- Que será que o pequetito tinha tanto pra fazer com o doutor Rodrigo que num quis vim pra pegar o exame mais eu? – Ramiro se perguntava distraído quando seus pensamentos foram interrompidos por Julinho.
- Tá pensando em quê, pai?
- Oi? Êêê... Cê tá querendo saber pensamento dos outro agora, é, Julín? Cê deixa de ser fofoqueiro...
- Sou fofoqueiro nada!
- É, sim. Fofoqueiro. Fifi.
- Fifi? O que é fifi?
- Fifi é como chama essas véia fofoqueira que num tem o que fazer e fica nas porta de casa ou nas janela espiando a vida dos outro.
- Ah... Ei! Não sou fifi, não! Mas, eu conheci uma fifi já.
- Conheceu, é? Onde?
- Onde eu morava antes. Era a dona Jurema. Ela morava na casa do lado e vivia na janela olhando a vida de todo mundo.
- É memo, é?
- É. Foi ela quem chamou o pessoal do primeiro abrigo pra onde eu fui, quando eu tinha oito anos.
- Foi?
- Foi. Ela não gostava da minha mãe. Quando eu fui pedir comida na casa dela, ela não me deixou voltar pra ficar sozinho em casa. Eu ouvi ela dizendo pra o marido que minha mãe era irresponsável e mais um monte de coisas. E aí ela disse pra eu ficar lá na casa dela que ela ia ligar pra um lugar lá... Só sei que depois chegou o pessoal do abrigo pra me buscar.
Ramiro lembrou-se do que aconteceu dois anos atrás, quando Julinho tinha oito anos. – Julín... Isso foi quando tua mãe inventou de ir atrás d'eu e te deixou sozín, num foi?
- Ela foi atrás do noivo dela... Ah, é! Era você, né? É verdade...
- É, era eu. – Ramiro deu um profundo suspiro imaginando que enquanto toda a ceninha de Raimunda acontecia há dois anos, Julinho estava correndo perigo, sozinho e morrendo de fome.
O menino, porém, aliviou seu coração. – Que bom que era você o noivo dela, Ramiro. Já pensou se fosse outro que pudesse ser meu pai e ele não gostasse de mim?
O brilho voltou ao olhar de Ramiro que passou um braço por volta dos ombrinhos do garoto e declarou: - Que bom memo, né, Julín? Porque memo tendo começado ruim foi o jeito de nós se conhecer. – Sorriu, dando um beijinho na cabeça do menino e avisando: - Ó, eu vou lá agora buscar o exame que vai dizer se eu sou teu pai pai ou se vou ser só pai de coração memo, tá?
- Tá bom, pai, vai lá! – Deu-lhe um abraço.
- E oia... – Sussurrou. - Brigado, viu, Julín. – Agradeceu abaixando-se para ficar na altura dele.
- Por quê?
- Porque eu tô muito agradecido por ocê ter aceitado ser meu filho. É que ninguém nunca aceitava eu antes... E eu achava que ninguém nem ia aceitar eu nunca. Mai aí, primeiro apareceu o Kevín que acabou aceitando inté casar com eu. E agora me aparece ocê... Que aceitou ser meu filho. Cê vai ser meu segundo pequetito.
Ramiro deu-lhe um beijinho na mão e se levantou para ir. Apesar da emoção fazer seus olhos lacrimejarem, deu uma risada quando Julinho comentou:
- Eu não vou ficar pequetito pra sempre, eu ainda vou crescer. Já o Kelvin...
- Êêê... Oia, cê num fala isso na frente dele que aquele pequetito é brabo, viu?
Julinho também riu com carinha de sapeca. Os dois deram tchau e Ramiro fechou o portão vendo o menino voltar para dentro do abrigo em segurança.
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Liberdade e Paixão
FanfictionE depois que Ramiro saiu da prisão? Ele era outro homem. Completamente mudado como Kelvin havia dito em seus votos de casamento. Bom, talvez não completamente, porque um pedacinho de Ramiro não mudou. Este pedacinho já era de Kelvin desde a primeira...