Capítulo 6: O passado condena?

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- Faz onze ano, Kevín... Quando eu conheci a Munda. Eu num tava aqui em Nova Primavera. O patrão tinha me mandado fazer uns trabaio lá nas divisa de Mato Grosso com Minas e Goiás. Era numa fazenda que ele tinha lá. Eu fui com outros peão, porque eu ainda era muito moço, tinha uns vinte e pouquín... E ele tinha me mandado pra aprender a dar uns susto nums caba que tavam enchendo a paciência dele, porque tavam cobrando umas dívida, uma coisa assim.

Kelvin ouvia atentamente a história do seu marido tentando entender em que momento aquela mulher havia aparecido na vida de Ramiro para agora transformar toda a alegria que estavam sentindo em sofrimento.

- Aí, nós viajou. Tava eu, o Sidney e outro, acho que era o Jão...

- Ramiro, você chama todo mundo de Jão! Eu quero saber quando foi que aquela bruxa entrou na sua vida e o porquê dessa história de filho agora. – Kelvin comentou com uma expressão séria que dava até arrepios em Ramiro.

A única vez que Ramiro havia visto seu pequetito assim foi justamente quando conversaram sobre filhos e ele ainda achava que o único jeito disso acontecer seria se casando com uma mulher. E Kelvin lhe deu uma lição, como sempre, ainda que estivesse magoado com ele. Dessa vez, novamente Kelvin estava magoado. E tinha toda razão de estar.

- Então, Kevín... Eu me alembro que o Sidney tava no comando. Quando nós chegou, viu logo uns caba lá querendo botar fogo na plantação do patrão pra se vingar. Nós desceu do carro e...

...

...

11 anos atrás...

- É bom ocês irem saindo senão a gente mete chumbo em todo mundo! – Sidney gritou se pondo a frente dos dois outros peões mais jovens que logo também sacaram suas armas.

Os homens que estava tentando queimar as plantações correram, fugindo da mira dos capangas de Antônio La Selva, mas um corajoso ficou. Soltando o galão de gasolina que derramava sobre a terra, encarou os três capangas dizendo:

- Eu posso inté morrer aqui! Mas, os La Selva têm que pagar por ter tirado minhas terra de mim!

- Cê tá querendo é levar uma bala bem no mei da tua fuça, isso, sim! – Sidney se aproximou mirando bem no rosto do rapaz, enquanto ordenava: - João, Ramiro, vão atrás dos outro, vão!

Os dois jovens capangas se olharam e correram pela mata na direção que os outros haviam tomado.

Já alguns metros adiante, Ramiro ouviu um tiro.

- Sidney!... – Logo pensou, sabendo que o colega de trabalho não brincava em serviço. Era como ele que o patrão queria que Ramiro fosse. Mas, enquanto Sidney e outros faziam isso friamente, Ramiro sempre sentia seu estômago embrulhar e a cabeça desnortear quando pensava que chegaria o dia de ter que matar alguém a mando do patrão. Ao mesmo tempo, se ver ganhando cada vez mais a confiança daquele que o deu abrigo e trabalho desde muito cedo – e que ele achava que isso era bom – o estava lhe dando a coragem e o orgulho que ele achava que precisava.

- Vamo se separar pra procurar, Jão. Vai pra aquele lado que eu vou pra esse. Deve de ter uns escondido por aí. Vamo juntar essa cambada toda e levar pro Sidney.

O outro foi para onde Ramiro o havia indicado enquanto ele continuou andando até avistar a sombra de um homem também armado escondido atrás de um muro antigo.

- Êêêê... Chegou a hora. Chegou a hora, Ramiro. Vai que cê consegue. – Ramiro sussurrou para si mesmo enquanto sua respiração ficava mais e mais acelerada junto aos batimentos do seu coração. Parecia que havia chegado o momento de provar ao seu patrão que ele era capaz de fazer qualquer coisa que o mandassem.

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