38 - Tempo

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Luiza

O tempo é a duração relativa das coisas. E se você, assim como eu, as vezes entra em algumas paranoias sobre o quão continuo é o tempo, então você entende que nem sempre ele parece seguir uma ordem. Na verdade, aquela frase que diz que cada um tem seu tempo nunca foi tão real, afinal, alguns levam anos pra se encontrar em uma profissão, outros precisam de apenas algumas horas pra descobrir o amor da sua vida, e em outros casos algumas pessoas podem viver dez anos de vida em apenas uma noite.

E o tempo, seria o meu maior aliado já que seria preciso arcar com as próprias consequências dos meus atos. A minha última conversa com a Valentina foi necessária pra entender que eu estava quebrando todas as suas expectativas sobre mim no nosso relacionamento. Eu sabia que precisava melhorar em relação aos meus próprios sentimentos, confusões e lembranças que ainda me assombravam.

Pra falar a verdade, desde o fatídico dia em que o seu Francisco faleceu, a minha vida não foi mais a mesma. Eu não sou a mesma Luiza de antes. Talvez isso tenha acontecido pra me fazer crescer em vários sentidos mas também, pra me fazer uma pessoa mais cautelosa com tudo. Principalmente nos meus próprios sentimentos e nos sentimentos daqueles que amo e prezo.

- Luiza?

- Oi, mãe. - Respondi sem muita vontade enquanto lia um artigo científico no iPad.

- Filha, a médica pediu pra passarmos lá, ela conseguiu adiantar a sua consulta. Isso é ótimo, não? - Perguntou animada.

- Por quê ótimo?

- Quanto mais cedo você for liberada pela médica, mais rápido você volta a fazer o que ama, filha.

Aquela frase perdurou pela minha cabeça durante todo o dia. Eu estava pronta pra voltar? Todo o trauma do acidente e do que aconteceu há dois anos atrás me fez repensar se eu estava realmente focada e preparada pra voltar a ser a grande cardiologista que sou. Tentei desfocar desses pensamentos, me arrumei e fui pra sala esperar a minha mãe já que ela me acompanharia na consulta. Me consultar com outro médico é uma sensação bastante estranha mas, é necessário pra que eu voltasse ao meu trabalho.


[...]



Revisitar o ambiente que trabalho - não para exercer e sim para ser consultada - é uma sensação muito diferente, muito fora do comum pra mim que mal frequento consultas como paciente. Enquanto eu caminhava pelo corredor do Hospital São Lucas, percebia o quão vazio nós somos dentro desse lugar. As pessoas, os olhares, os semblantes. Literalmente vivemos no automático e ali somos obrigados a esquecer todas os nossos problemas pessoais pra focar na exclusivamente na saúde dos nossos pacientes.

- Uma semana? Mãe, isso é muito! O que eu vou ficar fazendo? Maratonando todos os artigos científicos existentes? Fazendo consulta on-line? - Bufei enquanto falava.

- Mas você viu que é necessário, Lu. Você é médica mas está reclamando como uma paciente mesmo, né? - Ela riu enquanto falava.

- Ai, que saco! - reclamei mas me distrai quando vi a Duda na recepção - Amiga?

- Luiza? Meu Deus, por que você não me avisou que viria? - Duda me abraçou apertando os meus ossos - Oi, tia Lavínia! - Disse animada cumprimentando minha mãe.

- Oi querida, continua linda, não é? - Duda deu de ombros e deu um sorriso satisfeito - Eu vou ali marcar uma consulta pra mim, volto já.

- E aí, minha doutora. Como foi a consulta? Como é ser paciente?

- Horrível. - Respondi revirando os olhos

- Para com isso, garota! - nós rimos juntas - Fala sério. Como foi?

GAROTA DA VITRINEOnde histórias criam vida. Descubra agora