4 - Conforme a música

1.9K 236 94
                                    

Luiza

Mas como assim? A gente praticamente acabou de chegar! - Valentina não disfarçou seu descontentamento ao falar aquilo.

- Calma, é tão urgente assim? - Serena perguntou acalmando os ânimos.

- Sim, é. Muito obrigada, Valentina. Mas eu preciso ir.


Hospital São Lucas — Rio de Janeiro | 17h01am

Cheguei ao hospital sem ao menos lembrar que estava com roupa de praia e me dei conta assim que vi um técnico de enfermagem do meu setor me encarando. Como eu vim parar aqui assim? De short jeans e blusa de manga aberta aparecendo o meu biquíni? Eu só poderia estar louca!

Entrei no primeiro banheiro ainda com a minha mala e procurei por uma roupa composta para que eu pudesse ir a Semi Intensiva e colocar um pijama cirúrgico. Por sorte, achei uma calça de linho branca e optei por ficar com a blusa de manga que estava, apenas fechei os botões e segui para o primeiro andar.

Fui em direção ao leito do paciente Silvio, um senhorzinho querido que já estava internado há dois meses na semi. O técnico de enfermagem Fábio me ligou pra informar que seu Silvio teve uma parada cardíaca no início da tarde. Eu estava preparada pra qualquer situação, mas sempre que eu pudesse estar do lado dos meus pacientes, eu estaria.

- Oi, Fábio. Boa noite! Vim correndo...

- Boa noite, doutora. Desculpa ligar assim mas a senhora pediu que te mantesse informada...

- Não, tudo bem. Você fez mais que certo! - Sorri discretamente - Como ele está?

- Bom, os sinais vitais dele estão controlados.  Realizamos um ecocardiograma e estamos suspeitando que ele tem uma insuficiência cardíaca. Além da cardiopatia.

- Hum... Você tem o laudo do exame e as imagens aí pra eu dar uma olhada? Preciso ver a fração de ejeção.

Fábio me mostrou os exames do paciente e de fato, ele estava num estado grave. Ao meu ver, ele precisaria de mais uma cirurgia para controlar essa nova doença entretanto não era fácil já que era um paciente idoso.

- Você pode chamar o doutor Ricardo, por favor? Precisamos discutir sobre esse caso o mais rápido possível.

Suspirei olhando para os exames já que o sentimento de impotência nos consome nessas horas. É normal. A gente quer salvar todas as vidas independente de quem for. Minha cabeça já estava explodindo mas eu só sairia dali depois que decidisse o destino do meu paciente.



Eu esperava o elevador do meu prédio bocejando a cada trinta segundos e nem sequer prestava atenção no visor que indicava qual andar ele estava. Vi alguém passando para escada e percebi que era a Paula. A enfermeira que mora aqui.

- Paula? - Ouvi passos descendo a escada.

- Doutora? O-oi. A senhora não estava viajando? - Ela segurava uma pizza nas mãos e o cheiro adentrava nas minhas narinas fazendo com que eu sentisse mais fome.

- Ah, sim mas... Pera, como você sabe? - Estranhei.

- Ah, a senhora sabe que eu e a Duda somos amigas. Ela comentou que iria viajar e que a senhora estava pensando se ia ou não...

- Hum, entendi. Houve um imprevisto e aqui estou eu! - Falei enquanto apertava loucamente os botões do elevador. - Bom, até mais, Paula.

- Tchau, doutora! Bom descanso.

A Paula sempre deixava um ponto de interrogação na minha cabeça, eu não sabia se ela era tímida ou se ela não gostava de interagir. Mas de fato, ela era uma pessoa... peculiar.



GAROTA DA VITRINEOnde histórias criam vida. Descubra agora