LANDO NORRIS
O resto da semana seguiu o cronograma da temporada, várias simulações do próximo GP, todos os dias treinando com Paul e tentando extrair o máximo de mim, tanto fisicamente quanto estrategicamente. Apesar de Harriet não ser estrategista, as nossas revisões estavam me ajudando bastante a focar e compreender melhor o tamanho do desafio que eu ia ter daqui há duas semanas.
Fora que era bom passar mais tempo com ela, na quinta-feira discutimos, alinhamos e pensamos em estratégias juntos. Tudo estava caminhando bem e eu já não me sentia tão desconfortável na sua presença.
Quando cheguei, eu não precisei mesmo bater na porta e a cada dia encontrava um detalhe novo sobre ela que eu gostava mais, como a forma que ela franzia o rosto quando estava concentrada demais ou o modo como dava risada depois de atirar em mim uma almofada depois que eu fazia alguma piada idiota.
Eu sentia que era como se estivéssemos fazendo uma amizade, conhecendo detalhes um do outro e vendo o que tínhamos em comum.
Ela me contou mais sobre George Evans e descobri que ele conseguia ser um pai presente mesmo viajando o mundo, até mesmo quando ela estava na faculdade e os dois não se viam há meses, por que combinaram que seria melhor pra ela profissionalmente não sair mais na mídia com ele.
Infelizmente, foi naquele ano que ele bateu o carro e perdeu a vida.
O que era mais impressionante é que, apesar de tudo isso, ela se manteve firme. Mesmo que tenha me confessado que, depois do acidente, todo dia ela pensava em desistir e só ir fazer qualquer outra coisa que doesse menos.
— Eu pensei em ser fotógrafa — ela disse no meio de uma risada sem graça. — Mas aí percebi que tudo o que eu queria fotografar eram carros de fórmula 1. Pensei em ser bióloga e descobri que não gosto tanto assim de bichos. Advogada, talvez... e ainda assim não seria muito diferente do que eu faço hoje, sou quase uma advogada do diabo de vocês, precisando limpar toda a sujeira que vocês fazem pelas minhas costas toda semana.
Lembro do brilho nos olhos dela vacilar. A cada profissão nova que ela citava, ele sumia, e sempre que ela complementava dizendo que só pensava na fórmula 1, lá estava de volta.
— Chegou em um ponto que eu percebi que estar nesse meio não era sobre ser agredida pela saudade do meu pai, Lando — ela me disse enquanto dividíamos o sofá e uma caneca de chocolate quente. — Estar lá era sobre alimentar a memória dele em mim, era uma forma de me sentir perto dele todos os dias e, foi numa dessas, que o universo me mandou um sinal. Pepo Rodrigues que não falava comigo desde o dia do funeral me avisou que abriria uma vaga para relações públicas na McLaren, a equipe do meu pai, e que ele imaginou que seria perfeito pra mim estar lá honrando a memória dele...
Dei um sorriso pra ela e, sem nem pensar, uma das minhas mãos alcançam a dela que também estava livre no sofá. Um pequeno aperto e ela também sorri pra mim.
— Não tenho dúvidas que você tomou a decisão certa.
Aquela noite terminou como todas as outras, com algum detalhe a mais escondido nas fotos e com ela abrindo a porta, me convidando em silêncio a sair da sua vida por pelo menos algumas horas. Eu estava gostando muito disso de conhecê-la e, quando estava em casa, ficava ansioso pelo próximo momento que íamos ter juntos.
Harriet me avisou que convidou Pepo para o nosso último encontro para discutirmos estratégias. Na verdade, imaginando a cena, com certeza deve ter sido mais uma convocação do que um convite em si. Já tínhamos discutido tudo antes, agora provavelmente seria apenas para sabermos a opinião dele sobre o que pensamos.
Quando cheguei, passei pela porta e ouvi umas risadas no fim do corredor. Encostei a porta sem fazer barulho e caminhei devagar até a sala de estar. Harriet e Pepo estavam sentados no sofá, o braço dela sobre os ombros dele, os dois riam enquanto folheavam um álbum de fotos.
Na hora senti um aperto no peito.
Era isso que eu me referia quando comentei com ela que estamos longe de ter uma relação parecida com isso. Por que estamos mesmo. Fico alguns segundos observando os dois, até que Pepo parece perceber minha presença e me cumprimentar de longe.
— Ei, garoto — ele me chamou —, venha aqui sentar com a gente.
Me aproximo devagar e noto que ela retira o braço dos ombros dele e se afasta um pouco, como se a minha presença não permitisse tanta intimidade mais.
Pepo, por outro lado, mantém a postura como de antes e gesticula para que eu olhe para um dos retratos do álbum. É Harriet em um dia de sol, sentada toda animada em um carro vermelho de fórmula 1 que nem precisava de muito pra dizer que era uma Ferrari.
— Detesto essa foto — ela resmunga e Pepo dá uma risada ainda mais alta.
— George dizia pra todo mundo que era o sonho da sua vida ver ele pilotar um carro vermelho — ele continua e sou obrigado a dar um sorriso, por que isso era realmente engraçado, considerando que atualmente Harriet nutria um desprezo pessoal pela Scuderia Ferrari que ninguém nunca entendeu de fato o porque.
— Cuidado com a língua, Spencer — falo, entrando no clima. — Se continuar assim, o karma vai te levar ao que você mais teme.
— À demissão? — ela retruca.
— Ao uniforme vermelho ferrari!
Pepo continua rindo e eu o acompanho, era como se a presença dele conseguisse quebrar uma tensão que existia entre eu e ela de uma forma leve e quase imperceptível.
Harriet fecha a cara.
— Só tem uma coisa que me faria usar o uniforme vermelho ferrari e nenhum de vocês está pronto pra saber qual é — ela diz em um tom sério, mas deixa um sorriso escapar da sua boca. — Agora, chega de zoeira, vamos trabalhar.
Juntar eu e Pepo para discutir estratégias talvez não tenha sido a melhor das decisões, mas Harriet lidou bem com isso, de vez em quando ela até entrava na brincadeira e não ficava séria a maior parte do tempo.
Pepo fez suas considerações sobre o que eu e ela tínhamos discutido sem ele, sob a percepção de um especialista. Ele corrigiu algumas ideias que tivemos, elencou pontos importantes e no fim do dia, percebi que melhoramos bastante a primeira ideia. O estrategista ia ficar animado com as sugestões quando finalmente fizessemos uma reunião juntos na próxima semana.
Depois de meia hora jogando conversa fora, Pepo anuncia que precisa ir embora e, pela primeira vez, noto Harriet fazer um bico e quase implorar pra ele ficar.
Fato que me deixa um pouco incomodado.
— Devia mostrar o carro pra ele, Harriet — ele diz, depois de dar um abraço nela e esticar o braço pra me abraçar também. — Acho que ele vai gostar de ver...
E assim, Pepo Rodrigues desaparece pelo corredor, deixando pra trás eu e ela olhando um pra cara do outro em um silêncio que beira o desconfortável por um momento.
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treacherous | lando norris
FanficHarriet Spencer é uma garota determinada que sabe o que quer e sabe o que fazer para conseguir. Quando se viu sozinha no mundo, resolveu se candidatar para uma vaga de emprego na McLaren por que isso a fazia se sentir mais próxima de seu pai que sem...