— Fernanda? — Ela perguntou assim que entraram na adega de Guida, fechando a porta.
Stenio assentiu. pegando a garrafa e abrindo a tampa. Pegou dois gelos, e colocou dentro do copo, bem como pegou o dosador de whisky.
— O escritório precisa de alguém no direito do consumidor e ela se candidatou. A Laís quem me contou.. Enfim.
— E por que você não me contou?
— Você tava muito ocupada dormindo fora de casa e pegando caronas com outros homens. — Stenio levantou o olhar e a encarou.
Heloisa balançou a cabeça negativamente e encostou no balcão, de frente para ele. Agora estava de braços cruzados enquanto ele colocava as doses dentro do copo.
— Vocês vão levar ela de volta pro seu escritório? — Perguntou de uma vez.
— Não sei. Acho que sim. Quer dizer, a Laís achou uma boa. O currículo dela é bom.
Heloísa engoliu a seco.
— O que você acha disso? — Ela questionou.
Stenio deu a volta no balcão, experimentando um gole da bebida. Estava boa, então deu o copo para sua mulher. Heloísa o pegou, descruzando os braços.
Stenio apoiou as mãos ao redor da cintura dela, no balcão, a pressionando contra o mesmo.
— Eu quero o que for bom pro escritório. Precisamos de um advogado, ela preenche os quesitos. Pode ser ela, como pode ser alguém que eu sequer conheço. Pra mim, tanto faz, desde que no final do dia eu consiga mais clientes.
Heloísa respirou fundo, o encarando.
— É só com isso que você se preocupa? Mais clientes e mais dinheiro? O tempo todo?
Stenio passou a língua pelo lábio inferior, contrariado.
— Eu me preocupo com você. — Foi curto e grosso. — Dia e noite, a ponto de não conseguir dormir porque você não voltou pra casa. E eu não quero que você faça isso nunca mais, não importa o quão brava você esteja comigo.
Arriscou.
Afinal, se ela não havia pedido o divórcio ainda, era porque queria investir no casamento. Ele precisava mostrar que se importava.— Vou ter que te colocar pra dormir no sofá se eu ficar em casa enquanto estiver brava com você.
— Eu durmo na piscina, na banheira.. Onde você quiser. Mas eu nunca mais vou aceitar que você durma fora de casa. Combinado?
Ela sabia que estavam brigando, mas esse tom de voz provocava coisas.
— Eu dormi aqui na casa da Guida. — Explicou.
— Eu sei. E tudo bem. Mas sua casa é outro lugar, é comigo. Fugir dos nossos problemas não vai resolver nossa situação. Pegar carona com homens que querem você, pra me irritar, não vai resolver nosso problema.
— Não quis te deixar irritado..
— Você quis sim. E conseguiu. E sabe disso.
Heloísa encarou o peitoral dele. Os primeiros botões da camisa. Era o álcool, ou ele estava muito perto? Sentia um calor subir por todo seu corpo.
— Bom, agora estamos kits. Você tem seu Carlos no trabalho, exceto que a Fernanda.. Já dormiu com você. Várias vezes.
Stenio suspirou.
— Eu nem sei se ela vai de fato entrar, Helô.
— E se ela entrar? — Heloisa cruzou os braços, o encarando. Queria respostas, mas não sabia nem ao certo quais perguntas queria fazer.
Stenio tinha as sobrancelhas franzidas e agora segurava a garrafa de whisky na mão direita. Apoiou a garrafa na mesa, e suspirou, frustrado. Algo dentro de seu ser sabia que aquilo se tornaria em mais um tópico de discussão entre eles, mas ele não queria admitir.
— Se ela entrar, Heloísa.. — Ele balançou a cabeça negativamente. Suspirou, evitando olhar para ela. — Eu não vou poder fazer nada. Não posso sabotar o emprego de alguém só porque namoramos anos atrás.
— Eu nunca te pedi pra fazer isso. — Heloisa se defendeu mais do que prontamente.
— Então o que você quer com essa pergunta, Helô? O que você quer de mim? — Stenio levantou o olhar para ela.
Heloísa desceu o olhar para a garrafa. Arrastou pela mesa até trazer perto de seu corpo, e abriu a tampa sozinha. Forte. Delegada. Não precisava da ajuda dele para nada. Ou talvez precisasse.
— Foi só uma pergunta. — Ela disse, dando pouca atenção a conversa que estavam tendo, enquanto despejava o líquido dentro do copo.
Stenio odiava aquilo. A mania dela de fugir de assuntos sérios. Ele queria entender o que se passava na cabeça do amor de sua vida, de modo que ele nunca mais tivesse que se preocupar com a possibilidade de ter um pedido de divórcio esperando por ele de manhã, em cima de sua mesa no escritório.
Heloísa virou o corpo para sair dali, mas ele foi mais rápido e bloqueou a saída.
— A gente tá bem? Eu e você? — Ele olhou diretamente para os lábios dela.
Heloísa se perdeu com a proximidade, com o braço dele no batente da porta. Os músculos estavam marcando naquela camisa, e a vontade de tê-lo para si falou mais alto.
Assentiu, aproximando a boca do rosto dele, deixando a garrafa de lado, em cima do móvel. Puxou o marido para si pela gola da camisa, e Stenio se perdeu no beijo de língua que recebeu da delegada. Não conseguiu negar, se afastar, muito menos continuar o assunto, por mais que soubesse que era o certo a se fazer.
De uma maneira ou de outra, tudo acabava assim entre eles: na cama. Para o bem, ou para o mal. Stenio achava bom que no fim das contas pelo menos isso tinham em comum. Era quase como se fosse um elo inquebrável que ainda tinham, uma carta na manga, um pró em meio a tantos contras.
Ele a empurrou contra a parede, descendo os beijos para seu pescoço. Heloísa sentiu quando ele a pegou em seu colo, pressionando a cintura na dela. Escutou a esposa soltar uma risada gostosa ao sentir a barba dele pelo decote, mordendo seu seio no espaço que havia até o pedaço de pano cobrindo.
— Stenio, aqui não. Agora não. — Ela o reprovou, o que fez com que ele acordasse do transe, e olhasse para ela.
Ambos estavam ofegantes, e ele agora parecia contrariado. A soltou no chão, e assistiu enquanto Heloísa arrumava as roupas.
— Chegando em casa você não me escapa.
Heloísa não queria se dar por vencida, mas acabou rindo.
— Vai, pega essa garrafa logo e vamos voltar pra festa. — Ela fez um gesto com a cabeça.
Stenio pegou a garrafa com a mão direita, e puxou Helô com a esquerda. Ela saiu segurando seu drink, com a outra mão entrelaçada na de seu marido.
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