37 - O erro foi meu

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Narrador

12 de março de 2019 — Hospital Souza Aguiar, Rio de Janeiro

Em meio a pilha de livros e uma tela de notebook ligada, Luiza dormiu apoiada sobre seus braços tentando se desfazer de todo o cansaço que lhe consumia durante todo o tempo em que se dedicou a Residência Médica. Estava prestes a ser contratada finalmente como especialista em Cardiologia no Hospital em que tanto almejava, ao mesmo tempo, lidava com a correria de um casamento que estava prestes a se realizar.

Suas irmãs e sua mãe, resolviam todos os últimos ajustes do casamento já que Luiza não tinha tempo suficiente pra dar conta de tudo. Já o Heitor, não participava tanto das escolhas já que pra ele, a voz final era a da Luiza e o seu empreendimento estava tomando forma.

- Lu? Lulu? - Lara surgiu atrás da porta do quarto de Luiza lhe despertando do sono repentino.

- O-oi, entra. - Respondeu, ainda sonolenta.

- Oi, maninha. Você tava dormindo? Desculpa, é que eu...

- Relaxa, minha linda. Já passou da hora de acordar, tenho um plantão pela frente, não é? - disse, com um sorriso de canto - Mas o que foi?

- Bom, o Heitor está aí e quer te ver... Parece que ele tem uma boa notícia.

- Hum... - Luiza ergueu a sobrancelha em tom de curiosidade.

Penteou os cabelos que tinham assanhado devido ao seu cochilo, colocou um perfume suave e desceu para ir de encontro ao seu noivo. Heitor estava na sala de estar sentado sobre o sofá com os pés inquietos. Avistou Luiza e logo deu um sorriso cativante.

- Oi, amor - Luiza se aproximou e lhe deu um selinho - O que aconteceu?

- Oi, morena. Então... Sei que você tem plantão e eu poderia ter te ligado mas, eu precisava te contar pessoalmente. - Disse, num tom apreensivo.

- Assim você me assusta. Conta!

- Lembra aquele apê no Leblon? Da minha mãe? - Luiza assentiu com a cabeça - Eu consegui alugar pra nós dois. Podemos morar lá depois do casamento! Não é sensacional?

- Mas... - A médica rangia os seus dentes de nervosismo - Amor, a gente não tinha conversado sobre o apartamento que o meu pai me deu? Já está tudo certo, documentação, móveis... Tudo.

- Eu sei, mas a localização de lá é sensacional, amor. Pensa, a gente morar perto dos meus pais, perto de tudo e...

- Ai, Heitor - bufou, revirando os olhos - Eu não quero ir pra lá. Pra mim isso já tinha sido conversado.

- Como assim? Você sabe que eu não lhe dei uma resposta sobre isso, como pode dizer que já estava resolvido? - Heitor alterou o seu tom de voz.

- Primeiro, fale baixo. Segundo, você sabe que eu não vou perder meu tempo discutindo sobre isso, eu tenho um plantão pela frente.

- Luiza... - a médica se virou e se afastou indo em direção ao seu quarto - Luiza! Luiza, volta aqui!

Completamente irritada, Luiza subiu as escadas e entrou no seu quarto batendo a porta assustando sua irmã Lara. Estava furiosa, ela não queria morar num apartamento onde a sogra fosse a dona, queria morar sob sua própria responsabilidade, sem restrições e iria até o fim pra que isso fosse possível. Tentou ignorar toda a raiva e se arrumou pra mais uma noite de plantão que estava por vir. Escolheu seu pijama cirúrgico na cor preta, prendeu seu cabelo em um coque, se perfumou e fez uma maquiagem leve.

A noite seria longa, seriam doze horas de plantão na UTI como Cardiologista. Desde que se formou, Luiza sonhava em um dia poder trabalhar no Hospital São Lucas, hospital referência em Cardiologia no Rio de Janeiro. Também fazia parte do seu sonho abrir um consultório próprio e ter uma rotina menos corrida do que já era. Ao chegar no hospital em que trabalhava, guardou os seus pertences e foi atender as demandas do dia.


GAROTA DA VITRINEOnde histórias criam vida. Descubra agora