Capítulo 5: Angústia

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- Oi, meu amor, cheguei! – Kelvin dizia entusiasmado ao abrir a porta do seu quarto e seu marido já estar lá sentado na beira da cama. O pequetito trazia consigo umas sacolas de compras, as quais foi logo deixando num canto e correndo para se juntar a seu amado num abraço caloroso. E não parava de falar.

- Meu amor, que saudade! Fico um dia longe do meu maridinho já fico morrendo de saudade, sabia? – Deu-lhe um beijo na bochecha enquanto o abraçava por trás, ajoelhado na cama. – Hmm! E como tá cheiroso! Gostei! Gostei mesmo. Você sabe, né, Rams, que eu adoro ir te buscar lá no trabalho e tal, mas quando você chega antes de mim e fica aqui me esperando todo gostoso, quer dizer, todo cheiroso... Ah! Gostoso também, né? Nossa! Adoro! – Deu-lhe mais beijinhos até que parou para reparar em como Ramiro estava. De um jeitinho que Kelvin conhecia bem e não gostava nada.

- Ei! Que foi, hein? Rams?... Aconteceu alguma coisa? Quando você fica assim parado, olhando para o nada, é que você tá pensando em alguma coisa. O que foi, hein? Conta pra mim. – Fez-lhe um carinho na barba para persuadi-lo a falar. Ramiro realmente estava com um ar preocupado, olhos vidrados no vazio.

Ao sentir o carinho do seu maridinho, porém, ele pareceu piscar pela primeira vez em muito tempo. Deu um longo suspiro, inspirando e expirando o ar profundamente e vagarosamente. Kelvin, claro, percebeu que algo realmente grave devia ter acontecido.

- Rams?... O que foi? – Ajeitou-se, sentando-se ao seu lado. Puxou o rosto dele suavemente, mas com ambas as mãos, fazendo Ramiro encarar seu olhar. – Ei... Tá me deixando preocupado. Fala comigo. Aconteceu alguma coisa que eu preciso saber?

Outra vez Ramiro respirou fundo e desviou o olhar. Não tinha coragem de encarar seu pequetito naquele momento. Mas, nada passava pelo olhar atento de Kelvin.

- Rams... Eu vou perguntar mais uma vez: o que tá acontecendo? Eu sou seu marido, não esconde nada de mim, por favor. Meu amor, se você está mal, eu fico mal também. E eu te conheço, nem adianta disfarçar. Ramiro... Eu sou a pessoa que mais te conhece e mais vai te conhecer nessa vida. Eu te amo, confia em mim e me conta o que tá te afligindo.

Ramiro o olhou mais uma vez. Para quê? Se perguntou. Para sentir ainda mais peso na consciência. Desviou novamente o olhar, o qual dessa vez foi carregado de lágrimas.

- Ramiro! O que houve? – Kelvin começou a se agitar. Se pôs de pé, impaciente e aflito, pediu: - Por favor, fala alguma coisa!

Pela terceira vez, Ramiro respirou fundo. Passou as mãos no rosto enxugando as próprias lágrimas e finalmente abriu a boca. Embora tenha titubeado em encontrar as palavras por uns segundos que pareceram uma eternidade, comentou:

- Kevín... Cê... Cê se lembra da... Da Munda?

- Munda? Quem é Munda? Quê... Espera!... Era aquela sua ex-noiva, né?

- É. Ela memo.

- O que tem ela? Por que lembrar desse pesadelo na sua vida agora? Espera, Rams... Não me diga que ela reapareceu pra te infernizar? Ah, não! Não deixei da primeira vez, agora que não deixo mesmo. Ora, o que ela tá pensando? Você é meu marido, uai! Ela que nem pense em chegar perto de você.

- Não, Kevín... Ela num chegou perto d'eu, não. – Ramiro continuava falando com a cabeça baixa e desviando o olhar.

- E o que foi que te deixou assim? E por que lembrar dessa... Dessa pessoa agora, hein?

Ramiro, pela quarta vez, respirou profundamente. Mesmo assim, parecia que o ar lhe faltava. Fechou os olhos e lágrimas escorreram sem que ele quisesse. Kelvin só conseguia se preocupar cada vez mais e entender cada vez menos.

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