GAROTA DA VITRINE

21 - Kairós

Kairós.

1. palavra de origem grega, que significa "momento certo" ou "oportuno".

Até onde podemos ir em busca da liberdade? O quanto isso pode afetar os nossos relacionamentos ou até mesmo a nossa saúde física e mental? Acordei me dando conta finalmente de que eu estava presa num mundo onde não deveria estar. Eu nasci pra ser livre. Sagitariana nata. Liberdade e independência com certeza fazem parte de quem eu sou.

Como dizia Clarice Lispector:

"Você pode até me empurrar de um penhasco que eu vou dizer:

- E daí? Eu adoro voar!"

Odeio que me dêem fórmulas certas, porque eu não espero acertar sempre. Não gosto que me digam o que esperam de mim, por que não vou seguir o que querem. Não sei amar pela metade. Não sei viver de mentira. Não sei voar de pés no chão. Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma pra sempre.

Enquanto me perdia num mar de pensamentos acompanhado de um dia úmido, olhava a janela pedindo calma e sabedoria ao Universo, era o que eu precisava pra enfrentar os próximos dias e as próximas fases da minha vida. Eu havia marcado de sair com a Rayka, minha melhor amiga da época da faculdade que foi estudar no Canadá há um ano e estava finalmente de volta. Cumpri minha agenda da manhã, tomei um banho e resolvi descer pra esperar a chegada dela.

Antes que eu alcançasse o último degrau da escada, pude ouvir uma conversa entre minha mãe e Serena no escritório.

- Mas dona Catarina, a Valentina já fez mais de 7 publicidades só essa semana. Achávamos que com a polêmica isso poderia prejudicar seu engajamento, mas pelo contrário, só aumentou.

- Então, podemos continuar nas polêmicas. Quero o engajamento dela triplicando!

- Isso não vai afetar a saúde mental dela? A última polêmica não fez muito bem pra Valen, ela foi parar no hospital, lembra?!

- Que nada, Serena! Agora ela está em tratamento, isso a gente se preocupa depois.

Aquilo me doeu. Me doeu de uma forma que eu não esperava. Tudo bem que a minha mãe está longe de ser a mulher mais santa do mundo mas era inacreditável saber que uma mãe pensa apenas no lucro da sua filha. A minha saúde? Tanto faz pra ela. O meu bem estar? Ah, isso não importava. A tal liberdade que tanto pensei horas atrás estava me mostrando que eu estava longe de alcança-la, mas eu iria. Fingi que não ouvi e me encaminhei até o sofá.

Minutos depois, Serena e Catarina saem do escritório espantadas com a minha presença no sofá.

- Nunca me viram não? - Perguntei sem paciência.

- Como sempre de bom humor.

- Bom... e-eu vou indo, gente. Amanhã terminamos o trabalho. - Serena se despediu visivelmente acanhada.

- Dona Valentina, a sua amiga Rayka chegou.

- Obrigada, Amélia. - Sorri.

Cheguei na porta avistando minha amiga com um sorriso enorme no rosto e praticamente voei em seus braços. Como é bom ter alguém que lhe entende perto de você. Rayka — além do Igor — era um Porto Seguro que eu nem achava que tinha.

- Você vai me esmagar, Valentina! - Disse com um sotaque americano puxado.

- Nossa, como ela está americaaana! - Soltei uma gargalhada ao perceber Rayka se emocionar.

- Que saudade que eu tava, sua carioca safada! - Deu um tapinha em meu ombro.

- Muita saudade, amiga. Vem que eu quero saber tudo!