Capítulo 6

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Viver é como estar à deriva, com apenas as forças dos braços o impedindo de afundar. Há momentos em que a água está calma, e qualquer movimentação é capaz de fazê-lo entrar em movimento. Há momentos em que a água está revoltada e você precisa lutar para não se afogar em meio às ondas. E há momentos em que você simplesmente se deixa afundar pelos braços já estarem cansados.

E, enquanto afunda, com os olhos fixos na luz que vinha da superfície, você se pergunta qual o sentido de todo o esforço gasto para se manter nadando, rumo à um local desconhecido.

A vida segue em frente para aqueles que ainda possuem força para continuar. O que acontece com aqueles que se cansam e perdem suas forças?

Eles afundam.

Era nisso em que Park Jimin estava pensando enquanto encarava aquele mar escuro durante a noite. Jungkook ainda estava ao seu lado, deitado sem se importar que a areia fosse sujar a calça preta, encarando o céu estrelado.

Alto pela bebida, mas não o suficiente para perder completamente a lucidez, levantou a garrafa de vinho e apontou para o mar, atraindo os olhos redondos do médico para si.

— Eu me pergunto quando as coisas começaram a ficar tão ruins. — Comentou, mais consigo mesmo do que para Jungkook, porém, o médico virou de lado para conseguir o encarar melhor. — Estou cansado deste lugar... Em como as pessoas mudam e eu continuo estagnado no mesmo lugar.

Era um daqueles raros momentos em que Park Jimin conseguia verbalizar alguns de seus pensamentos, quando tentava organizar em palavras o turbilhão que acometia sua mente todos os dias. A bebida facilitava, é claro, ficava mais falante quando estava se sentindo alto.

— Lembro de um tempo em que tinha altas esperanças e expectativas, mesmo trabalhando para mantê-las baixas. Eu me pergunto onde elas estão agora.

Jeon Jungkook o fitou durante todo o discurso, em silêncio, não querendo interferir naquele momento. Percebeu que Jimin ficava menos tenso quando bebia e sua desenvoltura também melhorava, o que em geral não era algo ruim.

No entanto, era um jogo perigoso alimentar pensamentos daquele tipo quando se estava sob o efeito da bebida.

Não era como se Jimin fosse fazer alguma coisa, de fato, não o faria. O Park apenas ficou pensativo de repente, após bons minutos de conversa onde até soltou uma risada ou outra.

— O que você acha disso? — Devolveu a pergunta para Jungkook, desviando os olhos gordinhos do mar e os repousando no médico ao seu lado, que suspirou.

— Eu acho que todos nós estamos meio doentes. O mundo, como um todo, está doente. — Respondeu, tentando seguir em uma linha de raciocínio que Jimin poderia entender. — Somos de uma geração em que nos foi prometido o mundo, crescemos criando expectativas sobre o futuro, a esperança de um futuro melhor e de uma vida boa e confortável para todos. Mas, quando finalmente crescemos, todo o suporte que construímos foi tirado de nós.

Park Jimin ficou em silêncio, absorvendo aquelas palavras que faziam tanto sentido para si. O médico tinha razão, e isso o fez rir, genuinamente.

— Crescemos na glória da geração anterior, e fomos jogados aos restos. Não é engraçado? — Jimin riu enquanto falava, agora também se lançando ao chão ao lado do médico. — E ainda nos chamam de fracos... Como suportar uma vida dessas sem ficar doente?

— O mundo está doente, de fato. — O médico concordou, dando um impulso para se levantar. — Estamos morrendo, isso devia ser razão suficiente para uma preocupação coletiva.

— Sim! — Jimin exclamou. — Mas estamos tão acostumados a conviver com a morte que se tornou algo... Banal. Não é nada demais.

Jungkook parou onde estava, ao lado de Jimin, encarando-o de cima. O Park voltou sua atenção para o médico, os cabelos soltos estavam caídos sobre seu rosto naquela posição, tapando-o um pouco.

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