Capítulo 15

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Apesar de toda a confusão mental que o assolava, Park Jimin precisou admitir que passar a noite com Jungkook foi uma das melhores decisões que tomou naquele dia, pelo menos, encarava aquilo como um avanço pessoal depois de tanto tempo se privando de agir como uma pessoa normal.

O médico optou por pedir um delivery naquela noite para ambos, optaram por comida japonesa, uma das culinárias preferidas de Jimin e que Jungkook fez questão de comprar quando descobriu. Jantaram juntos na bancada que dividia os ambientes da cozinha com a sala, com o médico jogando conversa fora sobre as aventuras que já teve ao lado de Min Yoongi e mostrando algumas de suas bandas de rock preferidas, como Queen, Europe e Aerosmith. Ficou em silêncio na maior parte do tempo, na verdade, apenas ouvindo Jungkook tagarelar enquanto seu humor parecia melhorar conforme os minutos passavam.

E, enquanto Jungkook se ocupou em se livrar da pouca louça que usavam, Jimin aproveitou o momento para ir até a varanda da cobertura do médico - que era de frente para praia, uma vista bastante tentadora naquela hora da noite - com uma latinha de cerveja na mão direita e o maço de cigarros e um isqueiro na mão esquerda. Tinham duas cadeiras ali ao lado de uma mesinha, ambas de alumínio reforçado, e Park Jimin apoiou a lata de cerveja ali para conseguir acender seu cigarro, pegando-a em seguida e largando o maço e o isqueiro na mesa para conseguir ir até a sacada, apoiando-se ali enquanto encarava o mar e tentava sobreviver ao cheiro enjoado da maresia.

Deixava a fumaça prejudicial ocupar seus pulmões por alguns segundos antes de liberá-la pelas narinas, já intercalando com poucos goles de cerveja enquanto encarava a movimentação do mar. Foi ali que constatou que, talvez, passar a noite ali de fato fosse uma boa ideia, permitir-se entrar de cabeça em mais uma tentativa amorosa. Jeon Jungkook provava ser um homem excepcional a cada dia que se passava, e parecia sincero quanto ao interesse por sua pessoa. Jimin nunca exigiu demais das pessoas, o mínimo já era o suficiente para o cativar, principalmente pelo fato de não se achar merecedor de receber tanto. Todavia, Jeon Jungkook havia superado todas as suas expectativas - e em tão pouco tempo -, além de o ter envolvido tão rápido, que passou a se perguntar se merecia, de fato, tanta dedicação de outra pessoa.

Jimin sempre imaginou que no dia em que se envolvesse verdadeiramente com alguém, seria ele quem seria a pessoa que faria o melhor de si para fazer o relacionamento se manter estável, seria ele quem seria o provedor, quem seria o cuidador, o ombro amigo, enfim, a pessoa responsável. Mas desde que conheceu o médico, aquela noite fora a primeira vez em que se viu naquele papel - em virtude do cansaço extremo que Jungkook se encontrava -, todas as outras vezes, era o médico quem estava estendendo seus braços para si de forma acolhedora.

Será que estava tudo bem se deixar levar por tudo aquilo? Pois, naquele momento, sentia uma necessidade quase insuportável de se abrir com o médico, pelo menos, expôr um pouco dos pensamentos que o deixavam tão aflitos a todo momento.

A verdade era que Park Jimin estava se cansando de carregar o mundo nas costas e precisava, desesperadamente, de alguém que pelo menos o ouvisse sem julgamentos. Havia se fechado por conta de tantas tentativas falhas - com seus pais, no único mês de tratamento com um psicólogo que não o compreendia, com amigos que se afastaram depois de um tempo, com desconhecidos com quem se encontrava pelos aplicativos de namoro -, chegando a conclusão de que não valia a pena externalizar seus sentimentos e pensamentos, tão incompreendidos pelas pessoas de seu entorno. Desejava, ardentemente, do fundo de seu cerne, ser uma pessoa normal, como todas as pessoas ao seu redor, sentir-se genuinamente feliz, ter energia para buscar por hobbies saudáveis, para cuidar de si e do seu corpo, queria sentir-se bem consigo mesmo. Queria, em outras palavras, sentir coisas boas, e que os pensamentos deprimentes e mórbidos o deixassem em paz por algum tempo.

Mas sentia-se mais cansado a cada dia que se passava, a cada vez que o dia mal amanhecia e seu despertador tocava, a cada vez que precisava vestir o personagem de bom homem trabalhador sociável, exemplo e orgulho da família. Park Jimin não queria passar o resto de sua vida trancado em um escritório trabalhando até a exaustão, mas, ao mesmo tempo, não tinha energia nem motivação para correr o risco.

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