Círculo Vicioso {jikook}

Capítulo 23

Aquela era a primeira vez que o carro de Jeon Jungkook estava completamente silencioso. Ou melhor, sem estar com o rádio tocando alguma de suas músicas dos anos 80, ou o miami bass dos grupos mais recentes que tanto gostava.

Nenhuma batida animadora, ou som de guitarra para animar o corpo.

Nenhuma dancinha ou piadinha infame por parte do médico.

Apenas o som do acelerador na medida em que disparava pelas ruas de Buk em direção ao hospital mais próximo, costurando entre os carros em uma tentativa de ganhar tempo.

E também os gemidos sôfregos e dolorosos de Park Jimin no banco de trás de seu carro. Jungkook estava evitando olhar para o retrovisor, pois não queria encarar o estado em que o rapaz se encontrava.

Na verdade, não queria sequer acreditar no que tinha presenciado no apartamento do outro, na quantidade de caixas de comprimidos espalhadas pelo chão. Era como se sua mente quisesse se recusar a gravar aquilo em sua memória, se recusando a aceitar que Jimin havia tentado verdadeiramente o suicídio.

Não conseguia entender o que tinha feito de errado, parecia estar tudo bem, apesar de um ou outro rompante deprimido do Park.

Talvez devesse de fato ter falado sobre o tratamento com o psicólogo antes de qualquer coisa, mas não queria se mostrar incisivo, visto que até mesmo mencionar o tratamento psicológico parecia que iria afetar o outro drasticamente.

Talvez devesse ter insistido para que Jimin dormisse em sua cobertura mais vezes, assim estariam próximos e teria um controle maior da situação. E mesmo se o Park tivesse tentado contra a própria vida ali, poderia ter agido mais rapidamente.

Vários "e ses" começavam a atordoar sua mente enquanto dirigia, e isso tornava o ato de dirigir cada vez mais difícil, principalmente com a visão embaçada pelas lágrimas de nervoso.

Durante o trajeto, a mente de Jungkook estava trabalhando a mil, pensando em diversas formas em que poderia ter evitado aquilo, nas formas em que poderia tentar ajudar os médicos - se lhe fosse permitido, o que duvidava -, bem como seus pensamentos eram invadidos pelo medo de perder o rapaz, de não ser capaz de olhar em seus olhos gordinhos novamente, de contemplar seu sorriso, de beijar os lábios cheinhos, de ouvir sua voz zombeteira o chamando de "amigo da morte" outra vez.

"Amigo da morte", essa palavra ficou ecoando em seus pensamentos, martelando duramente, trazendo consigo algumas lembranças infelizes, de quando ainda era um simples residente que tentava a todo custo salvar as vidas que sofriam durante a covid-19, sem sucesso.

Naquela época, chegou a imaginar que era portador de algo ruim, que atraía a morte para as pessoas que se aproximavam de si, e foi por este mesmo motivo que resolveu se afastar dos hospitais e se especializar em medicina forense. Se era para ser o portador das más notícias, que pelo menos fizesse isso para trazer um mínimo de conforto para as pessoas que perdiam um ente querido de forma trágica, ou para trazer lucidez a algum caso que precisasse de um olhar mais clínico. Jeon Jungkook tinha dom para isso, como se os corpos simplesmente conversassem consigo durante a necrópsia.

Foram muitos meses de convivência com o seu companheiro no departamento policial, Kim Namjoon, que fez com que tirasse aquela ideia da cabeça e encarasse as mortes de seus pacientes durante a pandemia como uma simples e infeliz coincidência. Afinal, esse tipo de coisa não existia, "ser o portador da morte" era uma ideia ilusória demais para que fosse verdade.

Será mesmo?

Park Jimin fora a sua primeira tentativa, depois de muito tempo, de criar algum tipo de vínculo. E, céus, havia caído de quatro pelo garoto da franja, mesmo com todos os problemas e desafios que apresentava, sentia em seu cerne que aquilo daria certo, que haviam se complementado a tal ponto que não importam as adversidades que a vida pusesse em seus caminhos, iriam conseguir superar juntos, na medida em que a relação evoluísse.