Capítulo 21 | Rape me

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  Depois de dias em Boston, voltaríamos à Seattle, não mais em uma van apertada e fodida, mas em um jatinho emprestado por nossa gravadora. Eu ainda me acostumava com toda aquela megalomania, mas Krist, Dave e Kurt pareciam saber aproveitar bem. Durante a viagem, Krist trouxe ao menos umas duas mulheres que serviam nossa comida de Bikini.

- Você sobreviveria cinco horas sem comer até Seattle? - perguntei enquanto encostava minha cabeça no ombro de Kurt.

- Você ou a comida?

Ri e o empurrei de leve

- Meu Deus o que é isso eu vou vomitar - Krist disse nos encarando - sabiam que dá pra escutar a conversinha de vocês daqui?

  Revirei os olhos

- Chato pra caralho né? - Cobain murmurou

Ri e me levantei pra pegar meu livro na minha mochila. Ao lado de meus pertences estava Dave com uma expressão pálida, como se estivesse acabado de sair da guerra. Ele me encarou procurando forças pra falar alguma coisa, no entanto, nunca conseguia.

- O que foi? - observei o jornal em sua mão - posso olhar?

  Estendi minha mão para pegar o papel, no entanto, ele puxou antes.

- Amber, não lê isso. É melhor eu dizer - ele suspirou - aqui está dizendo que você e Kurt são um casal de drogados e...

- Qual a surpresa disso? - o interrompi

- É que também entrevistaram sua mãe e estão dizendo que você só faz isso porque foi sexualmente abusada e quer fugir dos próprios problemas.

Dave dizia mais e mais coisas, mas só consegui permanecer estática, nem um pensamento veio pela minha cabeça, apenas a sinfonia do horror que tocava dentro de mim sempre que eu sabia que minha vida estava despedaçando. Peça por peça eu fui destruída, e essa vida de mentira que eu tinha também.

- Eu sinto muito - Dave se levantou e me abraçou - eu não sabia disso

Me afastei do moreno com raiva.

- Me dá essa porra - puxei o jornal que ele havia deixado em cima da mesa.

  Dave me observou ansioso ler toda aquela merda. A coisa mais leve que tinha naquele pedaço de papel era o título, "Kurt Cobain e Amber; o casal de amantes da heroína", já que eu sequer conseguia ler o resto que diziam de nós ou sobre meu passado.

  Algum tipo de senso caiu de mim quando peguei a taça de vidro em cima da mesa e a joguei com tudo no chão. Eu não sabia o que fazer, aquela agonia constante que eu carregava em meu peito parecia ter crescido tanto que eu não conseguia suportar, era tão maior que eu e tão mais dolorido que qualquer coisa. Como quebrar a perna e preferir que ela fosse amputada para nunca mais sentir dor na vida.

  Eu estava tão cansada de sofrer, não por estar sobrecarregada, mas por não ter mais forças pra saber como lidar com isso. Sempre que acho que me livro, que finalmente posso ser feliz, alguma coisa me tráz de volta pra onde eu sempre pertenci.

Peguei o jornal, saí pisando fundo do local e me sentei na minha poltrona, eu queria tanto ter raiva, mas no fundo eu sequer me espantava com aquilo. Olhei tentada para a mochila de Kurt, já sabendo que lá teria heroína. Cocaína não era suficiente para aguentar minhas crises, e eu sempre queria mais.

𝐃𝐫𝐚𝐢𝐧 𝐘𝐨𝐮 | ᴋᴜʀᴛ ᴄᴏʙᴀɪɴOnde histórias criam vida. Descubra agora