Capítulo 19: Armadilha

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Ramiro começou a sentir um cheiro de perfume. Certo perfume que ele conhecia muito bem e adorava sentir suas notas no corpo do seu amado pequetito. Abriu os olhos devagar e a primeira imagem que lhe apareceu foi daquele rosto lindo que tanto amava. Por um instante pensou se tratar de uma ilusão tamanha a beleza do sorriso que surgia ao vê-lo despertar. O brilho no olhar preocupado de Kelvin e sua voz lhe chamando suavemente de "meu amor" enganava os sentidos de Ramiro não o fazendo distinguir entre sonho e realidade.

- Eu tô sonhando, Kevín... Cê tá sempre tão lindo nos meus sonho... Mai hoje tá cheiroso também...

- Meu amor, você tá bem? Você não tá sonhando, não. Eu tava colocando o perfume pra você cheirar pra você acordar. Ei... Olha pra mim, me ouve... O que você tá sentindo?

Ramiro piscou algumas vezes, enfim recobrando a consciência. Respirou fundo sentindo mais uma vez cada acorde daquele perfume que Kelvin segurava aberto perto dele e que tomava todo o ambiente, mas sua paz momentânea acabou no exato segundo em que ele recordou do que havia acontecido. Suas últimas lembranças eram com Raimunda o chantageando. Seu corpo se tensionou e ele prontamente tentou levantar-se, olhando para toda parte, como se buscasse a ameaça ali. No entanto, o que ele viu foi o quarto do seu marido e este ao seu lado.

- Kevín... Como eu vim parar aqui? Eu tava na rua... Foi tudo um sonho ruim? Diz que foi!

- Não, Rams. Eu não sei o que aconteceu, mas nós acabamos de te encontrar desmaiado. Você me ligou tendo uma crise, mas parou de responder, e eu saí na mesma hora com o doutor Rodrigo pra te procurar. Por sorte te achamos rápido, você estava perto do abrigo, num beco sem saída. Quando chegamos, nós dois e o Nando te trouxemos pra cá pra o quarto. Eu vou avisar aos outros que você acordou, tá? Todo mundo ficou preocupado.

Enquanto Kelvin mandava uma mensagem para os amigos pelo celular, Ramiro deu um longo suspiro e voltou a deitar-se, comentando: - Eu tô memo num beco sem saída.

O menor ouviu o comentário e questionou: - Por que tá dizendo isso, Rams? O que tá acontecendo, hein? – Largou o celular e se voltou para o marido, dando-lhe atenção e carinho. – O que houve pra você ter essa crise, assim, tão de repente? Você nunca mais tinha tido uma crise de ansiedade. Muito menos uma que te fizesse desmaiar.

Ramiro desviou o olhar. Não sabia como contar tudo que aquela mulher o havia ameaçado. O seu silêncio, porém, só fazia Kelvin querer saber ainda mais.

- Eu tô preocupado, meu bem, por favor, me conta. Você tava tão feliz, nós dois estávamos tão felizes, tão ansiosos por esse dia. Era pra só ter notícias boas hoje...

- Só notícia boa? Por quê?

- Porque depois que você chegasse com o resultado do DNA eu queria te fazer uma surpresa.

- Que surpresa, pequetito?

Kelvin sorriu, embora seu olhar ainda buscasse, apreensivo, a resposta para o que tinha acontecido ao marido. – Sabe o que eu fui fazer com o doutor Rodrigo e a Luana hoje? Fui receber o restante do dinheiro que eles me devem, como prometeram. Sabe o que isso significa, Rams? Que nós já temos a quantia necessária pra comprarmos a nossa casa!

- Já?! – Tal notícia pareceu amedrontar Ramiro mais do que alegrar. – E-Então, cê já tá com o dinheiro pra comprar uma casa, pequetito?

- Já! Claro, depende da casa, mas é um bom começo, né? Já pensou? Em breve não só vamos ter onde morar, mas vamos... – Kelvin se emocionou. – Vamos ter um lar pra chamar de nosso e formarmos nossa família. Já imaginou? Eu, você, nosso futuro filho...

- Julín... – Ramiro deu um longo suspiro mais uma vez. Suas reações negativas e seu olhar perdido aumentavam a apreensão de Kelvin.

- Ramiro, por favor, me conta o que tá acontecendo com você. Eu pensei que você fosse ficar feliz com tudo que eu tô contando, mas parece que não gostou!

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