Capítulo 4 | Mr. Mustache

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  Lágrimas. Era tudo o que eu queria fazer, chorar.
Agressividade era extravasada na minha guitarra, na voz rouca de Kurt gritando, na bateria frenética, ao som de uma música feita para o próximo álbum. Mr. Mustache era boa, era suja. Parecia comigo.

  Minha cabeça rodava cada vez mais. Era fome, sentia-me desesperada e minhas entranhas se contorciam, eu estava bem mal. Nada parecia fazer muito sentido naquele momento, meus dedos fracos escorregavam algumas notas enprecisavamos repassar algumas coisas, e a cada vez que fazíamos isso, Kurt parecia se estressar. Bem, ele deve ser amargurado por natureza, mas estava especialmente bem mais depois daquilo.

- Amber, esqueça a vida de groupie. Agora você está tocando em uma banda séria - o loiro disse em um tom satírico, ácido e disfarçado de uma piada. - prefere dançar no palco?

Filho da puta. Não consigo acreditar no quanto esse cara consegue ser arrombado.

- Já esqueci faz tempo - reuni forças que eu não tinha para respondê-lo - não sou mais groupie e prefiro que você esqueça isso.

Axl tinha que falar isso pra mídia. Era uma necessidade que eu fosse exposta assim, né? Na real, nunca imaginei que fosse me impactar, mas agora que eu tenho que lidar com um adulto, que mais parece uma criança, não parece tão irrelevante.

Kurt deu um risinho com deboche e voltou a pegar a guitarra, tocando a parte rítmica. Acompanhamos ele, até que errei novamente. Não consegui evitar, já suava e tremia.

- Amber - colocou os dedos na testa - eu quero levar isso a sério, e acho que você não leva jeito pra banda nem pra guitarra.

- Se você soubesse tocar guitarra não teria me chamado pra tocar - rebati já me mordendo de raiva. Porra, esse cara não sabe nada da minha vida e quer falar merda

Kurt franziu o cenho. Não gostou nem um pouco do que eu tinha falado, e bem, aquilo me rendeu satisfação.

- Qual o seu problema? - disse agressivo - ah é, não precisa explicar, eu já sei que você é uma groupie burra mesmo. Esse é seu problema. Gosta de atenção

- Vai se fuder - gritei. Tinha a intenção de começar um monólogo sobre como ele era um babaca

- Opa opa - Krist me interrompeu - Kurt, foi só um erro, não precisava pegar tão pesado por causa de uma coisa estúpida - franziu o cenho - até eu que sou idiota percebi que hoje ela não parece muito bem.

Dave assentiu com a cabeça concordando com o amigo

- Vamos esfriar a cabeça por uns vinte minutos então, e aproveita pra descansar Amber - se levantou deixando as baquetas na bateria - tentem não brigar

Como se Kurt quisesse colaborar

Dei de ombros, me sentei no sofá que tanto ansiava por ficar e me deitei. Eu estava imunda, provavelmente doente e com as costas doendo por deitar na terra em um lugar frio e duro. Fiquei pensando sobre como estava mesmo no cúmulo do fundo do poço e então, apaguei.

  Quando a pausa acabou, acordei com Dave delicadamente balançando meus ombros. Ele perguntou se eu queria água e se estava bem, e eu acabei apenas respondendo que sim e voltando ao meu posto com a guitarra. Não errei mais desde o descanso, então finalmente pude ver Kurt satisfeito com alguma coisa.

  Não demorou muito até o ensaio acabar e Krist imediatamente foi embora, aquilo me coagiu um pouco a pegar minhas coisas e ir embora. Bebi uma água, implorei para tomar um banho antes de sair e abri a porta da frente. Agora teria de lidar com a realidade, e sinceramente espero que entrar nessa banda tenha sido o caminho certo, já que não estava tendo retorno por enquanto.

- Amber - o moreno chama minha atenção - o Kurt quer falar com você

  Não era muito confortável falar com ele, mas já que eu tinha que ter uma boa relação com os membros da banda, talvez eu pudesse tentar fingir que me dava bem. Olhei para o loiro, que estava atrás dele, e cruzei os braços.

-  Me desculpa por ter explodido com você, eu realmente não estava pensando no seu lado naquele momento e falei muita merda

- Tá tudo bem, eu acho que também fiquei fora do controle depois daquilo, desculpe por ter te mandado tomar no cú - eu só queria resolver aquilo e fiz como qualquer pessoa faria, desculpas da boca pra fora por educação para não me sentir mal com isso depois.

Kurt riu

- Tá tudo bem, eu falei umas atrocidades, você estava no seu direito - o homem sorriu - preciso ir embora agora

Quando o loiro se despediu e saiu da casa de Dave, vi que essa era minha deixa.

- Kurt só estava frustrado, sabe, isso tudo é muito importante pra ele - o moreno falou, e apenas assenti com a cabeça

Não só estava frustrado como também agiu como uma criança.

- Tá tudo bem com você Amber? - Dave se escorou na porta - desculpe te prender aqui, mas não parece bem. Tá com uma cara pálida e parecia fora de si durante o ensaio.

Senti vergonha, estava muito na cara que eu não estava bem.

- Ah - pensei se queria expor isso, mas ele ia descobrir de um jeito ou outro - é que estou passando por uma situação difícil ultimamente, fui expulsa de casa, estou sem onde morar e o dinheiro está curto, então não tô comendo bem.

Dave arregalou os olhos e depois franziu o cenho.

- Sinto muito por isso - Pena. Dava para ver em seus olhos - eu tenho um quarto sobrando, se quiser pode ficar até quando precisar.

- Obrigada, mas não quero incomodar - eu queria muito aceitar, mas uma culpa esmagava meu peito.

O moreno cerrou os olhos.

- Amber, onde você está ficando? - cruzou os braços.

Desviei o olhar, aquilo era triste. Eu era uma pessoa deprimente.

- Debaixo da ponte da cidade - ri de nervoso - mas não tem problema.

- Tem - sua expressão era séria. Não sabia por que ele se importava com isso - se vai entrar na banda, ou tem condições de tocar, ou é melhor escolher outra coisa pra fazer

- Ok - respondi desesperadamente - muito obrigada pela bondade, vou retribuir quando estiver em condições.

Dave sorriu e logo depois riu

- Não faço as coisas esperando algo em troca - sua cabeça apontou para dentro da casa - quer buscar alguma coisa ou vai entrar?

  Sorri para ele e entrei na casa. Enquanto adentrávamos, me perguntei do porquê ele estava sendo tão gentil. Algumas coisas não tem resposta.

- A propósito - adicionou o moreno - você compõe músicas?

- Componho sim, às vezes. Por que?

- Poderia ajudar o Kurt a terminar o álbum. A gente estava pensando em terminar até o final desse ano, mas ele parece ter voltado a ficar mal - "mal". Aquilo me deixava uns questionamentos, mas não perguntei nada

- Eu? - ri - eu e o Kurt? Escrevendo juntos?

Dave não pareceu ter levado aquilo na brincadeira

- Posso tentar - apesar de parecer bem difícil nos darmos bem - não garanto que vai dar certo

- Bem - o moreno deu de ombros - é o que importa

  Andamos até finalmente chegar em um quarto pequeno e com uma cama de solteiro. Deitei lá, era dura para uma cama normal, mas macia para minhas costas que se acostumaram com o chão frio.

𝐃𝐫𝐚𝐢𝐧 𝐘𝐨𝐮 | ᴋᴜʀᴛ ᴄᴏʙᴀɪɴOnde histórias criam vida. Descubra agora