Capítulo 1: Alma Lavada

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"Tudo está fluindo. O homem está em permanente reconstrução; por isto é livre: liberdade é o direito de transformar-se." - Lauro de Oliveira Lima.


Mesmo já sob o céu do entardecer, parecia que os raios de sol se tornavam cada vez mais brilhantes conforme o portão daquele presídio se abria.

Os olhos brilhavam, lá dentro e lá fora, aguardando cada instante no espaço-tempo que parecia ter parado na ansiosa espera pela liberdade.

... – Eu tô muito orgulhoso de você, Rams. Nós vamos estar juntos em breve. ...

Mesmo que o que estava lá dentro não soubesse como pôr tudo em palavras, seu coração sabia que ele estava finalmente se perguntando o que fazer para sentir orgulho, de si próprio e daquele que o esperava lá fora.

... – Eu te amo desde a primeira vez que te vi. ...

Ele só precisava de uma chance. De uma oportunidade para fazer diferente, para ser diferente, o diferente que nasceu para ser. Para amar, para ser amado, para dar e receber essa coisa inédita para si: Amor.

... – E o que eu vou fazer quando sair daqui, Kevín? Eu num sei fazer nada.

- Você pode aprender. Do mesmo jeito que aprendeu a ler, a escrever, você pode aprender a ser o que você quiser. Faça o que quiser, Rams... Mas, sempre faça tudo em favor da sua liberdade. ...

O portão finalmente se abriu e os olhares se cruzaram.

O brilho do sol era forte ao entardecer, mas nada ofuscaria o brilho daqueles olhos reencontrando um ao outro do lado de fora daquele presídio.

O brilho dos olhares foi combinado ao brilho dos sorrisos que se abriram em sincronia. E a emoção levou aqueles corpos a se chocarem num abraço. Abraço apertado o bastante para sufocar de vez qualquer traço das tristezas do passado.

Os braços entrelaçados, então, passearam uns pelos outros, sentindo o calor que aqueles corpos trocavam. As mãos não sabiam bem onde repousar e os olhares voltaram a se encarar para, logo em seguida, fecharem-se enquanto as bocas se encontravam num beijo intenso; na mesma intensidade de todas as emoções envolvidas naquele momento.

- Finalmente! – A voz embargada de Kelvin foi ouvida num sussurro após o beijo.

- Finalmente. – Ramiro repetiu.

Agora, sendo tomados por risos de felicidade, o casal repetiu o óbvio como que para se convencerem que era tudo real mesmo e não o mesmo sonho que vinham sonhando junto nos últimos meses.

- Você tá livre, meu amor! Você tá livre! Finalmente, você tá livre!

- Eu tô... Eu tô livre, Kevín! Eu tô livre pra ocê, meu pequetito!

Outra voz surgiu em meio à comemoração.

- Bom, você está livre, Ramiro. Foi um prazer ajudar vocês nessa jornada.

O casal, enfim, lembrou-se de haver mais pessoas no local e virou para quem falava.

- Muito obrigado, Rodrigo! Sem sua ajuda eu não sei o que seria do Rams. – Kelvin agradeceu.

Ramiro logo se pôs a frente para apertar a mão do seu advogado e, não obstante, lhe deu um abraço apertado também.

- Brigado, doutor Rodrigo! Brigadão! Ocê é o adevogado mais mió de Nova Primavera e ó, eu até fiz propraganda sua pra uns colega meu aí preso. Cê vai ter um trabalhão, viu?

- Nossa, Ramiro!... É... Obrigado. Bom, vamos? Eu vou levar vocês para o Naitandei.

Todos entraram no carro do noivo de Luana. Assim que partiram, Ramiro olhou para o que havia sido sua morada pelos últimos meses e encheu os olhos de lágrimas.

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