Capítulo 15 | Smells like teen spirit

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As gravações de Bleach uma hora ou outra chegariam ao fim, e em 89, o álbum já estava lançado. Kelsey, acabou realmente se tornando nossa empresária, e conseguiu organizar um segundo tour, agora, pelos Estados Unidos. Mais especificamente, apenas em alguns estados, já que não tínhamos sido um sucesso.

Kurt inicialmente estava trabalhando como faxineiro para pagar as dívidas com a gravadora, mas agora, ele e todos nós poderíamos nos sustentar só do que mais gostávamos de fazer; shows. Podíamos não ter estourado de primeira, mas pelo menos agora éramos uma banda séria. A animação fazia parte de mim, e eu aproveitaria a chance de ser feliz enquanto tudo aquilo durasse.

Minhas malas estavam em cima da minha cama, havia um frio na minha barriga ao lembrar que só havia tocado em Washington e alguns outros estados do norte. Suspirei para acalmar a agitação e as desci até o térreo do apartamento junto a Kurt.

Antes de eu entrar no veículo, Krist pegou a mala das minhas mãos e a jogou na parte de trás da Van verde que alugamos de uma coroa pelos 2 meses que passaríamos fora.

- Só vai levar essa mochila surrada? - o moreno perguntou para Kurt antes de entrar na Van novamente

- Vindo do Kurt, você ainda se surpreende? - Dave respondeu sentado no banco do motorista

- Eu não preciso de mais nada - Kurt reclamou - é só ficar lavando, e olha que algumas roupas nem precisam disso.

Ele realmente não de importava se federia, as vezes Kurt era nojento. Ignorei isso e entrei na Van, me sentando no banco perto da janela e coloquei meus fones de ouvido para escutar minha playlist gravada na fita cassete. Dave tirou o veículo da garagem do prédio e finalmente seguiu pela estrada.

Percebi que Kelsey estava sozinha na parte de trás, parecendo refletir sobre sabe se lá o que, e eu podia ver em seu olhar que não era algo bom. suspirei e levantei do banco velho, me apoiando para não cair já que o veículo estava em movimento, e, fingindo não querer nada, me aproximei dela e me sentei no lugar vazio ao seu lado.

- Tudo bem? - perguntei

Ela olhou para mim como se saísse de um devaneio.

- Sim - sorriu e me encarou por um tempo tentando encontrar palavras - aliás, precisava te agradecer, eu realmente odiava o emprego na farmácia.

- Eu que agradeço. - falei tentando ser simpática

Um pequeno nervosismo surgiu em mim, eu não sabia continuar a conversa, e ela não dizia nada. Era constrangedor e desconcertante ao mesmo tempo, não entendia como havia conversado tanto com a mulher antes, e agora, não conseguíamos trocar uma palavra.

Suspirei e ignorei isso. Meus olhos se fecharam, e quando acordei, estávamos na capital de Maryland. Eram duas da tarde, e eu aparentemente tinha dormido pra caralho, já que Krist me chamava desesperadamente do lado de fora da van dizendo que estávamos atrasados para o show. Me levantei ainda com preguiça, e então, achei minha mala debaixo de um dos bancos. Kurt estava lá também, obviamente atrasado como eu, tirando a calça sem me perceber o olhando. Ri de sua cueca de super-herói e peguei minha mala, a colocando ao lado da de Kurt em cima dos assentos do final da van.

Cobain me olhou com vergonha, mas não parou de se trocar. Tirei minha blusa, a trocando por um suéter surrado vermelho, enquanto Kurt colocava um verde. Acho que à esse ponto, sentir vergonha dele já é inútil.

- Posso conversar com você? - disse o loiro com a mão em meu ombro para me chamar a atenção

Me virei surpresa

- Pode - toda vez que alguém falava isso para mim, era sempre algo ruim. A ansiedade me consumia

- Caralho, falei pra vocês virem pra cá logo, vamos perder dinheiro - Krist gritou de fora da van

Kurt o ignorou e continuou me encarando com uma expressão indecifrável, e eu não sabia o que esperar da conversa.

- Amber, o que você acha da nossa amizade?

Entendi na hora. Ele queria falar sobre o dia em que ficamos.

- Porra - Krist gritou - vamos logo

- Não acho que seja uma boa hora pra falar sobre isso. Estamos atrasados - desviei meus olhos dele e desci do veículo, sem olhar para trás.

  Aquela pergunta foi tão estranha que não ousamos cruzar os olhares enquanto íamos até o clube de festa. Quando chegamos, uma banda punk formada por quatro mulheres já estava lá tocando antes de nós. O cheiro de drogas, em especial maconha dentro do cômodo que ficamos enquanto esperávamos as garotas terminarem era tão forte que eu estava quase me tornando uma usuária passiva.

   Em meio ao meu desconforto escutei aplausos, percebendo logo que era nossa vez de tocar. Suspirei fundo e entrei no palco com os três. A sequência de músicas seria about a girl, school, Mr mustache, Love buzz, sappy e por fim, smells like teen spirit, para testar o quanto o estilo mais "pop" que Kurt adotou seria abraçado.

   Quando comecei a tocar, uma onda de adrenalina e felicidade tomaram meu corpo, mas rapidamente foi dissipada pela sequência de pessoas desinteressadas pelas músicas, fazendo qualquer outra coisa menos dançar. Claro que tinham algumas empolgadas, mas ver uma maioria decepcionada era dilascerante, e minhas expectativas para smells like teen spirit estavam se esgotando. Quando terminamos de tocar Sappy, agressivamente violentei as cordas da guitarra enquanto as tocava, frustrada com aquela noite, porém, para minha surpresa, as pessoas começaram a se juntar rente ao palco ao escutar a tímida voz de Kurt começando a cantar.

Load up on guns, bring your friends

It's fun to loose, and to pretend

She's overboard and self - assured

Oh no I know a dirty word

Hello, hello, hello, hello how low
[x4]

With the lights out, it's less dangerous

Here we are now, entertain us

I feel stupid, and contagious

Here we are now, entertain us

A mulatto, an albino

A mosquito, my libido

Yeah

[...]

Ao final da frase musical e enquanto tocava o solo, eu sorria com o público vibrando e se amontoando para nos ver em um local tão insalubre. Não resisti olhar para Kurt e ver o quanto ele também gostava daquilo, e ele já me observava e sorria para mim. Naquele momento eu me senti dentre uma das poucas vezes em minha vida, especial, mas não apenas para ele, mas como se participasse de algo que fosse bom para as pessoas. Quando a música acabou eu gritei de alegria, já na expectativa de que seria assim durante a turnê ao norte do país.

   Minha fantasia acabou por se mostrar mais real do que o esperado. Depois que voltamos do show para a van, o plano era passar em umas cidades em Nova Jersey, e obviamente a capital, antes de chegar em Nova York. Em todas as cidades que tocamos, Smells like teen spirit se destacou, e inclusive recebemos mais chamadas telefônicas para tocar em mais umas cidadezinhas de fim de mundo por aí, mas recusamos já que já estávamos em Nova York, o destino final.

𝐃𝐫𝐚𝐢𝐧 𝐘𝐨𝐮 | ᴋᴜʀᴛ ᴄᴏʙᴀɪɴOnde histórias criam vida. Descubra agora