Stenio estava afoito. Não conseguia prestar atenção em nada. Podia jurar que estava tendo uma crise de ansiedade.
Laís o puxou pelo braço pra um canto.
— O que que foi?
Questionou ela já sabendo que o melhor amigo não estava bem. Os olhos de Stenio automaticamente ficaram vermelhos e lacrimejando, ele pôs as mãos na cintura olhando para baixo para evitar chorar mas não conseguiu.
— Um colega da Helô morreu numa operação onde ela participou. Podia ter sido ela, Laís. Eu poderia estar organizando o velório da minha esposa nesse exato momento! — Ele caiu num choro frenetico, sem ar.
Laís se aproximou abraçou o amigo com todas as forças que tinha.
— Por que você não vai lá ficar com ela?
— Tem tanta coisa a fazer..
— Eu fico no lugar. — Laís se prontificou.
— Ela não quer o canalha que sempre solta os presos deles no meio de todos os policiais. Vai sentir vergonha de mim. Eles todos devem me odiar.
Laís suspirou.
— Como você acha que Helô está?
— Péssima. — Ele respondeu brevemente.
— E você precisa estar com a sua esposa. Dane-se o que ela disse. Dane-se o que os outros pensam. Ela precisa de você, Stenio. Vai, eu dou um jeito em tudo aqui.
— Se você tomar decisões erradas.. — Ele ameaçou frustrado.
— Você tem que confiar na sua parceira de escritório. A única decisão errada aqui seria não dar surporte pra sua parceira de vida. — Laís entregou a chave do carro dele que ficava pendurada com as mãos na mão do amigo. — Vai.
Quando Heloísa saiu do enterro, deu de cara com seu marido de terno preto e óculos de sol, parado na frente do carro deles de braços cruzados. Esperando por ela.
Heloísa respirava fundo, o coração quase escapando do peito pelos batimentos fortes ao vê-lo ali. Ainda estavam distantes, mas podiam se ouvir.
— Sei que eles provavelmente me chutariam se eu entrasse ali mas ninguém falou nada sobre ficar na porta.. — Ele deu um sorrisinho com o canto do lábio tentando amenizar a situação.
Heloísa caiu no choro e correu para abraçá-lo, derrubando a bolsa no chão. Stenio a pegou nos braços, as mãos em sua cabeça, beijando sua testa. Acariciava os longos cabelos, acalmando.
— Eu sinto muito meu amor. Eu sinto muito mesmo.
Heloísa chorava de soluçar em seus braços.
E ele deixou, por quanto tempo ela precisasse.Yone e Stenio trocaram um aceno com a cabeça como se transferissem a responsabilidade um para o outro. Stenio podia estar louco, mas parecia ter feito a coisa certa em largar tudo para estar ali. Era como se tivesse a aprovação de Yone.
Quando Heloísa se acalmou, ele pegou a bolsa dela no chão e a guiou com a mão na cintura até o o outro lado do carro, onde abriu a porta para que ela entrasse. Colocou a bolsa em seu próprio ombro e deixou no banco de trás. Entrou no de motorista e olhou para ela, ainda com o carro desligado.
Fez um carinho no rosto dela.— Um real pelos seus pensamentos. — Ele brincou, como flertavam na época na faculdade.
— Ele morreu sob meu comando. — As lágrimas de Heloísa voltaram a cair. Raras eram as vezes que ele havia visto ela tão vulnerável.
— Heloísa. — Stenio pegou a mão dela e enlaçou os dedos com força fazendo que ela olhasse para ele. — Você era a líder. E liderou tão bem, que prenderam todos os caras ruins. Você não é Deus, você não é responsável por quem você, e quem morre. Você é responsável sim pelas estratégias e tenho certeza que você fez o melhor que pôde. Fatalidades acontecem. Você não controla cada um dos seus agentes, e eu nunca mais quero te ouvir assumindo a culpa por isso de novo. Não foi culpa sua. Você é uma delegada brilhante.
Ele soltava palavras de afirmação conforme eles dirigiam juntos em direção a casa. Não falaram mais nada. Ela não parava de chorar fraco e ele não soltava a mão direita da dela.
Quando chegaram em casa, o clima ainda estava pesado. Creusa já sabia. Cuidou do jantar enquanto Stenio cuidou de Helô. Tomaram um banho quentinho juntos e foram pra cama, antes de jantar, porque ela não queria comer.
— Hoje a esposa dele vai dormir sozinha. Ele não vai voltar pra casa. — Ela sussurrou com o nariz entupido e a voz entrecortada.
Stenio fazia carinho nas costas dela, estavam deitados um de frente pro outro.
— Poderia ter sido a namorada da Yone que ia dormir sozinha hoje. Ou poderia ter sido eu.
Ele abordou o assunto.
— Eu não vou parar de fazer o que faço. Já te falei antes e vou falar de novo.
— A gente conversa sobre isso outro dia, tá bem? Hoje eu só quero que você coma alguma coisa e escolha alguma coisa pra gente assistir juntinho no sofá da sala.
— Não to com fome.
— Mas tem que comer. Um passarinho azul me contou que você não se alimentou direito hoje e botou tudo pra fora. Vamos comer só um pouquinho? — Ele pediu com a voz mansa, fazendo carinho na bochecha dela.
Heloísa suspirou, contrariada.
Como poderia viver sem aquele homem cuidando dela daquele jeito?Foram juntos comer, e quando se deram conta estavam de dentes escovador no enorme sofá-cama assistindo um filme de comédia.
Stenio suspirou aliviado por ouvir risadinhas dela uma ou duas vezes. Ela não desgrudava dele, e apertava sua camisa com força, como se precisasse ficar muito perto.Começou a sentir enjoo, e contou para Stenio.
— Foram muitas emoções meu amor. O corpo da gente responde mesmo. — Ele beijou a cabeça dela fazendo cafuné. — Aguenta firme e tenta não vomitar. Já já você fica forte de novo pra enfrentar o dia de amanhã. — Ele prometeu.
Heloísa adormeceu em seu peito e ele não conseguiu mudar de posição por horas. Ver aquela mulher tão vulnerável e cansada em seus braços e saber que finalmente conseguia ser o marido que cuidava e dava colo e que era quem ela precisava pra ficar bem.. Seu peito se encheu. Qualquer que fosse q crise, se amavam como nunca. E o amor nunca se apagaria.
Ele fez um malabarismo para desligar a televisão e as luzes, pegar sua amada no colo e a levar para a cama.
Helô ficou afobada quando não sentiu o corpo dele perto dela enquanto ele ajeitava as coisas ao redor. Abriu os olhinhos, sonolenta e preocupada procurando por ele: logo se acalmou ao tê-lo na cama ao seu lado e se agarrou nele de noite.
Não se separaram nem por um centímetro naquela cama, ela estava quase em cima dele. Stenio mal dormiu, ficou admirando ela e vendo se estava bem, fazendo carinho nos cabelos.
Por ela, ele daria a vida.
E não saberia mais viver sem ela.
Divórcio ou morte, fosse o que fosse.
Precisavam conversar.
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