6 - Inevitável

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Luiza

Eu perambulava pela sala com passos curtos como se não tivesse mais forças nem coordenação pra andar. Fui até a cozinha, avistei um benzodiazepínico - ou melhor, um calmante - e não pensei duas vezes: tomei um, tomei dois, tomei... sem limites.

Sem dosagem.

Sem pensar.

No fundo, eu só queria apagar.

Arrastei meus pés em direção a porta e saí sem rumo. Cada minuto que passava o meu corpo não respondia mais. A carta ainda estava em minha mão porque eu não conseguia me desfazer dela. Enquanto a minha mente só pensava: "como ele pode fazer isso comigo?" "Por que isso? Por que eu?

A minha vida nunca foi fácil, apesar de ter nascido num ambiente de muito dinheiro, sempre fui muito cobrada em relação a estudos e vida pessoal. Por ser a mais velha, eu tinha que cumprir tudo que o meu pai ordenasse. Tudo caia sobre mim e foi assim desde que me entendo por gente.

Pensar que as coisas foram difíceis e que eu não pude aproveitar a minha vida do jeito que eu queria me tirava do eixo. Sempre pensei que ao casar com quem eu intitulava de "meu amor" iria ser o momento mais feliz da minha vida. E foi, de fato. Mas não perdurou. Não foi até que a morte nos separasse.


Flashback ON

- Minha filha, você tem certeza que você quer casar?

- Claro, mãe! Pelo amor de Deus! Você sabe que o Heitor é... ele é o cara pra minha vida. Meu primeiro namorado!

- Isso não quer dizer que ele seja o amor da sua vida - ela disse séria enquanto segurava minhas mãos - Lulu, eu só quero teu bem. Quero que você faça a escolha certa pra sua vida. E vejo que você não tem certeza disso.

- Claro que eu tenho! - insisti impaciente - E com licença mãe, o meu noivado começa em apenas vinte minutos. Preciso terminar de me arrumar.

Como a minha mãe poderia duvidar tanto do meu sentimento? Bufei ao ouvir ela batendo a porta e me olhei no espelho. Eu usava um vestido branco midi, meu cabelo estava preso num rabo de cavalo e minha maquiagem estava sutil como o evento pedia. Eu amava o Heitor mas o fato das pessoas implicarem com ele me deixava acuada.

Por que essa implicância?

- Lulu! Seus convidados chegaram! - Lara gritou na porta.

- Estou indo, maninha! - Suspirei fundo e não pensei duas vezes ao me dirigir até a sala para noivar com o cara da minha vida.

Uma hora depois

- Queria agradecer a cada um que tirou o tempo pra vim aqui comemorar com a gente. Eu e a Luiza estamos muito felizes com o nosso noivado, estamos prontos pra virar essa nova página nas nossas vidas. Lu, a maior certeza que eu tenho na minha vida nesse momento, é que eu quero você... - Eu sorria para ele e as pessoas aplaudiam - Desde quando te vi na faculdade e você não dava a mínima pra mim, eu sabia que seria você. Obrigada por aceitar ser minha esposa. Te amo!

Eu olhava para minha família e estavam todos com um semblante de insatisfação. Aquilo me causou uma angústia tão grande que não consegui responder a declaração do meu noivo.

Flashback OFF


- Luiza! Lulu! Acorda!

- Espera, preciso ver se ela tem pulso. Ela tem! Deve ter sido uma queda de pressão.

Aquelas vozes ecoavam no meu ouvido como se fossem pequenas agulhas perfurando cada nervo dentro de mim. Minha cabeça doía numa intensidade que parecia que estava tendo uma orquestra sinfônica dentro dela. Aos poucos, abri os olhos que estavam pesados lentamente e mal conseguia ver quem estava na minha frente.

GAROTA DA VITRINEOnde histórias criam vida. Descubra agora