the afterwards

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HARRIET SPENCER


O baile da McLaren marcou o final de mais uma temporada da Fórmula 1. O que significava que agora todos os nossos pensamentos estavam no próximo ano.

Os engenheiros e mecânicos trabalhando para mudar ajustes no carro e torná-lo ainda mais competitivo. O marketing pensando em ideias de promover a nossa marca. Os pilotos se esforçando na academia, em pista de testes e em simuladores, além de eventos com patrocinadores e reuniões semanais com a equipe para discutirmos avanços de todos os projetos. Eu organizando a agenda do meu piloto com uma minúcia de detalhes nunca antes vista no meu trabalho.

Tudo parecia estar bem, só que eu sabia que não estava.

Lando mentiu quando disse que as coisas seriam como antes, mas eu sabia que era um blefe. Não teria como sustentarmos mais o que quer que seja que tivemos desde a primeira vez que nos beijamos naquele hotel, desde a primeira vez que...

Desde a nossa última conversa a minha cabeça me traía de formas que eu não imaginaria que aconteceria. Eu ainda fazia o meu trabalho de forma impecável, claro, porém faltava algo. Demorei dias pra perceber o que era.

Faltava o sorriso dele quando me via no meio dos colaboradores da equipe, faltava o seu bom humor, faltava o seu olhar afrontoso e faltava o seu toque em horas inapropriadas.

Em resumo, faltava tudo.

Mas principalmente ele mesmo.

Lando Norris estava sempre comigo, só que ao mesmo tempo, ele parecia não estar lá, como se sua alma estivesse faltando no corpo.

Ele virou uma espécie de robô toda vez que estava em uma sala comigo. Ele dava respostas curtas, quase nunca me olhava nos olhos e jamais me desobedecia. Se eu pedia pra ele chegar mais cedo, ele aparecia pontualmente. Se eu pedia pra ele ir a um evento usando roupas em determinado estilo, ele fazia acontecer.

Não tinha mais as falhas e os seus toques pessoais. Não tinha mais afronta e isso estava me incomodando muito. Foi quando percebi que uma das coisas que eu mais gostava nele era quando ele me contestava, quando discutia comigo, mesmo que estivesse errado.

Eu sentia falta da versão original de Lando que foi substituída por essa versão sem graça e sem vida.

— Deve fazer pelo menos dez minutos que ela está encarando a janela e isso está ficando muito preocupante — ouço a voz de Pepo e sei que ele não está falando com ninguém por que só estamos nós dois aqui, é literalmente um truque pra ver o quão aérea eu estou.

— Quer falar para o Gasparzinho que eu posso ouvir vocês dois conversando? — brinco e ele ri.

A única coisa que não tinha mudado era Pepo, que permanecia sempre o mesmo: o espanhol turrão que sempre foi. Me viro para encará-lo sentado no sofá do outro lado da sala e ele dá de ombros como se olhasse para o fantasma com quem supostamente estava conversando.

— Eu te disse que ela estava prestando atenção, mas você sempre duvida de mim — ele diz e agora é a minha vez de rir.

Pepo e eu estávamos na sede da McLaren, em Londres, organizando detalhes da nossa agenda e tentando decidir alguns detalhes sobre hospedagens do futuro.

— O que te incomoda Pepo? Sabe que não precisa introduzir o assunto comigo, você pode simplesmente falar — o barulho dos meus saltos ecoa na sala a medida que me aproximo dele e me jogo do lado dele no sofá.

Pepo levanta uma sobrancelha pra mim, talvez um pouco surpreso pela forma direta com que o respondo.

— Estou preocupado com vocês.

treacherous | lando norrisOnde histórias criam vida. Descubra agora