Park Jimin permitiu-se ficar acordado até mais tarde naquela noite apenas por ser sexta-feira e por conta da presença do médico. Não fosse por isso, provavelmente beberia o restante do gin com refrigerante até cair no sono em um canto qualquer do apartamento.
Foi a sua primeira vez bebendo com Jungkook, e havia descoberto que o médico era, de fato, fraco para a bebida, o que justificava o porquê de não consumir bebida alcoólica com frequência ou na mesma intensidade que Jimin, e era engraçado contemplar o outro com as maçãs do rosto levemente coradas - indicando que estava um pouco alto - e devorando uma caixa inteira de manjus, doces japoneses que Jimin nunca tinha provado na vida até aquele momento - e detestou, por sinal, mas Jungkook parecia realmente gostar daquele tipo de doce.
Ficaram ali assistindo a programas aleatórios na TV e dividindo espaço com Belial por longos minutos, com os braços de Jungkook sobre os seus ombros, abraçando-o de lado enquanto fungava e espirrava repetidas vezes por conta da reação alérgica aos pelos de Belial no ar. O Park, diversas vezes, perguntou se Jungkook não queria voltar para casa por conta da alergia, mas o médico insistia em se manter ali ao seu lado.
— É tão difícil nos encontrarmos ao longo da semana... Quero aproveitar ao máximo o meu tempo com você.
Comentários desse tipo deixavam Park Jimin pensativo, já que sempre imaginou ser do tipo de pessoa desinteressante que não chamava a atenção de ninguém, por vezes se sentindo como um coadjuvante em própria história, em busca de um protagonismo que não lhe pertencia. Sempre foi assim, e estar com uma pessoa que realmente queria estar ao seu lado e gostava de sua companhia era, no mínimo, estranho.
E talvez fosse por isso que estava com o pensamento obsessivo de falar mais com Jungkook, abrir-se, pelo menos um pouco. Jimin confiava nele, assim como confiava em qualquer desconhecido que cruzava o seu caminho, sempre partia do princípio de confiar cegamente nas pessoas e ir perdendo-a aos poucos, com a convivência. Já havia acontecido tantas vezes que já nem era possível contar em seus dedos, sequer confiava plenamente nos próprios pais para compartilhar algumas coisas. E isso o deixava com medo, pois se Jungkook se afastasse sabia que iria doer bastante, por mais acostumado que estivesse com a situação.
Acabou se acomodando mais contra o corpo do médico, deitando a cabeça em seu ombro e suspirando. Sentia as mãos trêmulas e um pouco suadas, todo o seu corpo estava tremendo por dentro, na verdade, o que afetava diretamente em seu tom de voz e na forma como falava, um claro sinal de nervosismo impulsionado pela maldita ansiedade.
— Você se lembra daquele dia em que me levou na praia? — Jimin perguntou, a voz saindo trêmula como esperava. Jungkook apenas resmungou um pouco antes de apoiar a cabeça sobre a de Jimin. — Estávamos olhando para o mar, falando sobre a morte...
Jungkook voltou sua atenção para as palavras de Jimin, até mesmo abaixando os olhos para o encarar, apesar do ângulo ruim. Apesar de estar um pouco sob o efeito da bebida, ainda conseguia raciocinar perfeitamente.
— Às vezes eu me pergunto se as coisas não ficariam melhores para mim se a morte simplesmente me levasse... Sinto que é a única forma de calar as vozes na minha cabeça. — Jimin disse, abaixando os olhos e encarando diretamente as mãos, tocando repetidamente os dedos para descontar um pouco do nervosismo que sentia.
Jungkook suspirou ao seu lado, afastando-se apenas o suficiente para que fosse capaz de encarar o rapaz apropriadamente. Estava tentando disfarçar, mas estava muito contente com o fato de Jimin estar externalizando pelo menos um pouco do que se passava em sua mente.
— Você quer falar um pouco sobre isso? — Jungkook perguntou, segurando as duas mãos de Jimin quando percebeu que estavam tremendo tanto, tentando passar alguma confiança ao outro que ainda mantinha a cabeça abaixada.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Círculo Vicioso {jikook}
Hayran KurguPark Jimin é um adulto solitário que desistiu de aprender a viver e que foge de seus demônios com a ajuda da bebida para não encarar o mundo real. ATENÇÃO: CONTEÚDO SENSÍVEL. DEPRESSÃO E SUICÍDIO. Originalmente publicada em 01/10/2023