mais um dia

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Stenio não conseguiu dormir naquela noite. Se deitou na cama dos dois depois de dar uma desculpa qualquer para Creusa de que Helô teve uma operação policial e por isso não havia voltado para casa.

O cheiro dela estava por toda parte, havia marcas dela em todos os lugares. Stenio sabia que não iria sobreviver a outro divórcio. Ele não aguentava mais pagar as marcas que Heloísa deixava em sua vida. não aguentava mais tentar fingir que algo não o lembrava dela, não poder ficar ansioso o dia todo só porque sabia que a noite iria vê-la. Não toleraria ser solteiro mais uma vez.

Mandou mensagens durante a noite e madrugada pedindo desculpas e tentando fazer com que ela entendesse que foi um descuido, que ele realmente não tinha olhado o nome de quem fez a prisão

A única resposta que obteve dela dizia que o problema não era ela ter feito, e sim o fato de que o dinheiro que ele fazia era sujo e ela não se conformava com o fato de que ele vivia de libertar pessoas culpadas.

Em certo ponto, ele desistiu de argumentar. A última coisa que disse a respeito era que era seu trabalho e que se havia uma brecha na lei ele não tinha o que fazer. Que dava os direitos dos clientes a eles, e nada mais.

Heloísa, obviamente, não aceitou e continuou dura na queda.

Quando ele cessou a conversa ela não respondia mais apesar de ter lido a mensagem

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Quando ele cessou a conversa ela não respondia mais apesar de ter lido a mensagem.

Ele correu para o escritório na manhã da briga. Nem tomou café da manhã, tomou um banho rápido, se vestiu, pegou o carro e foi pra lá a milhão.

Pelo que ele conhecia de Heloísa, os papéis do divórcio estariam esperando por ele na mesa do escritório, visto que ela tinha cumprido com a palavra e passado a noite fora de casa

Ao chegar no escritório Alencar Monteiro, ele saiu correndo pelo corredor.

— Bom dia Olívia e Laís. — Declarou, correndo apressado com o blazer em mãos.

Entrou em sua sala de maneira a ignorar como as mulheres daquele escritório tinham estranhado toda a pressa dele. Elas estavam acostumadas que ele parasse ali, cumprimentasse cada uma delas, e conversasse amenidades como tudo bem? Como vai a família? Quais os planos pra hoje? Mas Stenio simplesmente parecia pilhado demais para isso.

Ele entrou em sua sala com os olhos fixos na escrivaninha. Muitos papéis ali em cima.

Stenio sentiu a alma sair do corpo, largou a bolsa e o blazer no chão e se apressou até a mesa, e parou de pé ali encostado. Mexeu nos papéis com pressa. Muita documentação estava esperando por ele naquela manhã.

— Caso, caso, caso, contrato, contrato, caso, liberação e... — Stenio se permitiu jogar o corpo na cadeira, aliviado.

Nada de pedido de divórcio, por enquanto.
Por que ela ainda não havia pedido?

No final do expediente, ela recebeu uma ligação de seu marido. Resolveu atender. Não tinha o que fazer, precisava continuar com sua vida. Uma hora ela teria que falar com ele.

— Oi. Seu carro ainda não ficou pronto, então vou te buscar hoje. É aniversário da Guida, lembra? Então precisamos..

— Não precisa. — Ela foi breve.

— Amor..

— Carlos me dá uma carona. Era só isso?

Um silêncio constrangedor ficou entre eles.

— Só isso. — Stenio declarou, e desligou o telefone.

Ela sabia que ele não gostava do policial que vivia dando em cima dela. Ela mesma já tinha cortado ele um milhão de vezes, mas estava com raiva, então era justo usar isso contra o marido.

Heloísa sentiu uma pontada de arrependimento por ter feito o que fez. Sabia que precisava encaminhar seu casamento para fazer as pazes, mas ele a estava irritando tanto ultimamente que ela simplesmente não conseguia mais fingir que não estava acontecendo.

Quando Heloísa percebeu que ele poderia pedir o divórcio a qualquer momento pela maneira como ela estava se comportando, sentiu o ar faltar.

— Yone, você me dá uma carona? — Ela se levantou, ajeitando as coisas.

— Opa, claro, delegada. — Yone logo se levantou.

— Na verdade, preciso um presente pra minha prima antes.. Deixa que eu..

— Ah, ótimo, eu estava precisando mesmo passar no shopping! — Yone se animou.

Heloísa suspirou aliviada.
Melhor do que pedir ajuda de Carlos de verdade no final das contas.

Quando ela entrou no quarto, Stenio estava sem camisa, na frente do móvel, olhando as camisetas dobradas.

Ele levantou o olhar para ela. Estava de calça jeans e cinto. Os pés descalços.
Por que ela sentia tanta atração por esse homem mesmo quando queria matá-lo?

Heloísa considerou deixar a rixa por um segundo, e ir até ele e beijar aquela boca que ela tanto sentia falta. Mas sabia que não podia, e seu orgulho não deixava.

— Oi, amor. — Ele cumprimentou num tom baixo, oferecendo paz.

Ele era tão carinhoso, Heloísa sentia raiva do quanto. Ela não conseguia ficar brava por muito tempo.

— Oi, Stenio. — Ela deixou as sacolas em cima da cama.

Stenio deixou a gaveta aberta e foi até ela.

— Presente da Guida? — Perguntou, analisando as sacolas.

— Esse sim. — Helô separou a sacola mais enfeitada, das outras duas. — Estes são meus.

Stenio abriu a sacola e viu a lingerie e o vestido que ela havia comprado.

— São pra hoje? — Ele a olhou, com a calcinha fio dental em mãos.

— Sim. Esse vestido não fica bem com qualquer tipo de sutiã, então tive que comprar esse. Vou me arrumar, fico pronta em menos de 50 minutos.

— Você comeu? Quer que eu prepare alguma coisa enquanto..?

— Eu como na festa, Stenio. — Heloísa o encarou.

O tanto que ele era carinhoso e atencioso a irritava. Ela queria brigar.

Heloísa deu um passo em direção ao banheiro, para tomar seu banho. Sentiu, no entanto, Stenio apertando seu braço esquerdo, trazendo a delegada para si.

— Aiiii. — Ela fingiu dor.

— Me desculpa. — Ele sussurrou, segurando o rosto dela com as duas mãos, carinhosamente. Depositou selinhos nos lábios dela, os quais Heloísa não retribuiu. — Me desculpa, meu amor. Eu juro que não vi. Vou ficar mais atento com seu nome.

— Ai. — Ela deu um passo para trás com muita dificuldade, apoiando a mão no braço onde ele a tinha puxado. — Me machucou. — Fez uma ceninha antes de ir embora para o banheiro e trancar a porta.

Stenio sorria como um cafajeste com o canto do lábio vendo ela se afastar. Adorava quando ela fazia essa graça.

Helô fechou a porta e encostou as costas ali.

— Por que eu não consigo dizer não, meu Deus? — Sussurrou para o teto, antes de ir em direção ao seu banho.

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