1 - O Café

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"E de repente a vida te vira do avesso e você descobre que esse é o lado certo."

Quarta-feira, 12 de março de 2021 | 7:52am

Luiza

Eu estava procurando incessantemente pelo meu estetoscópio, eu tinha outros mas queria esse que eu apelidava de "esteto da sorte". Procurei por todos os cantos da casa até finalmente achar perto da lavanderia. Hoje seria um daqueles plantões em que eu sairia extremamente exausta e doida pra tomar uma cerveja bem gelada.

Eu não costumava sair muito depois que casei e principalmente depois de trabalhar em hospital. Sentia que a minha vida tinha parado no tempo. O meu relacionamento não estava dos melhores, apesar do Heitor ser um cara incrível, o nosso casamento caiu na rotina. Nós dois tínhamos consciência disso mas isso nunca foi uma pauta de conversa. A gente apenas seguia.

Nos conhecemos na época da faculdade, ele estudou na PUC RJ assim como eu, mas mudou de curso no meio do caminho. Hoje, ele é advogado criminalista, tem o seu próprio escritório e eu sigo com a minha vida de cardiologista. Nossa rotina era bem puxada então tínhamos pouco tempo juntos. Isso me fazia falta mas eu não tinha mais ânimo pra tentar me reaproximar.

Olhei meu celular e tinha uma mensagem da Lara, minha irmã mais nova:

"Bom dia mana, que dia você vem nos ver? Estou com saudade"

Sorri ao ler aquela mensagem e lembrei no quanto era bom ter minhas irmãs do meu lado. Lara, a mais nova com 18 anos, era a mais carinhosa. Ainda morava com nossos pais na nossa antiga casa. Liz, a irmã do meio, com 25 anos, era mais centrada. Mas ainda sim, era o meu Porto Seguro. Quando eu me sentia sozinha, ia visitá-las e me sentia renovada com o amor dessas duas por mim. E vice-versa.

Os meus pais são meus parceiros, meu pai, Otto, é juiz e se deu muito bem com o Heitor logo de cara ao saber que ele iria seguir a vida no direito. Já a minha mãe, Lívia, é empresária, possui sua própria rede de lojas de roupas femininas aqui no Rio. Nossa relação é maravilhosa, ela me aconselha muito principalmente em relação ao meu casamento.

Nós viemos do interior pra que eu e minhas irmãs tivéssemos mais oportunidade de estudos. Dinheiro nunca faltou na família, mas claro que na capital teríamos diversas possibilidades de crescimento.

Ao chegar na cozinha, percebi que o Heitor já havia saído pra trabalhar, fiz meu café e me peguei pensando no porquê de eu ter escolhido trabalhar numa Semi-intensiva e não num consultório onde eu pudesse fazer meus próprios horários. Mas eu não tinha tempo pra lamentar. Estava feliz e satisfeita com o meu trabalho. Finalmente, estava podendo dar um basta no meu passado e seguir a minha vida.

Saí de casa, peguei o meu carro e na saída do prédio, encontro a Paula, uma enfermeira que também morava por lá e coincidentemente trabalhava no mesmo hospital que eu.

- Bom dia, Paula! Quer carona? Entra aí! 

- B-bom dia, doutora. Obrigada!

Eu estava atuando como cardiologista no hospital São Lucas há pouco menos de um ano. Eu ainda estava me habituando com o local e com os funcionários. Enquanto dirigia, cantarolava esquecendo da Paula, para ir me inspirando e ao mesmo tempo tentando esquecer do caos que a minha vida estava antes de entrar para trabalhar.


Por que você me deixa tão solto?
Por que você não cola em mim?"

- Pensando alto, doutora? Doutora?

- O-oi! É... me peguei pensando alto mesmo. - Ri sem graça.


Por que você me esquece e some?
E se eu me interessar por alguém?
E se ela, de repente, me ganha?"


GAROTA DA VITRINEOnde histórias criam vida. Descubra agora