Capítulo 18: Chantagista

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- Que será que o pequetito tinha tanto pra fazer com o doutor Rodrigo que num quis vim pra pegar o exame mais eu? – Ramiro se perguntava distraído quando seus pensamentos foram interrompidos por Julinho.

- Tá pensando em quê, pai?

- Oi? Êêê... Cê tá querendo saber pensamento dos outro agora, é, Julín? Cê deixa de ser fofoqueiro...

- Sou fofoqueiro nada!

- É, sim. Fofoqueiro. Fifi.

- Fifi? O que é fifi?

- Fifi é como chama essas véia fofoqueira que num tem o que fazer e fica nas porta de casa ou nas janela espiando a vida dos outro.

- Ah... Ei! Não sou fifi, não! Mas, eu conheci uma fifi já.

- Conheceu, é? Onde?

- Onde eu morava antes. Era a dona Jurema. Ela morava na casa do lado e vivia na janela olhando a vida de todo mundo.

- É memo, é?

- É. Foi ela quem chamou o pessoal do primeiro abrigo pra onde eu fui, quando eu tinha oito anos.

- Foi?

- Foi. Ela não gostava da minha mãe. Quando eu fui pedir comida na casa dela, ela não me deixou voltar pra ficar sozinho em casa. Eu ouvi ela dizendo pra o marido que minha mãe era irresponsável e mais um monte de coisas. E aí ela disse pra eu ficar lá na casa dela que ela ia ligar pra um lugar lá... Só sei que depois chegou o pessoal do abrigo pra me buscar.

Ramiro lembrou-se do que aconteceu dois anos atrás, quando Julinho tinha oito anos. – Julín... Isso foi quando tua mãe inventou de ir atrás d'eu e te deixou sozín, num foi?

- Ela foi atrás do noivo dela... Ah, é! Era você, né? É verdade...

- É, era eu. – Ramiro deu um profundo suspiro imaginando que enquanto toda a ceninha de Raimunda acontecia há dois anos, Julinho estava correndo perigo, sozinho e morrendo de fome.

O menino, porém, aliviou seu coração. – Que bom que era você o noivo dela, Ramiro. Já pensou se fosse outro que pudesse ser meu pai e ele não gostasse de mim?

O brilho voltou ao olhar de Ramiro que passou um braço por volta dos ombrinhos do garoto e declarou: - Que bom memo, né, Julín? Porque memo tendo começado ruim foi o jeito de nós se conhecer. – Sorriu, dando um beijinho na cabeça do menino e avisando: - Ó, eu vou lá agora buscar o exame que vai dizer se eu sou teu pai pai ou se vou ser só pai de coração memo, tá?

- Tá bom, pai, vai lá! – Deu-lhe um abraço.

- E oia... – Sussurrou. - Brigado, viu, Julín. – Agradeceu abaixando-se para ficar na altura dele.

- Por quê?

- Porque eu tô muito agradecido por ocê ter aceitado ser meu filho. É que ninguém nunca aceitava eu antes... E eu achava que ninguém nem ia aceitar eu nunca. Mai aí, primeiro apareceu o Kevín que acabou aceitando inté casar com eu. E agora me aparece ocê... Que aceitou ser meu filho. Cê vai ser meu segundo pequetito.

Ramiro deu-lhe um beijinho na mão e se levantou para ir. Apesar da emoção fazer seus olhos lacrimejarem, deu uma risada quando Julinho comentou:

- Eu não vou ficar pequetito pra sempre, eu ainda vou crescer. Já o Kelvin...

- Êêê... Oia, cê num fala isso na frente dele que aquele pequetito é brabo, viu?

Julinho também riu com carinha de sapeca. Os dois deram tchau e Ramiro fechou o portão vendo o menino voltar para dentro do abrigo em segurança.

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