão assustador?

Agarrei a mão de Bel. Estava assustado e começava a ver a realidade como era. Tudo aquilo que não avistei na vila de energia rítmica e contagiante, estava ali, naquela construção. Dor, tortura, morte, medo, escuridão... Demônios.

- Bem-vindos, convidados. - Anunciou um dos gêmeos, começava a distinguir seus tons de vozes que eram ligeiramente diferentes. Se prestasse atenção, saberia que Akibel falava com mais rigidez e Akikel mais rápido.

- Cá estamos nós. - Alegou Bel, o mais descontraído que conseguiu. Ainda assim, qualquer um notaria sua frustração e repulsa na presença dos irmãos.

- E vemos que trouxeram o novato. - Disse Akibel, me encarando seriamente. - Ele ainda não falará connosco? É assim tão tímido?

- Não sou tímido. - Afirmei, com todo um orgulho de ser a primeira vez que me dirigia a eles. Especialmente, ao mais durão. - Apenas sei a hora certa de falar.

Senti o ar de surpresa que vinha de todos, também estava surpreso com minha resposta. Meus olhos foram de encontro a Belial, que tinha o semblante orgulhoso. Os olhos cheios de paixão e ânsia. Logo no início, quando subiu encima de mim e me mostrou seus dentes... Ele já era assim desejoso por mim? Desejoso era a palavra certa? Ou ele era.... Apaixonado?

- Posso ver que tem muito que dizer, guarde suas palavras para quando estejamos na presença do Supremo. - Afirmou Akikel, aquele tom irritado não parecia ser característica dele. Olhei curioso para ele, que não se esforçou em esconder a raiva que sentia de mim. Me encarava como se me quisesse morto, como se ele mesmo quisesse me matar. Senti a mão de Belial pousar em minha cintura, e sem tirar os olhos de Akikel percebi como ele encarava o nosso toque físico. Estaria Akikel... Com ciúmes? Ele queria Belial? Essas perguntas foram capazes de incendiar algo em mim, estava na defensiva, em que imaginava Belial como o bem mais precioso que eu lutaria para proteger. Proteger de Akikel, porque Belial era meu. Era meu? A questão anterior voltou a passar por minha mente; estávamos juntos? Romanticamente? Ele me amava? ... Eu o amava?

Não disse mais nada, apenas me permiti ser guiado por ele para o castelo. Tudo parecia cada vez mais escuro e sinistro, poderia jurar que ouvia assobios. Me obriguei a aceitar que o som era originado pelos ventos que sopravam velozes, mais uma onda de arrepios dominou meu corpo antes que eu pudesse passar pela porta de entrada. Tirei a mão de Belial de mim, quando meus olhos foram de encontro à escuridão, tudo estava aparentemente abandonado e ainda mais sombrio. A única luz que invadia o local pertencia à lâmpada carregada por Akibel. Pouco conseguia ver, era espaçoso e vasto, tinha colunas altas e espessas. Mas a escuridão não me permitia ver os detalhes, nem sequer se havia algum tipo de móvel ou decoração no hall principal.

Estiquei a perna no ato de caminhar e dei um passo em falso. Em um piscar de olhos já não estava no hall. Me encontrava em um cómodo, um quarto gótico com detalhes assustadores. Manchas de sangue nas paredes, espinhos na base da cama, tapete de pele de animal.

- Por que fez aquilo? - Perguntou Belial, estava com as sobrancelhas franzidas.

- Aquilo o quê?

- Você tirou minha mão da sua cintura, quero saber o porquê. - Respondeu, e reparei que havia tomado aquela decisão sem pensar muito no que poderia significar.

- Não estamos na cama, não vejo razão que te motive a me tocar. - Lancei irritado, algo estava me incomodando e eu estava deixando transparecer.

- Do que raios está falando? - Ele também estava irritado, tentou pegar em meu braço, mas eu desviei. - Eu não te toquei por isso.

- Então porque me tocou? Porque quer continuar me tocando? Sou algum tipo de piada para você, por isso sempre foi tão ignorante e ria dos meus fracassos?

- O quê? Gabriel, você não faz ideia do que está falando. O que te deu? - Indagou, mais preocupado. Nem eu sabia o que tinha me dado. - Aquilo... Eu não agia daquela forma para te irritar ou te fazer sentir mal, agia assim porque.... Você é uma gracinha, e eu não sabia como chegar em você. Você é meu, Gabriel.

- Eu sei, você já disse que eu era seu. Mas e você, Belial? Você é meu? - Encarei-o, e ele pareceu surpreso.

- É disso que isso tudo se trata? Está irritado por eu não disse que eu sou seu?

- Porque Akikel te olha daquele jeito? Como se quisesse dormir contigo? - Não tive freio ao questionar, mesmo sabendo que não era ele que tinha que se justificar.

- Oh Gabriel... - Ele pousou a mão em minha bochecha, olhei para o outro lado. - Você está inseguro?

- Calado, não estou inseguro. Apenas não gosto que aquele cara te olhe assim. - Afirmei, cruzando os braços. A risada aveludada de Belial me atingiu e voltei a virar o rosto para ele, seus lábios saborearam os meus.

- Preste atenção, bobinho, eu não quero nada com mais ninguém. Quero você, então deixa de ser birrento e me encara.


Em Direção Às Trevas [Em Revisão]Onde histórias criam vida. Descubra agora