tentando

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Heloísa encarou bem o suspeito a sua frente.

- Só falo na presença do meu advogado. - Ele levantou as mãos para o alto como se estivesse sendo rendido.

- Ok. - Heloísa fez uma careta, concedendo o direito do rapaz. - Manda chamar teu advogado.

Heloísa voltou para sua sala e logos trinta minutos se passaram enquanto ela esperava a chegada do dito cujo. Deu procedência numa papelada que tinha mas sua cabeça fervilhava querendo arrancar uma confissão do homem que a esperava na sala ao lado. Ele precisava denunciar o paradeiro de outro bandido que ela perseguia.

Não acreditou quando viu os cabelos grisalhos atravessando a delegacia.

- Mas eu só posso ter morrido e o diabo tá me azucrinando com o meu pior pesadelo meu Deus! O que é isso? - Heloísa passava a mão pela raiz dos cabelos como se não pudesse acreditar.

Yone levou uns segundos olhando aos arredores até entender o que estava acontecendo. Era claro que Stenio era o tal advogado.

Nada na sequência surpreendeu Heloísa. Stenio tinha treinado aquele filho da puta direitinho para não responder nada e fingir de santo. Que não sabia de nada. Era mentira, Heloísa podia farejar. Mas desse modo, não o incriminava em nada, e ela não tinha escolha senão liberá-lo.

- Muito bem. Você treina seus macaquinhos muito bem. E impede a justiça de ser feita.

- Helô eu não..

Ela levantou a mão para o alto impedindo o advogado de continuar falando.

- Some da minha frente que eu já tô por aqui com você. - Sinalizou ela, cortando a garganta com os dedos. - Só cala a boca e vai embora, Stenio. AGORA.

O último grito fora um aviso.
Stenio engoliu em seco.
A caminhada de volta para o carro fora sofrida. Tentou olhar para Yone e ver se havia algum jeito de reaver a situação, nada. Voltou pelo Rio de Janeiro todo dirigindo apenas com o som do ar condicionado do carro entrando nas entranhas de seu cérebro.

Seria sempre assim.
Ele não iria mudar.
Ela não iria mudar.
Eles não dariam certo.
Eventualmente, se divorciariam de novo.

Stenio odiava essa sensação. Essa sensação de que a qualquer momento estava para acontecer. A qualquer momento, a explosão. A qualquer momento.. Escombros para todo lado. Stenio se lembrava muito bem da sensação de estar sozinho e de não ter sua mulher do lado. Sentia falta de ar só de imaginar vivenciar tudo isso de novo.

Voltar para um apartamento vazio. Não ter um corpo delicioso para agarrar todas as noites com aquele cheirinho tão particular dos cabelos. Do jeito que ela gemia enquanto se espreguiçava de manhã antes de olhar para ele com os olhinhos brilhando e sorrindo, dizendo um bom dia preguiçoso e muito rouco.

Stenio secou a lágrima que caira por seu rosto.
Ele tentava realmente mudar. Tentava não pegar os casos de Helô. Mas a história era completamente diferente quando ele já representava alguém e a polícia requisitava a presença do advogado.

Era um espiral sem fim. Sem começo. Lados opostos de uma constante batalha, que ele sempre sentia perder.

Seu coração doía fisicamente. Ele queria se desculpar, queria mesmo. Mas o que poderia fazer? Desistir de seus clientes e deixar que fossem pegos com a boca na botija?

Stenio estava começando a se ressentir com seu próprio trabalho. Odiava quando as coisas esbarravam entre ele e Helô, e considerou não advogar mais. Será que só gerindo o escritório as brigas cessariam ou pelo menos diminuiriam? Óbvio que não.

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