Capítulo 1

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Era mais um daqueles dias em que Park Jimin não fazia ideia de como chegou em casa, agradecendo mentalmente por ter optado por instalar uma fechadura eletrônica em seu apartamento, pois não se encontrava em condições de sequer abrir a porta com uma chave normal.

Deixando suas coisas pelo caminho, foi direto para o banheiro, tendo que se apoiar em sua pia para conseguir encarar seu reflexo no espelho.

— Whoa... — Resmungou consigo mesmo. Estava muito louco, pois seus olhos não paravam em suas órbitas nem por um segundo e estava sentindo como se o mundo estivesse girando mais rápido.

Quando conseguiu focar no espelho novamente, notou uma mancha horrorosa na camisa branca que usava, e restos de comida, ou o que deveria ser. Sua mente deturpada pelo excesso de álcool buscou entender de onde vinha aquilo, até que se lembrou de breves flashes em que estava no banco de trás de algum motorista de aplicativo quando acabou vomitando em si mesmo.

Olhou para baixo, as calças também estavam sujas. E só então reparou no cheiro, o que foi suficiente para se sentir enjoado de novo.

Na medida do possível, se livrou daquelas roupas e entrou no box. As coisas se tornaram um borrão a partir daí. Do banheiro, de repente estava em seu quarto, depois se viu em pé na cozinha, cortando três pães e passando manteiga para comer, depois estava no sofá, a TV ligada e o celular em mãos, um pedido de delivery de comida japonesa, risadas, cigarros na mão, outro vômito no banheiro.

Foi quando despertou no dia seguinte que os efeitos de sua irresponsabilidade vieram. De alguma forma conseguiu dormir em sua cama, o que já era incrível por si só. Estava vestido, e aparentemente não estava acompanhado.

Levantou-se ainda tonto, pois ainda se sentia bêbado, e notou as roupas no chão quando chegou ao banheiro, com aquele cheiro de vômito o fazendo ficar enjoado novamente. As colocou para lavar antes de qualquer coisa, e só quando o banheiro estava cheirando bem de novo que providenciou sua higiene pessoal.

Esse tipo de situação se repetia com muita frequência. Park Jimin nunca conseguiu administrar a bebida, sempre passando da dose todas as vezes. Mas, apesar de se sentir uma grandiosíssima merda no dia seguinte, não tinha a menor intenção de parar. Aquela era a sua única válvula de escape, afinal. Park Jimin bebia para sentir alguma coisa, qualquer coisa, seja boa ou ruim.

Mal terminou no banheiro, já pôs um de seus cigarros de menta entre os lábios gordinhos, colocando uma música melancólica qualquer de sua playlist para tocar. Quando ainda morava com seus pais, fazia um mínimo de esforço para se cuidar no dia seguinte a uma daquelas bebedeiras, mas não era nada fácil acordar com os esporros de sua mãe e de seu pai. Se Jimin bebia para sentir alguma coisa, de fato conseguia, pois se não fosse pelo efeito da bebida, seria pelo efeito da palavra dos pais que, céus, sabiam exatamente onde o ferir.

Era fim de semana, o que significava que se não se ocupasse com alguma coisa até a exaustão, certamente entraria em algum tipo de crise. Não saberia dizer, exatamente, quando começou a perder o controle da própria vida. Quando percebeu as armadilhas de sua mente, no início de sua adolescência, ainda tinha o benefício dos colegas de classe que, por mais que fingissem, talvez, interesse em sua companhia, era algo que o mantinha distraído.

Park Jimin não se lembrava muito bem da infância ou da adolescência, a não ser pelos momentos traumáticos que passou. Mas sabia, desde o princípio, que não era uma pessoa normal. Pessoas normais não atravessam a rua com a imagem de um caminhão em alta velocidade as atropelando, pessoas normais não atravessam passarelas pensando no que aconteceria se simplesmente se jogassem de lá, pessoas normais não imaginam o que aconteceria se tomasse uma superdose de analgésicos, ou de misturasse moléculas diferentes, pessoas normais não se imaginam usando drogas de todos os tipos.

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