Minhas malas eram pesadas demais, faltavam uns móveis e no apartamento tinha uma cama e um colchão. Sentei na escada repousando meu corpo e pensando no quanto eu me arrependia de ter tido vergonha de pedir ajuda, mas isso não importava, agora eu tinha uma casa.Puxei novamente meus objetos e destranquei a porta, Kurt veio logo atrás de mim com suas coisas, cansado como eu de tanto arrastar aquelas coisas.
- Eu estou tão feliz - esse sentimento não me era comum, dificilmente alguma coisa me provocava isso, mas nesse momento, era prazeroso ter minha própria casa. Era como se eu estivesse indo contra o que pensei de mim mesma
- Eu também - o loiro disse apreensivo e logo se direcionou ao próprio quarto
Era um tanto estranho, mas não questionei, já que às vezes ele fazia isso mesmo. De repente o telefone de casa começa a tocar e Dave estava do outro lado da linha. Ele começou a me perguntar sobre tudo, como eu me sentia até o que minha família achava. Eles nem sabiam disso.
A conversa se estendeu um pouco até eu desligar e lembrar que tinha que comprar uns pães e depois resolver a questão do dinheiro com Kurt. Fui até o estabelecimento pensando seriamente o quanto que Dave estranhamente se importava demais com minha vida, me ligava demais e queria mais do que eu poderia oferecer. Tinha consciência que eu era uma fodida e não tinha muito a ofertar, mas talvez isso fosse só medo de me aproximar.
Abri a porta de casa e percebi que Kurt ainda estava no próprio quarto, e aquilo era um pouco estranho. Coloquei os pães na mesa e bati na porta do loiro. Nada. Bati mais forte e chamei seu nome. Nada.
Abri a porta devagar, tentando não invadir sua privacidade, e quando mirei os olhos na cama, lá estava o homem, mole, inconsciente e com pó ao seu lado. Cheguei mais perto e chacoalhei ele, sem resposta.
- Kurt - gritei quase que em súplica, torcendo para que não fosse nada demais.
O loiro se remexeu no colchão, o edredom fino se desenrolava dele e revelava a parte de cima do seu corpo. Kurt acordou, sentou-se, e me olhou com aqueles olhos vazios e tristes, uma expressão que parecia quebrada, e que nunca iria voltar a ser como antes, mesmo querendo muito.
Direcionei meu olhar ao seu braço, marcas de agulha eram perceptíveis, muitos pontos vermelhos e até roxos percorriam seu membro. Naquele momento entendi o que estava acontecendo e fui fuçar mais o quarto, e embaixo da cama, havia uma colher em um isqueiro, o que apenas me afirmou duplamente que ele estava também usando heroína, misturando as duas drogas. Suspirei pensando em como iria lidar com isso, eu era usuária também, e aquilo era um gatilho para mim. Não conseguia me decidir se eu ficava apavorada ou se queria estar assim.
Peguei o braço de Kurt, chequei seu pulso e lhe trouxe água. Ele não estava respirando bem, e fiquei o ajudando até ele melhorar. No momento seguinte o mandei deitar, ajeitei as cobertas em volta dele e sentei no espaço que sobrava ao seu lado.
Estiquei minhas pernas, olhei pro teto e fiquei lá até ter certeza que Kurt estava dormindo e não iria tentar usar nada. Ele estava tão mal que sequer falava alguma coisa.
Procurei as drogas e as coloquei em uma sacola, escondendo tudo, dele e de mim. Me sentia mal por isso, a decisão de usar ou não era dele, mas ficaria muito pior se não fizesse nada enquanto ele tem uma overdose. Nunca me perdoaria.
[...]
Acordei cedo sem saber o porquê, era sábado e não tinha muito o que fazer, então comecei a fazer meu café da manhã, curiosa por respostas vindo da parte de Kurt. Seus motivos eram óbvios - Tracy - mas escutar de sua própria boca se ele estivesse disposto a falar seria mais explicativo.
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𝐃𝐫𝐚𝐢𝐧 𝐘𝐨𝐮 | ᴋᴜʀᴛ ᴄᴏʙᴀɪɴ
Fanfiction"E se eu achasse alguém que em meio à tanta água estivesse se afogando como eu?" Amber era uma típica groupie dos anos 80, cheia de sonhos estragados por um namorado abusivo e uma mãe que a expulsa de casa. Sem abrigo, sem comida, sem dinheiro, apen...