Duplo Interesse

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Narrador

Michelli

A primeira semana tinha finalmente passado e ela poderia usufruir do seu descanso, não se preocuparia com os problemas da prefeitura, nem com dona Clemência.

Um dos estagiários tinha lhe convidado para ir a um barzinho, e Michelli resolveu aceitar, talvez assim ela pudesse conhecer mais sobre aquelas pessoas e estava sedenta por um litrão bem geladinho.

E antes de chegar na pousada, passou por um salão de cabelereiro e entrou, seu cabelo estava pedindo socorro e se surpreendeu tanto com os valores que acabou aceitando a maquiagem e a manicure.

Tinha encontrado o paraíso.

O lugar que seus colegas de local de trabalho tinham lhe indicado era decadente, mas não a ponto de ser ruim, mas Michelli não podia julgar já que tudo o que queria era uma cerveja gelada e escutar música ruim.

Havia escolhido os fundos do bar pois sabia que era a novata da cidade, e a última coisa que queria era bêbados lhe enchendo o saco.

- Você também veio? – Escutou uma voz animada e arregalou os olhos ao reconhecer Soraya, que assim como ela eram "turistas" naquela cidade.

- Oh... deus, finalmente um rosto conhecido. – Ela sorriu.

- Então sente aqui comigo, vamos beber um pouco. Parece que os homens dessa cidade não estão acostumados com mulheres duronas como nós. – Deu uma piscadinha.

- Nem me fale... – Ela olhou na direção de um sujeito que caminhava na sua direção. – Volta para o seu lugar... – Apontou e ele deu meia volta.

- Oxe... que mulher braba... – O senhor respondeu.

- Não importa em qual região a gente esteja, eles vão sempre nos tratar assim. Parece que os homens nascem todos com uma mesma cartilha. – Soraya completou.

- Vamos deixar essas criaturas de lado, e então, o que você faz da vida mesmo? – Michelli perguntou.

- Sou executiva do Banco do Bradesco... – Fez um biquinho.

- Ual... e como veio parar aqui?

- No começo do ano eu fiz uma lista sobre as agências que não estavam tendo evolução, e isso significa prejuízo para o banco... talvez com muitos zeros envolvidos, e antes que vire uma bola de neve, montei uma equipe e nos distribuímos pelo país, eu vim para cá, porque ninguém quis vir e eu não podia mandar um estagiário inexperiente... – Parou de falar ao perceber que estava divagando. – Estou falando muito não é?

- Não... eu gosto de ouvir você falar, pode continuar se quiser.

- Resumindo, eu mesma tive que vir para este fim de mundo investigar uns casos de crédito inapropriados, inapropriados porque estão quase zerados de juros, e mesmo com as prestações em dia, não beneficia a agência e acabei descobrindo que isso aqui é um museu, sofri com os computadores... e fiquei surpresa que as pessoas aqui não sabem o que é pix, nem usam cartão de crédito.

- Meu Deus... passei pela mesma coisa, acredita que em toda a prefeitura só tem cinco computadores? E nenhum no conselho tutelar! – Disse e Soraya a olhou com total descrença.

- Não... mulher, as pessoas aqui ainda usam talão de cheque... pelo amor de Deus! – A loira coçou as têmporas.

- Isso é verdade, tive que sacar dinheiro em notas pra usar, como os incas e os astecas faziam em dois mil e doze.

- Bom, tirando essa parte da tecnologia o resto eu achei até que agradável... as pessoas são amáveis... – Soraya sorriu. – Exceto pela demonia morena.

A Fazendeira Versão Simoraya Onde histórias criam vida. Descubra agora