treacherous | lando norris

the lie

LANDO NORRIS

O P3 foi a grande vitória deste final de semana. Eu me sentia desafiado pelas palavras de Harriet, queria deixar ela orgulhosa de mim e mostrar pra equipe o que eu vim aqui fazer. Odeio admitir, mas o foco me caiu muito bem e eu me sinto mais preparado e motivado para enfrentar as adversidades que cruzam o meu caminho, principalmente dentro das pistas.

Mas, apesar de tudo isso, quando não estou refazendo o percurso do circuito na minha cabeça, vago pela linha tênue do limite que eu cruzei com Harriet na Escócia. Em muitos momentos me pergunto se ela também pensa nisso tanto quanto eu, por que em todos os lugares eu tenho uma lembrança bem clara da respiração pesada dela contra o meu pescoço enquanto eu a fazia se sentir bem sob as minhas mãos. Vê-la encostada na parede durante uma coletiva de imprensa, toda concentrada e de vez em quando mordendo os lábios, era capaz de me desconcentrar com uma rapidez assustadora.

Por outro lado, embora ela reagisse com bom humor aos meus flertes, não é como se fosse algo correspondido totalmente. Eu não consigo fazer investidas maiores para deixar claro que tudo aquilo ainda não acabou pra mim, já que estamos sempre rodeado de pessoas e é necessário manter a postura. Não é como se eu precisasse de uma manchete na primeira página em site de fofocas dizendo que estou fodendo a minha relações públicas.

Me ajeito na minha cama improvisada, incomodado com tantas divagações sobre uma mulher que claramente me deixa confuso. Preciso de um plano pra me orientar, seja pra me tirar da friendzone e me impulsionar na direção dela quanto pra me livrar desse tormento se ela realmente estiver me dando um gelo.

— Como vai o meu menino de ouro? — Alan irrompe pela porta e levanto minha cabeça do travesseiro pra olhar pra ele.

Alan talvez seja a chave do por que Harriet é tão resistente à nossa diversão. Não tem nada que Harriet ama mais que o seu emprego e ela deve ter medo disso atrapalhar a sua carreira na McLaren. Eu também teria se fosse ela.

— Estou alinhando as estratégias na cabeça para a corrida de amanhã — minto e o sorriso de Alan cresce com a minha fala.

— É desse jeito que eu gosto, estou muito orgulhoso do P3 — ele se aproxima e dá alguns tapinhas nas minhas costas. — Estou contando com o pódio esse fim de semana, ein?

— Darei o meu melhor, chefe.

Passos pesados se aproximam pelo corredor e Pepo coloca a cabeça pela porta em seguida.

— Aí estão vocês dois, o engenheiro queria dar uma palavra com todos juntos lá na garagem — ele dá o recado e some novamente, sem esperar que a gente saia do lugar.

Me levanto e calço meus tênis de corrida rapidamente, deixando o macacão papaya metade pendurado na minha cintura. Alan não se move e isso acende uma luz vermelha na minha cabeça, mas tento não me preocupar sem razões pra isso.

— Lando, antes de descermos, queria te dizer que estou contente que finalmente você e a Senhorita Spencer estão se dando bem. Por algum tempo eu achei que isso não seria possível, mas ela cumpriu o que prometeu quando assinou o contrato dela com a McLaren e transformar vocês em campeões, mesmo antes de serem, tem sido a sua especialidade desde então...

Olho pra ele e dou um sorriso sincero que não era possível esconder quando o assunto era Harriet.

— Acredite em mim, Alan, ela é a sua melhor funcionária e tudo na minha rotina funciona melhor com ela. Tivemos nossas desavenças, é claro, mas quando aprendi a trabalhar do jeito dela notei diferenças em mim mesmo. Gosto da forma como ela ama e defende a McLaren, gosto de como ela veste a camisa da equipe e sempre está pensando lá na frente. Não duvidaria se ela já tivesse o discurso escrito de quando eu erguer o meu primeiro troféu — digo, com sinceridade. — Parece que não, mas de todo mundo eu sei que ela é a que mais acredita no meu potencial e é bom trabalhar dessa forma.