7 - Enigma

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Eu demorei a acreditar e captar que era a Valentina ali na minha frente. Ela me olhava como se esperasse ansiosamente pela minha resposta e eu não sabia o que responder. Definitivamente.

- O-oi Valentina! Não esperava você por aqui. - Pigarreei e forcei um sorriso no rosto. Estava com vergonha com todos olhando diretamente pra nós.

- Só assim pra você me responder né, moça? - Retribuiu o sorriso naturalmente.

- Desculpa... Eu tenho passado por algumas coisas. Podemos... - eu observava ao redor me incomodando com os olhares sobre nós - conversar depois? Num lugar mais adequado?

- Hum... Desculpe também. Não quis ser invasiva vindo aqui. Amanhã você tem plantão?

- Não.

- Ótimo. Me encontra lá em casa pra gente jantar, mando a localização por mensagem. Até mais! - Piscou um olho e se distanciou de mim sem ao menos me dar oportunidade de respondê-la.

O que essa mulher tinha na mente? Tão... incisiva, talvez? Não sei a palavra certa mas aquilo me deixava intrigada.

Voltei a me concentrar no trabalho, afinal, tinha muitos pacientes pra avaliação, encaminhamento de exames, acompanhamento de pós cirúrgico e por aí vai. Eu queria focar na residência de cirurgia cardiorrespiratória mas não tinha percebido que o Heitor tinha tirado essa vontade de mim. Em tão pouco tempo.

Pelo menos, o término serviu pra algo. Me sinto mais motivada pra trabalhar e felizmente, voltar a estudar. A minha carreira é a única coisa que importa agora.

- Boa tarde, seu Jonas. Como o seu Silvio está por agora? - Cheguei avaliando o meu paciente.

- Boa, doutora. Meu pai tá do mesmo jeito, ele vai acordar? Parece que tá num sono eterno, oxe! - Resmungou com um sotaque gostoso de se ouvir, eu ri e ele me acompanhou.

- Seu pai passou por muitos procedimentos, seu Jonas. Tomou muita medicação, sedativos... normal ele dormir tanto assim. O que importa é o coraçãozinho dele, certo? - Falei sorrindo.

- Ah, entendi. E ele vai ficar bom? As netas dele já estão agoniadas, visse? Toda hora é "cadê vovô" "e o vovô, quando vem, painho? Toda hora me aperreiam. - Ele gesticulava enquanto falava.

- Que bonitinhas - eu soltei um riso - típico de um vovô que é muito querido. Olha, seu Jonas, o seu Silvio está estável por enquanto. Os novos exames irão mostrar pra gente se o procedimento foi bem sucedido e se o coração dele vai suportar. Por ser idoso, você sabe que tudo é um pouco mais demorado... Mas vamos te manter informado, certo? Ele está tendo os melhores cuidados possíveis, pode ter certeza.

- Muito obrigada, doutora. Meu pai tá sendo bem cuidado... E ó - cochichou - De todas aqui tu é a melhor!

Eu sorri com o elogio e agradeci. Mas sabia que aquilo não era verdade. Eu estava longe de ser a melhor médica e tinha todas as razões pra isso.

O grande desafio da noite tem sido dormir na cama, a cama que eu dormia com o Heitor. Eu não conseguia ter paz muito menos controle do sentimento que me consumia naquele momento. Levantei, peguei meus travesseiros e me transferi pro sofá. Por mais que eu soubesse que o Heitor adorava dormir ali, eu me sentia mais confortável.

Ao acordar, percebo a luz entrando um pouco mais forte do que no quarto e aquilo faz com que os meus olhos se espremessem buscando amenizar aquela claridade imensa que invadia a janela. Ouço meu celular tocar e reviro os olhos sem ao menos conferir quem era.


- Alô? - Eu disse sem muita vontade.

- Bom dia, filhota! Estou morrendo de saudades e o meu coração diz que tem algo errado contigo... Aconteceu algo?

GAROTA DA VITRINEOnde histórias criam vida. Descubra agora