Capítulo 9: Um ombro amigo

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Após as meninas ficarem mais calmas e constatarem que estavam seguras, Kelvin e Ramiro saíram. Não menos preocupados com a invasão ao Naitandei, mas eles tinham assuntos bem importantes para resolver.

Kelvin ia explicando que conversaria com a diretoria do abrigo sobre a possível ligação entre Ramiro e o menino, Julinho. Era preciso contar toda a história e deixar todos cientes dos próximos passos para comprovar essa paternidade.

Ramiro se esforçava para entender tudo, mas, por mais que tentasse, o medo de que aquelas suspeitas fossem reais ainda era maior que a compreensão. Por mais que Kelvin não demonstrasse mais estar chateado com ele, pelo contrário, estava carinhoso e compreensivo, Ramiro sentia no fundo do seu coração que seu pequetito não estava assim tão feliz quanto queria parecer. E isso era o que mais o machucava: pensar que estava dando um desgosto para a pessoa que mais amava.

- Você tá calado, Rams. Eu tô aqui falando, falando... E você nada! O que é? Tá nervoso pelo que a gente precisa conversar lá no abrigo?

- É... Tô também, né, Kevín? É que é coisa demais pra minha cabeça e cê sabe que minha mente é assim embaraiada e... Eu fico assim memo calado, oiando pro nada...

- É, eu sei, eu sei. Quando você fica olhando pra o nada é que você tá pensando ou tá nervoso, eu sei. E, também, você volta a falar super errado, viu? Poxa, Rams! Parece que quando você fica tenso esquece tudo que já aprendeu, tudo que eu te ensinei.

- Não! Não, Kevín, num é que eu esqueço, não, é que embaraia as ideia...

- Sei, "embaraia"... Me diz, vai... O que é que tá te deixando mais nervoso de tudo isso? Vai que se a gente conversar sobre isso antes, você chega mais preparado pra falar lá, pra contar tudo...

- É, pode ser. Mai é que... Sabe o que é, Kevín?...

- O que é?

- É que o que tá me deixando mai nervoso é... É ocê, pequetito.

- Eu?!

- É... Ocê...

- Ah! – Kelvin parou, cruzando os braços e batendo o pé no chão. – Logo eu, que estou aqui te ouvindo, te levando, tentando te ajudar nisso tudo?! Logo eu que te compreendi sempre?! Logo hoje, depois dessa manhã linda que tivemos?! Ah, não! Agora magoou! Magoou, Ramiro, magoou muito.

- Não! – Ramiro quase gritou partindo para segurar o rosto do seu marido com ambas as mãos e olhar no fundo dos seus olhos. – É justamente isso que me deixa mais nervoso, Kevín. É magoar ocê, meu amor. Eu num guento te magoar.

Pronto. Quando Ramiro o chamava de "meu amor" Kelvin se derretia completamente. O brilho em seus olhos aumentava na mesma medida que a chama da paixão em seu coração ardia mais e mais por aquele homem tão seu. Naquele espaço de um instante, Kelvin lembrou a conversa que teve com Luana...

... ...

Deitado no colo de Luana enquanto ela gentilmente lhe oferecia um cafuné e o deixava chorar suas mágoas, Kelvin se pôs a contar o que estava acontecendo.

- Você lembra da tal da Munda?

- De quem?

Kelvin revirou os olhos enquanto a recordava: - Aquela zinha que se dizia noiva do Ramiro, que apareceu aqui uma vez.

- Ah... Sim, sim! Lembro. Me lembro daquela esquisita... Chata! Se fazia de sonsa, a metida. Mas, por que tá lembrando dela agora? O que ela tem a ver? Ah, não, Kelvin! Não me diga que ela voltou e tá infernizando a vida de vocês?

- Mais ou menos. Ela voltou, mas não diretamente.

- Como assim, minha velha? Não entendi.

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