12 - Inacreditável

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Ainda estava em êxtase após a minha visita no cemitério. Estar naquele lugar me trazia arrepios, me tirava lágrimas que eu nem sabia que eu tinha. Mas eu teria que estar ali de uma forma ou de outra.

Fui pro plantão completamente sem ânimo mas eu sabia que os meus pacientes me trariam força pra enfrentar aquele dia caótico. Enquanto colocava o meu pijama cirúrgico no vestuário, sou surpreendida pelo doutor Ricardo que apareceu com um semblante indecifrável na porta.

- B-bom dia, doutora Luiza. Desculpa entrar assim... Posso falar contigo?

- Bom dia, doutor. Claro! No que posso ajudar? - Coloquei o meu estetoscópio no pescoço e me dirigi até ele.

- Então... O seu Silvio teve uma PCR há trinta minutos atrás. O filho, Jonas, está inconsolável e com medo. Acho que você é a pessoa certa pra conversar com a família agora então peço que faça o possível pra isso.

Não acredito.

Logo eu que passei o dia lembrando de uma perda, agora, não quero ter mais outra. Não é possível. Respirei fundo inalando todo o ar e expirando lentamente para tentar me recompor. O doutor Ricardo percebeu e colocou a mão sobre meu ombro afim de me transmitir forças.

- Você consegue, doutora.

- O-obrigada, doutor! Logo estarei lá.

Ele assentiu, se distanciou me deixando sem palavras sem reação. Eu estava "acostumada" com perdas mas a gente nunca tá preparada. É difícil, é árduo. É desgastante. Cada vida perdida tem um valor inestimável.

Eu não sabia lidar com perdas.

Me dirigi até a semi-intensiva para verificar o meu paciente e conversar com a família. Jonas, o seu filho, estava extremamente choroso. Tentei acalma-lo da melhor forma possível se é que eu conseguiria. Logo depois, descobri pelos outros profissionais que a parada cardiorrespiratória do seu Silvio se deu de repente, mas ele estava estável. Os exames sairiam futuramente para investigarmos o motivo.



O dia no plantão tinha sido cansativo, como sempre. No meio da tarde, eu tinha recebido uma ligação da doutora solicitando que eu fosse em seu escritório assim que pudesse. Como não contenho a minha curiosidade, assim que terminou o plantão, segui com meu carro em direção ao escritório dela.

Chego no local já ansiosa pelo que tinha por vir e esperei o elevador impacientemente que demorava a chegar no térreo. Ao subir, noto o escritório vazio mas adentrei assim mesmo.

- Boa noite, sou Luiza Campos. A doutora Marta solicitou a minha presença aqui. - Eu disse a recepcionista.

- Boa noite, senhora Luiza. Pode entrar, ela está a sua espera. - Assenti e entrei na sala da advogada.

- Boa noite, doutora.

- Boa noite, Luiza! - sorriu - Como vai?

- Vou bem na medida do possível. Mas, qual o motivo de ter me chamado aqui? - Perguntei sem muito rodeio.

- Então - suspirou - não tenho notícias boas.

- Como assim?

- Bom... o Heitor Monteiro não quer assinar o seu pedido de divórcio.

- Oi?! - Arregalei os olhos.

- Pois é. O advogado dele enviou uma nota avisando que o Heitor não iria conceder a assinatura. E tem outra, ele solicitou divisão de bens... Provavelmente ele está de olho em seu apartamento. Vocês compraram juntos?

- NÃO! - Exaltei a voz - O apartamento é meu, doutora! Meus pais me deram antes de casar. Está no meu nome! Esse cara é inacreditável mesmo, não é possível... - Eu balançava minha cabeça negativamente ainda sem acreditar.

GAROTA DA VITRINEOnde histórias criam vida. Descubra agora